O Carvalho

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Levantei e limpei minha capa amarela que estava suja de terra, a noite ainda reinava ao meu redor, mas tudo estava muito silencioso, imaginei se a festa de Rowena ainda estava acontecendo e não queria passar por ali naquele momento, não agora que conseguia lembrar de tudo, ou quase tudo. Ainda não conseguia lembrar de onde conhecia Jack, apesar de saber que já o conheço de algum lugar e que ele tem importância pra mim. Me lembro de todas as coisas antes do manicômio, da armadilha da Dra. Elza, e aquilo me fez tremer. 

Eu estava sozinha e não sabia o que fazer, não sabia em quem poderia confiar. Balt e as Amanda's eram meus melhores amigos no passado, mas agora não sabia de qual lado eles estavam, minha tia Mikaella aparentava ser uma boa pessoa, mas agora lembrando de tudo eu não sabia se ela estava em sã consciência, Rowena era o braço direito do monstro, e começava me perguntar se ela própria não era pior ainda que Dra. Elza.  

De qualquer forma, era apenas eu e meu irmão, eu não poderia fazer alvoroço sobre isso, não poderia arriscar expôr minhas lembranças levando em consideração que estava sozinha nessa. Antes precisava encontrar Jack, ele era a única variável que poderia mudar tudo. Resolvi entrar mais fundo na floresta, onde havia o poço e a árvore antiga. Agora as lembranças estavam mais claras, havia uma árvore antiga com uma porta antiga. A porta que levava para o Outro mundo. 

Comecei a caminhar na direção oposta a festa de Rowena, sabia que se caminhasse o tempo todo em linha reta chegaria ao meu destino. Longe de tudo e de todos, longe de qualquer plano maligno que estavam tramando contra mim ou contra as crianças da cidade, mas, muito mais perto de acabar com tudo aquilo. Não desistiria de salvar as pessoas que eram importantes para mim, e com certeza não me deixaria abalar por qualquer lembrança do passado que surgisse. Rudy ainda estava em meus pensamentos, ainda estava processando todas as lembranças que voltaram como uma tempestade em minha mente.

Era difícil aceitar o fato de que Rudy tinha apenas me usado para algo que ele precisava, eu não era importante pra ele, nunca fui, não a minha pessoa, não a minha amizade, mas sim a minha disponibilidade em estar disposta a me sacrificar para algo que o beneficiaria, era muito difícil engolir aquilo, chegava a arder meu estômago ao lembrar, um nó começava se formar em minha garganta e meus olhos começavam a lacrimejar, sabia que existia um milhão de coisas mais importantes naquele momento do que meu súbito discernimento sobre Rudy nunca ter gostado realmente da minha amizade e sim, o gostava quando era conveniente apenas para ele, mas era algo que doía, e doía bastante. 

O caminho ficava cada vez mais claro, o sol começava a nascer e pensei seriamente em dar a volta e desistir daquela ideia, mas algo chamou minha atenção logo a frente e percebi que havia chegado ao meu destino. Uma luz dourada e brilhante cercava todo o espaço em que uma enorme árvore repousava, não era como me recordava, definitivamente não era a imagem que estava em minhas recentes lembranças. 

A árvore era assustadoramente linda, como nunca havia visto em lugar algum, era enorme, monstruosa, com seus galhos que pareciam uma enorme mão com vários dedos de tamanhos variados que repousavam delicadamente no chão. Na realidade me lembrou bastante um sistema circulatório e isso me fez lembrar também as garras daquela mulher que em outro fez todas essas coisas ruins acontecerem. Logo abaixo da árvore estava o poço, com sua velha aparência sombria, combinando exatamente com aquele lugar. Me aproximei lentamente, aquele lugar provavelmente era um dos mais perigosos que existiam no mundo. 

A porta cravada na árvore era diferente da minha lembrança, essa era mais bonita e ao mesmo tempo mais assustadora, era preta, com uma grande fechadura e marcas de garras que davam ainda mais o alerta de perigo iminente, aquela não era a porta que atraia crianças inocentes para um mundo perfeito cheio de diversão e sem regras. Percorri meus dedos ao longo das marcas de garras, lembrando sutilmente das mãos que tentaram me agarrar no passado. Por um segundo parecia que aquela árvore monstruosa se inclinava sobre mim, e apesar de já estar amanhecendo, naquele momento parecia estar escurecendo. 

Coral RosesWhere stories live. Discover now