Coral Roses

Um presente no dia do Amigo

Eu via um céu cheio de flores de todas as cores movimentando-se lentamente como em um sonho, vi os rostos de Kali e Car me encarando confusos. Minha cabeça estava doendo e não tinha forças para me mexer, talvez tenha caído de alguma forma e tive um sonho estranho com um mundo cheio de neve onde havia sido salva pelo Jack. Fechei os olhos novamente e desejei ficar em paz ao menos por um segundo, desejei que tudo aquilo não passasse de um sonho ruim e bom ao mesmo tempo, que meus pais estivessem sãos e salvo com Toby em casa, e que aquele fosse meu quarto quentinho e confortável.

— Você não está sonhando, Bonequinha.

Arregalei os olhos ao ouvir aquela voz suave e sínica. Então todas as lembranças do que havia acontecido a pouco invadiram minha mente. Jack estava de pé me olhando depois de nos salvar das criaturas que viviam naquele mundo, Kali correu para seu encontro e ao invés de abraçar o irmão, deu-lhe um soco no braço que o fez parar de me olhar para então encarar a irmã e resmungar alguma frase que não pude decifrar. Os dois gesticulavam como se estivessem tendo uma pequena discussão de irmãos, mas antes que eu pudesse me aproximar para entender melhor Car entrou na minha frente cobrindo meu campo de visão.

— Não podemos ficar parados aqui e expostos, algo pode acontecer... – ele sussurrou, parecia amedrontado e com frio, e lembrei-me novamente que ele detestava aquele lugar. Jack estava vindo em nossa direção, com um lindo sorriso nos lábios, ele parecia cansado, o cabelo estava um pouco maior e bagunçado, o platinado estava desbotado e tinha uma cicatriz atravessando sua bochecha direita passando por sua sobrancelha e indo até a testa. Parecia ser recente.

— Oi, bonequinha. – ele falou timidamente, inocentemente, e cautelosamente como se estivesse se desculpando por algo.

Kali abriu um sorrisão e ficou nos encarando, olhava para ele e depois para mim, senti minhas bochechas esquentarem e sabia que aquilo era ainda mais constrangedor diante toda aquela neve e frio. Antes que eu pudesse abrir minha boca para falar algo, sentia uma intensa dor de cabeça, um sussurro em meu ouvido, e então tudo ficou escuro. (Aos leitores, nesse momento ela despertou no farol onde aconteceu o capitulo "Paralelamente para os Leitores part II").

— Você não está sonhando, Bonequinha.

Levantei rapidamente e vi que estávamos dentro de uma casa bem pequena, a luz era fraca, e uma luminária meio infantil dava a sensação que estávamos em um lugar cercado por flores. A casa parecia ter apenas um cômodo, mas vi uma entrada escura que provavelmente dava para outra sala. Kali e Car me encaravam ainda meio confusos, mas logo começaram a conversar entre si, pareciam estar preocupados com outras coisas além de mim, então, atrás deles, em um canto meio afastado, Jack sorria gentilmente e fez um gesto com a mão para que eu me aproximasse.

Cambaleei até onde ele estava, minhas pernas por algum motivo estavam pesadas e minha respiração acelerada, talvez fosse o nervosismo de estar novamente perto dele. Agora, ali tão próximo, pude ver que algo estava muito diferente nele, apesar de ser aquele garoto debochado que sempre tirava minha paciência, ou sempre sorrindo de forma sedutora, agora ele parecia um pouco mais sombrio, era sútil, mas vi que estava ali por trás de seus olhos negros.

— Você está bem? – perguntei espontaneamente e um aperto sufocou meu peito, lembrei da sensação que é quando você quer saber notícias de alguém importante para você, ou alguém que você ama, de como é doloroso imaginar que aquela pessoa pode não estar bem e você não pode nem por um segundo estar ao lado para apoiar, era uma dor inimaginável, uma angustia constante quando imaginávamos o que poderia estar acontecendo e sem que pudéssemos estar juntos para apoiar. Era extremamente doloroso não poder estar do lado apoiando e dando força para alguém que você ama muito. Se você já sentiu todas as dores, aquela era uma, que sem sombra de dúvidas, deixava marcas.