❦O RECOMEÇO❦

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•˙Cassidy Parker ˙•

Encolho meu corpo na estreita e nada confortável poltrona azul. Meus olhos pesam de tanto cansaço, mas nada de dormir pelo fato de eu estar sentada à frente de um banheiro com um cheiro incrivelmente desagradável e da velha senhora acomodada ao meu lado roncando. Tudo colaborando para o corte do descanso indispensável que meu corpo necessita. Quando finalmente as pálpebras se fecham pude relaxar e me permitir descansar, sem temer o que virá em seguida.

Uma buzina terrivelmente alta...

Uma não, várias, me despertam no susto. Os olhos pesados mas a curiosidade à alerta.

Aprecio o centro da cidade de Houston, com emoção. Os grandes edifícios espelhados ainda apagados por ser cedo, o trânsito de carros à direita e a enorme proporção das pessoas na calçada, indo e vindo sem parar. Entrelaço os dedos um nos outros e levanto a cabeça, agradecendo e comemorando. Arrumo a postura, encantada com cada ponto da cidade, o ônibus faz a curva entrando em uma das milhares de ruas. Em poucos minutos estacionamos ao lado de variados ônibus, aguardo com paciência a saída das pessoas.

Levanto da cadeira após a saída da mulher acomodada à minha direita, estico o braço tirando do compartimento acima de mim, uma bolsa-carteiro verde musgo que Lilian, a senhora da rodoviária, havia me dado. Além da bolsa, tinha me dado um celular pré-pago e roupas, que segundo ela, seriam de sua neta. Caminho em passos moderados por entre a pequena quantia de pessoas, procurando a saída. Passo em frente de uma banca acinzentada, assim como quase todo local, vendo uma mapa da cidade, por sessenta e cinco centavos, o que eu não tinha.

Paro observando uma das revistas, notando a distração do moço ao se agachar, apanho o mapa o enfiando na bolsa ainda mantendo a serenidade no olhar.

– Com licença?

– Sim?

– Você não teria nenhuma revista com fofoca de famosos?  – Prendo sua atenção questionando e mantendo o contato olho a olho.

– Infelizmente não moça, havia uma. Acredito que acabaram de comprar. – Assinto.

– Ah, certo. Que pena, precisava de uma distração até minha carona chegar. Mas obrigada mesmo assim. – Finjo decepção e devolvo a revista sobre assuntos diversos, saindo sem pressa da banca.

Deixo a rodoviária andando pouco, e me acomodo em um banco de cimento, abrindo o mapa. Localizo a biblioteca Freed-Montrose Neighborhood, meu destino, estou bem longe de lá. Rodopio o olhar a tudo ao meu redor, e logo pude sentir uma lâmpada surgir sob minha cabeça. Um restaurante/bar aparentemente velho e com pouquíssima clientela. Caminho em passo rápido sentido o vento pouco gélido em meu corpo, e o sol gelado iluminando cada local. Apoio a bolsa na lateral da parede vermelha e então prendo o cabelo num coque alto, arrumando minha aparência. Um carro se aproxima e me preparo para o plano perfeito.

– Boa tarde senhor, quer que eu estacione? – Abordo de modo simpática. Os olhos pretos nojentos encaravam firmemente meus seios, depois de eu ter amarrado a blusa de forma que os ressaltassem. Eu estou me odiando tanto neste momento.

– Por favor, coisa linda. – Seguro minhas pupilas o máximo que posso para que elas não revirem e meu plano morra.

As mãos grandes e asquerosas se esticam com a chave em minha direção. Apanho a mesma estremecendo quando os dedos cercados de cicatrizes raspam com uma certa força em mim. O homem arruma o colete azul envelhecido com variados rasgos espalhados por todo ele, abaixo uma blusa branca pouco suja com a frase: "Se esfregue em mim, gata". Sinto a ansia de vomito subir até minha goela e então engulo para evitar confusão. Dou as costas sem pressa, adentro o carro antigo vermelho. Uma batida ao vidro faz com que eu me arrepie, abro-o vendo o nojento cara me encarando. Seu dedo encosta no meu rosto e escorrega até o meio dos meus seios, estacionando-o ali.

Chamas SedutorasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora