Capitulo 10

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Estiquei a cabeça sobre os degraus até enxergar o que acontecia no deque. De repente havia na minha cabeça a hipótese de eu ter ficado louca, ou em coma, é talvez eu estivesse em coma em algum hospital do Rio de Janeiro, mas tudo parecia tão real. Ai como eu queria ir pra casa. Eu tinha quase certeza que a minha mente não era capaz de criar um homem tão perfeito fisicamente quanto Flynn, e nem um navio daquele. Suspirei, estreitando os olhos pra ver a cena, havia um outro navio ao lado do nosso, tão luxuoso quanto. Uma pequena passarela estava estendida entre os navios, dele saíram três homens com uniformes iguais vermelho e branco com botões dourados no peito e nas mangas ,com chapéus estranhos cheios de penas. Credo.

Os três pararam feito estátuas na beirada do navio ao lado da passarela, avistei Flynn com uma espada longa e afiada na mão direita, estava de costas para mim, Nyelle e os outros estavam um pouco mais atrás, não seguravam espadas mas estavam prontos para um ataque. Outro homem saiu do navio, quase perdi o foco com a visão, ele era uns três centímetros mais baixo que Flynn, pouco mais forte também, seus cabelos eram loiros quase ruivos, longos até pouco abaixo dos ombros em ondas rebeldes e cheias, os olhos eram cor de bronze quase dourados, parecia um arcanjo saindo das nuvens, sua barba era perfeitamente feita e cerrada, marcando o maxilar dele com perfeição, tinha lábios finos e bem desenhados. Pisquei algumas vezes para ter certeza de não estar imaginando aquilo tudo.

— Seja o que for, eu não vou resolver problema nenhum pra você — rosnou Flynn, antes mesmo que o homem dissesse alguma coisa.

Meus olhos saltaram até o navio de onde eles saíram e haviam o dobro de homens esperando para um massacre. Engoli em seco, um aperto no peito me alertou de que eu poderia morrer no meio disso tudo e eu me recusava a morrer por culpa do Bonitão encrenqueiro.

— Você já foi mais educado Hockman — disse o loiro franzindo a testa e contendo um breve sorriso sarcástico — Isso é jeito de receber velhos amigos?

Flynn soltou uma risada sem humor, o clima estava tão tenso que era palpável no ar.

— Você nunca foi um homem de amizades Ayslan — provocou Flynn.

Aquilo viraria uma guerra, a minha cabeça ia rolar e eu nunca mais voltaria pra casa, não se eu não intervisse. Arrumei o cabelo, ajeitei a roupa, endireitei a postura, tomei coragem... Era do que eu mais precisava, e não pensei duas vezes antes de subir ao deque. Os olhos de quem eu acreditava ser Ayslan caíram sobre mim no mesmo instante, me arrependi de ter dado as caras. O olhar dele era tão surpreso que quase esqueci como se anda.

— Espero não estar atrasada pra essa reunião calorosa — falei a fim de esquecer que estava morrendo de medo tanto de Flynn quanto de Ayslan.

Vi o corpo de Flynn ficar ainda mais rígido ao ouvir minha voz, ele não se virou, caminhei sob o olhar de Ayslan até parar ao lado Flynn. Não havia nada nos olhos dele embora sorrisse, parecia vazio por dentro, engoli o medo e sorri como se tudo que estivesse acontecendo ali fosse uma confraternização agradável. Ouvi a respiração longa de Flynn, eu estava frita mais tarde.

— Meu Deus Hockman, onde foi que encontrou essa beldade? — Ayslan com seus olhos vazios mas ainda assim surpresos agarrou minha mão me assustando, me rodopiou, senti seus olhos pelo meu corpo.

Soltei sua mão e corri para o lado de Flynn novamente, que em momento algum olhou pra mim, ao contrário de Ayslan que me olhava como se eu fosse um brinquedo muito divertido. Flynn ficou em silêncio, duro como uma estátua, havia tanto ódio nos olhos dele que estremeci. A tensão fazia minha cabeça doer de tão pesada.

— Quanto quer por ela? Eu pago a quantia que você quiser — os olhos fixos e frios de Ayslan estavam me deixando extremamente desconfortável e por alguns instantes tive raiva de mim mesma por ser tão curiosa.

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