O Gato Preto

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Toby finalmente estava acordando e o gato preto que me parecia muito familiar continuava deitado aconchegado sob a barriga de meu irmãozinho. Toby não assustou-se ao abrir os olhos e se deparar com o felino em cima dele, mas sim começou a acariciar o animal como se fossem velhos amigos.

- Você o deixou entrar? - perguntei levando em consideração que não havia outra forma do gato ter entrado dentro do quarto.

- Ele pediu pra entrar. - Toby respondeu e olhou em direção a janela indicando por onde o gato havia entrado.

Pensei um pouco sobre como era estranho aquele gatinho estranhamente familiar aparecer justamente na nossa janela. Me aproximei e tentei acariciar aquele pelo da cor da escuridão, mas o gatinho simplesmente se afastou do meu toque, caminhando por cima da cama como se fosse superior a tudo que estivesse ali e por um segundo pareceu me olhar com desprezo. Ele então deu a volta e deitou-se novamente próximo ao meu irmão.

- Gatinho preguiçoso. - falei.

- Você acha que podemos ficar com ele? - Toby perguntou e depois olhou para o gatinho que dormia suavemente como se já fosse um membro da família.

Pensei em falar "não" imediatamente, mas Toby passava a maior parte do tempo preso dentro daquela casa, e agora com esse mistério de crianças desaparecendo, não seria uma má ideia ele ter um amigo além da irmã mais velha que estava preocupada demais com tudo que estava acontecendo.

- Ele pode ficar. - falei. - Mas você vai cuidar dele, ele não parece gostar muito de mim.

Fui até a janela observar mais uma vez a movimentação da rua. Tudo estava calmo, a neblina parecia ainda mais densa, parecia um bairro fantasma e não havia nenhum sinal de que meus vizinhos e minha prima sinistra haviam voltado de seu passeio misterioso.

Novamente veio a imagem daquelas fotos em meus pensamentos, as crianças chorando, as fotos de Rowena e Rudy, a aparência infeliz dele, eu não podia me preocupar com aquilo, não era da minha conta se ele estava feliz ou não em um relacionamento que parecia apenas uma prisão, e definitivamente, não era da minha conta o futuro que os dois teriam, apesar de que lá no fundo do meu coração eu sabia que não existia amor, de nenhuma das duas partes, não passava de uma prisão de comodidade e de obrigações. Balancei minha cabeça tentando afastar meus pensamentos daqueles dois e então a imagem de Jack apareceu.

Jack.

Era estranho como naquele momento eu me sentia tão sozinha, era ainda mais estranho sentir isso pelo fato do Jack não ter mais aparecido para me incomodar e aquilo estava me incomodando. Aquele era outro pensamento que deveria ser evitado, mas era praticamente impossível já que lá no fundo algo me dizia que tudo estava errado e que Jack era importante pra mim. Sentir aquilo foi o mesmo que entrar dentro de um lago congelado e esperar a morte, mas se agarrar naquele sentimento era melhor do que voltar ao casal sem futuro que vivia ali.

Eles não voltaram e estava ficando difícil esperar todo aquele tempo. Toby já estava dormindo novamente, tia Mikaella também já havia ido dormir, e mesmo não me sentindo cansada, nem como sono, deitei-me ao lado de Toby e fechei os olhos, mas algo parecia me observar e lembrei que o gato preto também estava dentro do quarto. Abri os olhos em busca do gato e o encontrei ainda dormindo no mesmo lugar. Então fechei meus olhos novamente.

Eu tinha certeza que estava acordada, tinha certeza que estava no meu quarto, na minha cama e tinha certeza que ainda era noite. Mas algo estava diferente, uma corrente de vento frio fez todo meu corpo estremecer e então abri os olhos.

Não era minha cama. E não era meu quarto.

Eu estava no meio da floresta deitada no chão. A noite estava ainda mais escura que o normal e o vento era frio como gelo. Aquilo só poderia ser um sonho, mas tudo estava nítido. Como fui parar ali?

Coral RosesWhere stories live. Discover now