Um pequeno aviso

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A manhã estava ensolarada como a muito tempo não havia visto. Resolvi deitar na grama verde na frente da casa, enquanto Toby brincava ao meu lado. O dia estava maravilhoso e era o último antes de voltar pra escola. Estaria agora no ensino médio e mal se lembrava dos 4 anos passados. Estava frio, mas a luz do sol aquecia levemente minha pele que era extremamente pálida, fechei os olhos e recebi aquele calor divino. Senti um sopro em meu ouvido o que me fez abrir os olhos subitamente e me deparei com um céu assustadoramente escuro. As nuvens eram pesadas e cinzas, um vento forte soprava por todos os cantos. O que estava acontecendo? Segundos atrás o céu estava azul e ensolarado, como ficou assim tão rápido?

— Toby, vamos... – ele não estava mais ali. Olhei ao redor, o tempo estava muito sombrio, nunca havia visto daquele jeito. Levantei pra entrar na casa antes que começasse a tempestade repentina, mas antes que pudesse entrar algo me chamou a atenção, olhei e vi Toby correndo em direção a floresta.

— TOOOOOBY!!! – gritei, mas ele não ouviu e adentrou a floresta. Corri para conseguir alcança-lo, mas não consegui. A floresta estava mais escura do que nunca e uma névoa densa pairava sob o chão.

— Toooooby!!! – chamei mais uma vez e ninguém respondeu. Queria ficar calma e não pensar em nada de ruim, mas era difícil, sempre acontecia algo de ruim comigo ou com minha família e também tinha o poço, com aquela névoa não tinha como enxergar o chão. Fui o mais rápido possível pelo caminho que, na minha cabeça, era o certo. E então cheguei ao local do poço, Toby estava de costas para mim, abaixado, como se olhasse algo lá dentro.

— Toby? – falei, reduzindo os passos, tudo ali estava estranhamente assustador. Ele não respondeu, não se mexeu, apenas soltou um gemino bizarro. Seus ombros se mexiam como se ele estivesse sorrindo, ou zoando com minha cara. Dei um passo à frente e uma mão segurou meu ombro me fazendo voltar pra trás. Era o garoto de cabelo platinado.

— Jack! O que você está fazendo aqui? – novamente. Ele estava na floresta em uma hora oportuna. Porém, a expressão em seu rosto era séria.

— Não se aproxima dele. – ele falou, estava sombrio e não tirava os olhos de Toby.

— O que você tá falando? – tirei as mãos dele de mim. – Ele é meu irmão.

Dei mais um passo e novamente Jack me fez voltar pra atrás, mas dessa vez ele não deixou que me soltasse.

— Fica quieta, não se mexa. – ele me abraçou de uma forma que não podia me mexer. – Ei, garoto.

Toby se mexeu como só agora percebesse que tinha alguém atrás dele. Vagarosamente Toby foi se virando, sem ficar em pé. Quando estava quase totalmente virado, pude ver o horror que estava a minha frente. Toby não tinha mais olhos, apenas enormes buracos escuros em seu rosto, sua boca estava com um sorriso assustador e lambuzada de sangue, só então percebi o que ele segurava nas mãos. Era o braço de bebê recém-nascido.

— Você quer um pedaço? – ele falou e depois deu uma grande mordida no braço.

— AAAHHHHHHHHHH!!! – comecei a gritar histericamente e então uma luz muito forte ofuscou os meus olhos.

Pisquei os olhos várias vezes até me adaptar a luz forte que os ofuscava, o sol estava sob meus olhos e o céu ao redor era azul límpido.

— Olá. – a voz me fez saltar para o lado, assustada sem perceber ainda o que estava acontecendo. – Calma ai, boneca. Você estava tendo um pesadelo muito louco.

Jack estava parado na minha frente, as mãos dentro dos bolsos, dessa vez ele estava com uma calça de malhação preta e uma camisa preta com pequenas listras brancas. Os cabelos dele estavam bagunçados lhe dando um ar ainda mais sexy do que antes.

— Cadê meu irmão? – falei, atordoada tentando levantar.

— É aquele garotinho ali? – ele apontou atrás de mim. Toby estava deitado na grama, com o dedo na boca como se fosse um bebê. — Ele está dormindo, mas diferente de você, não estava tendo pesadelos.

Levantei, cruzei os braços e encarei aquele garoto que parecia estar me perseguindo.

— Você está me perseguindo?

— Talvez. – ele deu aquele sorriso provocador que derreteria qualquer um, mas em mim causava irritação.

— Vi você voltando pra floresta naquele outro dia, você é algum tipo de louco?

Jack se aproximou de mim, chegou tão perto que seus olhos ficaram pareados aos meus, olhos tão negros que pareciam abismos. Dessa vez me senti intimidada com sua aproximação, pude sentir sua respiração suave em meu rosto. O sorriso nos lábios dele era misterioso.

— Descubra. – foi a única palavra que ele falou.

De repente ele ficou sério e olhando para os lados como se tivesse visto alguma coisa. De certa forma esse garoto não era de todo ruim, e incrivelmente foi o primeiro desconhecido que me apareceu depois que voltei pra casa, e já estava presente até em meus sonhos. Poderia até pensar na possibilidade de uma amizade, mas isso ainda estava cogitando.

— De certa forma, só vim lhe falar pra não entrar na floresta hoje. – ele falou repentinamente.

— O que?

— Tem alguma coisa estranha acontecendo lá. – ele falou olhando pra floresta de uma forma misteriosa e preocupada.

— Como assim? – ele estava diferente do que já havia visto dele. — Jack? Me fala!

— É melhor eu ir. – Jack falou e deu um sorriso super sarcástico.

— Você não quer entrar? Tomar um suco? – não acreditei no que acabei de falar, mas realmente queria que ele falasse mais, ele não poderia falar algo enigmático e ir embora sem me dar respostas.

— Tentador. – ele colocou as mãos nos bolsos. – Mas, sabe o garoto daquela casa. – ele fez um gesto com a cabeça pontando pra casa da Dra. Elza. – Ele não vai muito com minha cara, e não que eu tenha medo ou algo assim, mas eu e ele fizemos um acordo.

O garoto daquela casa. Era meu ex melhor amigo, lembrava levemente dele, minha cabeça continuava confusa quanto ao passado, mas lembrava de três coisas, ele era o namorado da minha prima Rowena, se chamava Rudy, e de alguma forma, ele havia traído minha confiança. Não sabia como, mas ele havia me traído, tinha aquele sentimento de angustia, tristeza e raiva quando pensava sobre ele.

— Porque ele não gosta de você?

— Porquê sou babaca. E ele é babaca. E por causa da namorada dele também.

— O que é que tem a Rowena?

— Ela é sua prima, né. – ele falou aquilo como se já soubesse de tudo sobre mim. – Ela não engana ninguém. Aliás, ela não me engana.

— Sobre o que você tá falando? – não estava entendendo nada, e ele parecia querer me deixar confusa porque começou a sorrir com minhas perguntas e simplesmente começou a caminhar me deixando falando sozinha.

— Não vá pra floresta hoje, boneca. Já está avisada. Vejo você por ai. – ele deu um sorriso maravilhoso e saiu, mas dessa vez ele não foi pra floresta, seguiu direto pela rua que levava para o centro da cidade.

Toby continuava dormindo na grama, consegui levantá-lo sem que ele acordasse e caminhei em direção a casa, antes de subir na varanda, ouvi um carro parando e me virei para olhar. Um carro preto estava parado e duas pessoas saíram de dentro. Duas garotas. Uma era baixa e um pouco gordinha a outra era alta e magra, tinham cabelos lisos e loiros. O que mais chamou minha atenção foi a forma que estavam vestidas, igualmente, saia preta e blusa branca de botão, saltos agulha preto, e por último, chapéu preto, parecia uma espécie e uniforme e também pareciam estar fantasiadas de bruxas elegantes e poderosas. Andaram imponentes em minha direção, as expressões no rosto delas eram de firmeza, isso até elas se aproximarem e darem um sorriso que me pareceu gentil.

— Olá. – as duas falaram ao mesmo tempo. — Meu nome é Amanda.

Estava diante de duas garotas extremamente lindas e que tinham o mesmo nome e que me olhavam como se me conhecessem a vida toda. Mas era isso, eu as conhecia, só não conseguia lembrar agora, como não conseguia lembrar de quase nada, mas podia sentir lá no fundo, como se fosse em uma vida passada, aquelas garotas já foram minhas melhores amigas. 

Coral RosesWhere stories live. Discover now