30 - Você não tem roupa decente em casa não?

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HENRIQUE

Assim que fiquei sozinho no apartamento, me permiti chorar como se não houvesse amanhã. Estava revoltado comigo mesmo por sentir tudo que estava sentindo. Levantei furioso, fui à cozinha, peguei alguns copos de vidro de queijão e arremessei contra a parede.

Parecia um louco, mas precisava colocar tudo aquilo para fora de alguma forma. Antes quebrando copos do que transando com uma desconhecida para aliviar a mente, certo? Não que dispense sexo casual, muito pelo contrário, mas quando é para liberar a raiva, torna-se algo nada saudável.

Depois de cinco copos, ouço a porta batendo e meu coração acelera. Que inferno, será que Lázaro ouviu meu surto? É bom que ele não tente me impedir, senão o próximo copo vai ser jogado em sua direção.

- Que porra está acontecendo aqui? - Pergunta Amora, entrando no apartamento. Ela estava vestida com uma camisola rendada. Porra cara, precisava disso?

- Você não tem roupa descente em casa não? - Pergunto, desviando o olhar.

- Eu estava dormindo, seu babaca - revira os olhos - o que está acontecendo aqui?

Ela dá passos cuidadosos em direção a sala, com medo de cortar o pé em algum caco de vidro.

- Precisava extravasar a raiva - dou de ombros e puxo um cigarro mentolado do bolso.

- E precisava disso tudo?

- Precisava - respondo, acendendo o cigarro, evitando cruzar nossos olhares.

- Nossa, então tá - levanta e anda novamente à porta - não lembrava de ser tão babaca assim.

Viro em sua direção, sopro a fumaça e arqueio a sobrancelha.

- As pessoas mudam, né? - olho para o teto e respiro fundo - Amora, eu não estou legal. Não é um bom momento. Desculpa, mas não estou bem para suas provocações agora.

- Eu não vim te provocar, Henrique. Apenas vim ver se estava acontecendo alguma coisa, né? Do nada ouço tudo quebrando no apartamento que meu pai está morando... Fiquei assustada, ué. E principalmente se levando em consideração o estilo de vida que ele está optando, nunca se sabe quando é um corno furioso se vingando por conta dos chifres.

Tento segurar a risada, mas não consigo.

- Eu senti sua falta. Pra caralho.

Ela me encara, em silêncio. Até abre a boca para falar algo, mas muda de ideia e vai andando até a porta. Antes de sair, se vira e diz:

- Não, Henrique. Você não tem o direito de falar que sentiu a minha falta. Porra, vai se fuder - Vem andando rapidamente em minha direção e começa a socar minha barriga - você me deixou aqui, nem se despediu! Você é um cuzão do caralho - tento segurar seus braços, mas ela estava empenhada em me agredir - você tem ideia de como sofri por você? - continua me batendo.

Finalmente consigo segurar seus braços e encaro seu rosto, que agora está vermelho.

- Calma, Amora!

Ela desvencilha-se bruscamente dos meus braços, sorri amargamente e passa a mão no rosto.

- Calma? Como ficar calma? Você reaparece na minha vida como um fantasma e ainda traz aquela mascotinha pra foder o meu relacionamento!

- Não fale assim da Daniele. Pode ficar tranquilo, nós estamos... - engulo em seco, só de ouvir aquilo um certo nojo me alcançava. Respiro fundo e concluo - nos envolvendo - minto, e forço um sorriso psicótico.

Ela me encara enfurecida, sem conseguir esconder a raiva que minha afirmação havia lhe causado. Mas antes que pudesse falar alguma coisa, corpo sua linha de raciocínio.

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