❦DESTINO INCERTO❦

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•˙Cassidy Parker ˙•

Dia desconhecido

Lugar desconhecido

Tropeço em meus próprios pés mas ainda assim consigo me manter de pé, tento me cobrir mais com o finíssimo casaco rasgado para, de alguma forma, me aquecer. E mesmo fraca levanto de leve minha cabeça, o suficiente para ver a bela vista ao horizonte, as folhas das árvores congeladas e a terra forrada com a fina camada branca. Não havia pássaros e nem qualquer outro animal sobrevoando a vasta floresta na qual eu tinha acabado de sair. O sol mal saíra de seu esconderijo e já retornara, me entristecendo. Me sentia cansada... Cansada de andar, de me manter em pé, cansada de respirar e de tentar sobreviver. Afinal eu não fazia a menor idéia do porquê estava lutando, nada me aguardava e estava sem motivos para isso. Ao ver um carro preto passar ao meu lado, roubando minha atenção me alarmo e meu corpo estremece, mas ele foi em linha reta e eu agradeci por isso.

Sento-me no chão encostada à um tronco, derrotada e  por algum motivo tento pentear os fios de meu cabelo longo. Mas alguns fios não permitiram por estarem cobertos de gelo.

Envolvo os braços em minhas pernas frias, as apertando, encaixando a cabeça entre elas e tremendo incessantemente por conta da geada e do vento gélido e pela pouca roupa em que meu corpo está submetido, reúno forças o suficiente para me erguer e caminhar até algum lugar mais aquecido, sendo impossível achá-lo. De longe algo reflete em meu rosto, eu procuro e encontro uma placa e nela escrita: Rodoviária. Relaxo os ombros como um alivio, acho que alguém lá em cima quer que eu viva. Abro a mochila preta e apanho o pequeno envelope amarelado com pouquíssima quantidade de dinheiro mas suficiente, contudo tento lentamente andar até aquele lugar.

Após várias paradas – por conta das minhas pernas, em determinados momentos, fraquejarem – , adentro a pequena rodoviária, o aroma preenchido pelo cheiro de gasolina dos ônibus e minha pequena vantagem, o silêncio, sendo estragado por pessoas falando ao mesmo tempo, sobre tudo. Caminho em direção a cabine azul de bilhetes onde uma mulher de meia idade tranquilamente contava dinheiro. Seu olhar sobe até meu reflexo no vidro que nos separava e o semblante muda para de atenção e susto, a primeira reação foi rapidamente esconder o dinheiro.

– B-boa tarde senhora, n-não se acanhe. – Meus lábios tremem ao ponto de influenciar em cada frase dita, causando o gaguejamento.

– Conheço várias como você, prefiro previnir. – Os fundos olhos castanhos da senhora me olham atentamente de cima a baixo, condenando-me. Posso até entendê-la, o modo como estou vestida não é dos melhores bem como meu cheiro.

– Eu necessito de uma passagem, para qualquer lugar que tiver para hoje. Por favor. – Imploro tão desesperada que parecia estar sendo perseguida pela máfia mas a mulher pouco se importa.

– Está fechado. Não aprendeu a ler na escola? – Rosnou.

Cerro os punhos tão fortemente que pude sentir os dedos em conjunto estralarem, tento controlar a raiva por milésimos segundos, viro de costas para a senhora respirando três vezes, o que não adianta porque me volto novamente em direção da cabine socando a mesa de metal fazendo com que a senhora desse um pulo da cadeira e me olhasse feio.

– Olha aqui sua velha rabugenta, estou lhe pedindo a merda de uma passagem para qualquer porra de lugar que seja. – Berro chamando-lhe a atenção e a das poucas pessoas sentadas no local. – Se a senhora quer saber, eu tenho dinheiro e vou pagar. Então se quer trabalhar mexa essa mão enrugada e procure algum lugar livre no ônibus. Estou lhe implorando por isso. – Trovejo sabendo que meu rosto está terrivelmente vermelho de raiva.

Pigarreia, mexendo sem muita pressa no mouse.

– Temos uma passagem para Houston, Texas. Sairá às quatro da tarde.

Chamas SedutorasWhere stories live. Discover now