V - Lívia

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Se você escolher a porra desse caminho Carlos pode esquecer que eu existo

Essa era a única frase que circulava na minha cabeça enquanto eu lia e relia o nome naquele papel.

Tá tudo explicado agora, Tia Mariana ficou daquele jeito porque sabia que eu iria atender ele, provavelmente meu pai também,por isso ficou todo afobado.

Gui não quis tocar no assunto ontem porque ele é Isadora sabe da última conversa que eu tive com o Cadu, e sabia também qual foi a escolha dele.

Respiro fundo e viro o resto de café que tinha no copo, e vejo um pote com chocolate no canto da mesa puxo o mesmo e encaro ele.

— Chocolate? — Ele me encarava friamente muito diferente do cadu de anos atrás, balança a cabeça em negação mais não tira os olhos de mim — Bom Carlos Eduardo....

Cadu: Cadu po, Carlos Eduardo não... — Respiro fundo.

— Cadu — Dou um sorriso forçado — Sou Lívia serei sua psicóloga até....

Cadu: Vem cá a gente tem que fingir mermo que não se conhece? — Encaro ele por um tempo.

— Sou Lívia serei sua psicóloga até o final da sua sentença — Digo olhando nos olhos dele. Ele fez a escolha dele, o que significa que eu não tive a mínima importância na vida dele pode esquecer que eu existo.

Eu estava falando sério quando disse isso...

— Você pode colaborar, e até conseguir diminuir sua pena, ou pode ficar calado a consulta toda e só se complicar ainda mais — Digo e ele que estava quieto se afasta da cadeira e se aproxima até aonde as algemas libera, e eu continuo escutando ele.

Cadu: Não vou falar nada contigo, sei que vocês aqui só querem me fuder — Ele diz sério, e um arrepio percorre o meu corpo — A final eu não te conheço.

Respiro fundo me encostando na cadeira e encarando ele, eu conhecia o cadu mais do que qualquer um, ele tá muito diferente, possui tatuagens agora.

Os olhos vermelhos não negam que ele ainda fuma, eu nunca quis ver ele nesse estado, nesse lugar, nem ele nem o gui.

São garotos bons demais para estar envolvidos nisso, tenho certeza que se ele entrou foi contra a vontade do meu pai.

Cadu tinha um futuro lindo pelo frente era um garoto de ouro, era inteligente só tirava nota boa na escola, era um bom garoto.

Respiro fundo e encaro o teto tentando não chorar, sim eu estava quase chorando por causa desse idiota.

Ainda não acredito que ele fez isso, ou melhor como que ele caiu em cana?

Puxo a pasta e começo a ler tudo de novo. Três anos, faz três anos que é tá preso, a pena dele vai acabar daqui alguns meses.

Foi preso por assalto ao banco, 157. Respiro fundo.

— Quem planejou o roubo? — Ele fica quieto, balanço a cabeça em negação - Obviamente não foi minha mãe — Digo pensando sozinha, pra ele cair na cadeia não pensaram ao certo no que poderia ter dado errado, minha mãe sempre pensa nessas coisas, mais um pessoa que não pensa e o Rd — Isso tá com cara de que foi meu pai — Encaro ele que dá um sorriso de lado, só confirmando minha tese — Tenho certeza de que foi ele.

Olho o relógio na parede, a consulta já estava acabando, respiro fundo me levantando e ele prestava atenção a cada movimento meu, vou até a mesa no canto da sala e abro minha bolsa, pegando um livro, quando éramos mais novos, a gente gostava de ler.

Minha mãe admirava muito isso no Cadu, ela falava que ele tinha um futuro lindo pela frente, e eu sempre concordava, ele morria de vergonha, sempre que dava minha mãe comprava livro pra gente, a gente passava horas na lage da pensão da vó lendo os livros, algumas vezes a gente terminava no mesmo dia até.

"A rainha vermelha" Era o nome do livro, comecei essa série de livros a pouco tempo,para falar a verdade nem terminei de ler esse daqui, mais eu tenho certeza de que não se tem muita coisa para se fazer em uma cela.

Ele a todo tempo me encarava olho a olho, o que me fazia arrepiar, respiro fundo me sentando novamente e ecolocando o livro na frente dele, que nem sequer olha, fica apenas me encarando.

— Vai ser bom manter a cabeça um pouco distante desse lugar — Ele respira fundo e finalmente encara o livro.

Cadu: E sobre o que? — Pergunta curioso.

— Não sei — Minto, eu sempre leio a sinopse antes de comprar o livro, quando não faço isso acabo jogando meu dinheiro fora,comprando um livro que não me prende — Só lendo para saber.

Cadu: Você é uma péssima mentirosa — Dou um risada, e ele fica em silêncio me encarando, fiquei até sem graça, batem na porta e eu encaro o relógio vendo que o nosso horário de consulta havia acabado — Não vai ser tão ruim tê-la como minha psicóloga — Os policiais entram e eu continuo sentada, ele pega o livro e se levanta — Minha Jogadora — Dou outro sorriso e ele sai da sala acompanhado dos policiais.

Respiro fundo tentando recuperar o fôlego, pensei durante todos esses anos que havia realmente superado o Cadu, namorei por dois anos, era um cara legal, Kauê o nome dele, mais tinha algo de errado, não foi muito longe porque eu não me sentia completa.

E cadu, pode até ser que seja bom para você que eu seja sua psicóloga, mais isso vai ser bem mais confuso pra mim.

O policial entra na sala e me encara por um tempo, viro o resto do café na boca e encaro ele.

Polícial: Vai dar uma pausa antes de atender outro detento ou quer já traga ele logo? — Encaro ele por um tempo, ele é diferente dos outros policiais, a farda com as cores vivas mostra que é nova, e pelo rosto pude ver que ele era um cara novo. E por me perguntar se vou dar uma pausa deixo claro sua inexperiência.

Não, não vou fazer uma pausa, isso não é permitido antes do meio dia.

— Pode trazer o próximo — Ele assente e sai.

*Não se esqueça do seu fav e do seu comentário.

Inexplicável Where stories live. Discover now