IV - Cadu

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Ouço baterem na grade da sala e fazer aquele barulho insuportável, me sento na cama e encaro o paçoca do meu lado, ela de ombros e Sussurrou um "E contigo parceiro, tu tô limpo".

Reviros os olhos e encaro o guardinha filha da puta que olhava pro lado sem fazer nada, deve ser umas sete da manhã cedo pra caralho e essa porra me acordando.

Ele se vira e me encara abrindo a cela, já entendo o recado e desço da beliche, indo em direção a porta da grade, viro de costas e ele me algema, pude ver que o Paçoca me olhava assustado.

Ele me empurra e tranca a porta da cela enquanto outro guarda me carregava pelo corredor, e eu tava sem entender nada.

— Ae po tá me levando pra onde caralho?

Verme: Psicóloga, cala a boca — Respiro fundo, já deixei claro que não quero fazer essa porra, paro em frente a uma porta branca, ele abre e eu entro naquela merda, ele me algema na cadeira de uma forma que eu não consigo sair daquele caralho, muito menos alcançar a pessoa que se sentasse na cadeira a minha frente.

Ele sai da sala me deixando sozinho ali, respiro fundo, então é isso? Ficar parado aqui por uma hora olhando para a parede.

Alguns minutos depois entra uma mulher, ela usava o macacão da prisão e carregava uma pasta em sua mão, e na outra estava com um copo de café.

Parecia ser até bonitinha mais não dava pra ver o rosto dela direito ela tava de costas.

Ela coloca a pasta sobre uma mesinha que estava ali e bebe o café se virando e tomando um susto, porra e essa eu não sou feio não tio, tiração.

Moça: Porra! — Ela leva a mão ao peito e caminha até a porta abrindo a mesma — Porque não avisou que já iria ter um paciente na sala? — Ela reclama com um cana que dá de ombros e ela respira fundo fechando a porta e pegando a pasta de novo se sentando na minha frente.

Eu conheço essa mina, tenho certeza que conheço. Paro por um segundo assim que escuto a voz dela.

Lívia: Bom dia — Caralho, era ela mermo po ali na minha frente, Lívia tava frente a frente comigo depois de nove anos, ela abre a pasta e eu me preparo para o susto dela assim que ver meu nome nos bagulho.

Caralho ela mudou pra caralho po, tá mais madura mais isso já era de se esperar, deve ta com o que agora? Uns vinte e sete anos?

Aí papo, o pai dela não deve saber né? O cara é maluco vai fazer de tudo pra me tirar de perto dela.

Lívia: Carlos Eduardo Santana? — Ela fica branca olha mais algumas vezes para a folha e folia as páginas sem acreditar — Não pode ser — Continuo em silêncio.

Eu me lembro bem como foi a nossa última conversa, e me lembro exatamente de qual foi a última frase dela.

Nove anos atrás

Lívia: Você ficando louco? — Entra no meu barraco batendo forte a porta, respiro fundo o pai dela fez fuxico.

— E a educação Lívia? Porra qual foi em?

Lívia: me diz que é mentira — Olho pra cara dela por um tempo, eu não vou mentir, não pra ela, Lívia e especial pra caralho ligado, não vou vacilar não po.

— Depende, qual o papo? falando do que, toda neurótica no bagulho?

Lívia: Não se finge de sonso Carlos, tu tentando entrar pra essa porra? Acha legal morrer em uma invasão com um tiro na testa e sair na TV como bandido?

Então é sobre isso po — Faço pouco caso jogando a bituca do cigarro no chão, ela fica irritada e passa a mão no cabelo.

Lívia: Você não pode po, Cadu basta o Guilherme você também não — Ela se aproxima e eu me afasto, vendo as lágrimas prontas no rosto dela, emotiva pra caralho.

— E verdade po, eu vou entrar — Ela balança a cabeça em negação — E você não vai me fazer mudar de ideia Lívia — Agora sim ela começa a chorar de verdade, o rosto vermelho, e ela passa a mão no rosto, eu me aproximo querendo passar a mão no rosto dela mais ela se afasta, Ih nem entendendo.

Lívia: Porque Carlos? Porque? — Lívia não sabe da minha família, nunca soube o único que sabe e o Gui, durante muito tempo ela achou que a gente era irmãos, e se acha até hoje.

A verdade é que eu nunca tive coragem de falar isso pra ela nem pra ninguém, a mãe do Gui foi minha mãe durante todo esse tempo.

Lívia: E por causa do dinheiro que isso da? E isso? Por causa da ganância? Cadu dinheiro que vem fácil vai embora fácil do mermo jeito po, e na maioria das vezes leva tua vida junto — Ela se aproxima , falando bipolar do caralho — Esquece isso, foca no seu futuro, você acabou o ensino médio agora, se precisar de ajuda com alguma faculdade eu te ajudo — Ela coloca as duas mãos no meu rosto — Não faz isso com a sua vida, olha pro meu pai, pra minha mãe tudo foragido, não podendo sair desse morro, podendo morrer em qualquer invasão, e isso que você quer?

Não Jogadora não é isso que eu quero,mais o Renan foi embora com tudo que a gente tinha, não quero ver meu irmão passando fome, e os outros dois precisam de assistência na cadeia.

Respiro fundo acendendo outro baseado, e ela grita, literalmente ela um grito e eu encaro ela feião.

Lívia: Se você escolher a porra desse caminho Carlos pode esquecer que eu existo — Ela diz e me encara uma última vez saindo da minha casa e batendo a porta, respiro fundo e começo a tragar o cigarro.

*Não se esqueça do seu fav e do seu comentário.

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