04 | A memória pode ser uma tortura.

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[04.07.2021      16:12pm]


— Primeiro você irá nos escutar, tudo bem? — Hyunjin perguntou, calmamente.

Desde que visitara a Pizzaria a fim de apresentar suas teorias e suposições aos amigos, temendo receber puxões de orelha e sermões dos mais velhos, toda aquela ideia de fazer uma visita à casa assombrada mais uma vez não o abandonou um minuto sequer, passeando pela sua mente como se não houvesse rumo final. E mesmo que colocasse a si mesmo em uma árdua situação de transformar aqueles pensamentos em um único borrão perdido na mente por, pelo menos, cinco minutos, a ansiedade de encontrar o demônio de cabelos loiros e escutar os sussurros de Seungmin apenas o abraçava a cada dia que o sol desaparecia lá fora. Era como se a raiva e a ansiedade o fizesse borbulhar o sangue e o cérebro visitasse momentos irreais e talvez futuros. O talvez, entretanto, sempre estava lá. E essa pequena palavra tem tanto significado para um coração quebrado e uma mente curiosa, porquê talvez tudo desse certo se seguissem tais planos, mas, talvez, o outro possa ser melhor. E talvez, se Hwang não fosse cabeça dura, teria MinHo e Jeongin ao seu lado. Mas, talvez, entrar na casa possa trazer consequências. Mas e se as consequências não forem boas? E se... em um uivar de vento, almas forem roubadas? E se, no final da história, apenas roupas, pele, osso e cabelos fossem deixados para trás? O ser humano nunca sabe o que realmente quer, isso é fato, mas Hyunjin não queria deixar-se cegar pelo medo. O medo é natural, com certeza, mas talvez, ele tenha o poder de paralisar. Mas tudo pode dar certo. Apenas mais uma tentativa e então todos os "e se..." ou "talvez" seriam excluídos da sua vida junto ao peso da culpa que carregava nas costas e o vazio no coração. Sendo assim, após tantas discussões entre o quinteto, decidiram ir até o único Delegado que continuara, por tanto, apoiando-os. Após todo o acontecimento traumático de 2019, o quinteto de amigos se deu a oportunidade de acompanhamentos psicológicos, e DakHo sempre esteve ao lado para ajudar e aconselhar como um pai e amigo. Mas após dois anos, os fios grisalhos já haviam se espalhado pela sua cabeça e suas rugas se tornaram mais evidentes. Alguns fios caíam de sua cabeça, demonstrando a fraqueza que a idade propõe.

— Olha, meninos... — ele encarou Chaeyoung. — E menina, eu sempre estarei disposto a escutá-los, mas agora não podemos falar sobre vida pessoal ou psicológica, mental ou qualquer outra coisa.

Felix respirou fundo. Ele também ansiava por aquela conversa.

— Não é uma conversa sobre nossas vidas, DakHo... Talvez seja, mas ao mesmo tempo não é, sabe? Por favor, nos escute.

E após tirar o óculos que escorregava, lentamente, pelo seu nariz, DakHo roubou o oxigênio até que seus pulmões estivessem fartos, e então expulsou rapidamente o gás carbônico. Assentiu sem dizer uma palavra, e o quinteto se acolheu nos assentos de cor escura, tendo apenas a mesa do Delegado separando um contato físico. Os olhos de DakHo não eram cortantes como antigamente, mas serenos.
Chaeyoung foi a primeira a largar uma falsa tosse no ar, esperando que alguém iniciasse aquela conversa de uma forma que convencesse o homem grisalho. Ele não era o único, entretanto. Chris também não estava muito contente com tudo aquilo, mas precisava proteger os amigos.
Conexões de orbes foram trocadas entre os cinco, e, tão subitamente, todos começaram a falar ao mesmo tempo. Uma bagunça de letras encaixadas eram deixadas no ar, mas DakHo era incapaz de decifrá-las. E tudo piorou quando todos eles decidiram que quem falasse mais alto conseguiria a atenção do Delegado, e logo a baderna estava sendo feita. Olhos arregalados de outros funcionários eram direcionados ao homem que, envergonhado, correu os dedos gelados pelos cabelos ralos.

— Calma, calma, calma!

O quinteto não sossegou. E só ao levar a palma da mão direita à mesa de forma agressiva, emitindo um baque, o silêncio tornou a reinar.

Play The Game Again • skzWhere stories live. Discover now