VI - Cadu/Lívia

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Me jogam na cela de qualquer jeito e eu respiro fundo me controlando pra não mandar todo mundo ir tomar no cu.

Paçoca: E ai qual foi? — Reviro os olhos subindo na beliche, hoje não tem banho de sol, vai ser o dia todo aqui dentro.

— Psicóloga po — Digo foliando o livro, eu nunca gostei de ler papo reto, eu só lia esses bagulho pra passar mais tempo com a Lívia.

A gente subia pra Lage da tia Ju e sentava lá ela deitava com a cabeça no meu colo e ficava lendo, e eu só prestando atenção nela, a garota mexia comigo de um jeito que vou te falar mermão, ficava até sem jeito perto dela.

Ver ela hoje trouxe um bagulho estranho no peito saco, mais também tô ligado que o rd vai brecar qualquer tipo de contato que eu tiver com ela, o cara e neurótico, e a mesma frase que ela me falou saiu da boca dele também.

"Se tu entrar nesse caralho e bom esquecer minha filha, a vida não é um pote de maionese".

Paçoca: Minha consulta com ela e amanhã — Ele diz enrolando o baseado — Aí é gostosinha? — Encaro ele feio — O que? A outra era.

— Se é ou não, não é pro teu bico sacou — Ele me encara por um tempo fazendo uma careta e começo a ler o livro.

Paçoca: Quer me contar algo Cadu?

— Não, relaxa a popota aí caralho — Encaro ele que se levanta.

Paçoca: O que rolou lá? — Respiro fundo.

— E só uma amiga — Ele ri e eu encaro ele sério.

Paçoca: Cadu eu tenho 35 anos, nunca é só amizade — Ele se senta de novo olhando os verme passando com mais um preso — De duas uma, ou ela fez merda, ou tu fez merda — Ele para por um tempo acendendo o baseado — E pelo lugar que tu se encontra acredito que quem fez merda foi tu.

Ignoro ele completamente começando a ler o livro.

Lívia narrando...

Termino com o último preso e começo a juntar as minhas coisas, saio da cadeia e entro no carro do meu pai, seguro o volante com as duas mãos e encosto a cabeça nas mesmas.

A quem eu tô tentando enganar? Essa merda vai acabar com meu psicológico, ligo o carro e acelero pegando o caminho de casa.

Chego em casa e só está o meu pai sentado no sofá com uma garrafa de cerveja na mão, tiro meus sapatos com o calcanhar e caminho até ele deitando minha cabeça no peito dele.

Rd: Como é que foi o primeiro dia? — Pergunta fazendo cafune no meu cabelo.

— Foi bom — Digo desanimada vendo o jogo na TV, sou tricolor mais não porque acompanho, meu pai é um tricolor doentio a bandeira do fluminense tá pendurada lá fora balançando com o vento, já tá até descolorida de tão velha.

Ele desliga a TV e eu me levanto encarando ele.

Rd: Não mente pro teu pai Lívia eu te conheço — Ele se levanta virando a garrafa de cerveja toda.

— Porque desligou a TV?

Rd: Sei lá, talvez se eu parar de assistir um pouquinho essa merda faz um gol — Dou risada, ele sempre acha que as coisas e com ele, quando a Internet cai ele desliga tudo o que tá conectado achando que só porque ele parou de mecher vai voltar a funcionar.

— Eu não tô mentindo, e aliás isso de parar de assistir não funciona, e tu sabe — Ele me encara com deboche, e liga a TV de novo, fluminense fez um gol, ele coloca a mão no ouvido.

Rd: O que você disse mesmo? E que eu não escutei — Respiro fundo indo até a cozinha e pegando uma garrafa de cerveja pra mim também, e a mãe entra pela porta puta da vida, o que já é normal.

Rd: Ih ala qual foi?

Princesa: Qual foi o caralho, eu tô a ponto de mandar o Leo pra vala, escuta o que eu tô falando, vai tropeçar no corpo do filha da puta por aí já já — Ela me encara e a careta no rosto dela se desfaz e ela vem até mim — Oi meu amor, como é que foi o primeiro dia?— Me dá um beijo na testa, respiro fundo dando um gole na minha cerveja.

— Foi bom.

Rd: Ela tá mentindo.

Princesa: Tá mentindo pra mim Lívia?

— Pai?

Rd: Minha filha, só doido pra não ver que tu tá mentindo, sabe nem ser mentirosa po — Reviro os olhos.

— Eu vou dormir, amanhã começa tudo de novo — Viro o resto de cerveja na boca e guardo o casco debaixo da pia, dou um beijo na minha mãe e no meu pai e subo as escadas até o meu quarto.

Fecho a porta e começo a tirar a roupa entrando no banheiro, ao contrário dos outros dias tomo um banho rápido, eu estou realmente exausta, saio do banheiro enrolado na toalha, e quase caio pra trás, tia Mariana tava sentada na cama com uma caixa nas mãos.

— Como...?

Mariana: Seus pais tão se pegando lá em baixo nem me viu entrar — Faço uma careta e ela me entrega a caixa — E pra você po.

Respiro fundo, não gosto de receber presentes, não sei o porquê, mais toda vez que alguém me da algo sinto como se fosse vomitar, e algo tão automático que eu não sei explicar.

Mariana: Eu sei que você não gosta de presentes — Ela se levanta e coloca a caixa na mesinha de cabeceira — Foi por isso que eu nem embrulhei — Encaro a caixa por mais um tempo e ela segura minha mão me fazendo encarar ela — E só um agradecimento, uma lembrancinha tudo menos presente meu amor — Balanço a cabeça e me sento na cama abrindo a caixa, era chave de um carro.

— Não...

Mariana: Sim, teu pai ficou louco sem o carro dele hoje, tava surtando lá na Ju, então eu, ele e tua mãe damos um jeitinho, e conseguimos um carro.

— Devo me preocupar? — Ela se levanta vindo até mim e dando um beijo na minha testa.

Mariana: Relaxa, não foi nada ilegal, tenho que ir, boa noite jogadora — Dou um sorriso e ela sai do. Quarto.

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