❦AZUL ACINZENTADO❦

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Olho ao redor procurando Gen, ela me disse que estaria aqui. Talvez ela tenha esquecido, afinal não é uma obrigação sua almoçar comigo. Vou rumo ao elevador. Um braço se entrelaça no meu e sinto cheiro de morango, não precisava olhar para saber quem era.

– Pirou em ir almoçar sem mim, menina? Eu não esqueci, meu chefe me encheu de papéis para verificar.

Rio de leve.

Escolhemos um restaurante perto daqui que dava para ir andando mesmo. O caminho todo, Gen foi tagarelando assuntos aleatórios. Eu apenas opinava de vez em quando, mas tentava apenas acompanha-lá, pois não durava cinco minutos em um assunto só.
Agora estamos sentadas uma de frente para outra, concentradas apenas na deliciosa comida que nos foi servida. Pedi um apetitoso macarrão ao molho de camarão. Gen ficou apenas com uma salada simples e frango grelhado.

– Gen? – Ela me encara esperando eu falar. – Você sabia que eu não era só secretária dele, não é?

Ela hesita e, sinceramente, eu já havia entendido.

– Sim. O senhor Migliaccio conversou comigo ontem.

Respiro fundo assentindo. É óbvio que ela nunca conversaria comigo por vontade própria. De certa forma sou esquisita e pude provar isso apenas com o surto que tive mais cedo, ela tem milhões de motivos para não querer minha amizade. Afinal, quem iria querer uma doida como amiga, são muitos problemas envolvidos e posso surtar a qualquer segundo do dia. Não faço a menor ideia de como Brooke e Mindy me suportam, talvez seja só a afinidade de anos que nos mantém unida.
Eu não devia pensar que elas me tem como um peso em suas vidas, mas é impossível considerando a dificuldade de cuidar de mim. E o pior, elas não deveriam cuidar de mim. Tenho vinte e um anos e sou cuidada por adultas atarefadas que nem elas. Uma onda de vergonha passa pelo meu corpo. E provavelmente minhas bochechas devem estar vermelhas agora, pois Genevieve está com o olhar fixado no meu rosto. Desvio o olhar e encaro minha comida.

– Olha você não precisa fazer isso, tá? Eu posso me virar sozinha. Talvez eu assine um curso, mas por favor não faça nada por obrigação comigo. Por favor. – Levanto e deixo o dinheiro da comida na mesa.

– Cassie... espera...

Saio andando e volto para a empresa ignorando completamente ela me chamar.

Me jogo na cadeira e remexo aquele monte de papéis evitando desviar o olhar para não encarar aquelas paredes. Desfoco apenas quando uma batida à porta me chama a atenção. Genevieve adentra a sala, devagar e com as mãos para trás.

– Eu vim te fazer uma surpresa.– Diz de cabeça baixa. – Não queria que você pensasse que conversei com você só porque o senhor Migliaccio pediu. Gostei da sua áurea desde a primeira vez que te vi. Sinto muito. – Ela leva aos mãos a frente do corpo e uma lata de tinta estava em suas mãos. – Uma oferta de paz.

– O que pretende com isso?

– Pode me esperar quando terminar o trabalho? – Pergunta baixo, receosa.

A olho brincalhona e por fim sorrio.

– Posso.

Gen corre e me abraça pelo pescoço.

– Estou tão ansiosa, acho que nem vou conseguir trabalhar direito.

– Gen? – Digo com dificuldade. – Está me sufocando.

– Ah, sinto muito. Mas eu estou tão feliz.

De certo modo ela me lembra Melinda. O jeito doce e meigo, com uma pitada de super amor envolvido. Talvez a gente se dê bem. Eu estava ansiosa tanto quanto Gen, gosto dela e ela me passa um sentimento de casa e acolhimento. Uma coisa nostálgica, outra pessoa a minha volta que me sinto protegida. Surtei mais cedo... por medo. Mas sabia no fundo que ela não era esse tipo de pessoa. Todo resto do meu trabalho foi chato, cansativo e um pouco entediante. O tempo passa e eu não tinha nada para entregar de importante. E Thristan nem sequer deu as caras depois daquele perrengue de mais cedo.

Chamas SedutorasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora