09 | Deixe doer e depois deixe ir.

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Já beirava seis da manhã quando o crepúsculo matutino invadiu mínimas partes daquela enorme casa, e, por conta disso, esta perdia um tanto de sua atmosfera assustadora. Talvez o problema não fosse a casa, mas o que e quem a habitava. E também beirava seis da manhã quando cinco pessoas seguiam um único espírito, passeando pela casa para chegarem a um destino que ao menos sabiam qual era enquanto a friagem cortante daquela manhã os espancava a pele. Mesmo sem saber o destino, contudo, de uma coisa sabiam: Teriam de encontrar Han Jisung e, provavelmente, a partir dali todo o terror começaria de fato. Isso era o que Hyunjin e Felix pensavam e tinham quase certeza. Os outros três amigos, por outro lado, pensavam que tudo havia acabado por ali, até mesmo a história de suas vidas. Em suas concepções, Jisung era tão maldoso que não teria misericórdia alguma, roubando-lhes as almas logo na primeira troca de olhares. Eles estavam certos em um único ponto: Han Jisung não era misericordioso. Sendo assim, ele não roubaria-lhes aquilo que tanto queria de maneira tão rápida quanto pensavam. Felix e Hyunjin sabiam muito bem disso. Han teria a mesma atitude que teve para com Lee MinHo. Han cansaria suas vítimas. Ele tiraria cada vestígio de felicidade e descanso; roubaria a energia física de cada um ali, e com o psicológico e mental brincaria como se fossem brinquedos viciantes. Han os faria provar do doce sabor do real cansaço, aquele que tira-os a vontade de continuar vivendo – ou tentando. E, dessa forma, tomaria-os a alma da forma mais fácil e estúpida possível. 

Revisitando os cômodos da casa, o menino de cabelos longos foi capaz de sentir mais uma vez todos os pecados ali existentes, cada um deles sugando-o uma parte específica de si. Era como se, por conta da maldosa energia que por ali pairava, ele deixasse de viver lentamente, mas não deixou-se abalar. Invés disso, tornou-se forte o suficiente para criar cenários ainda ilusórios daquela casa infernal sendo engolida pelas chamas no meio de suas orbes raivosas enquanto ele e seus amigos ficam do lado de fora, assistindo àquele show ao vivo e em cores. Mas aquilo era apenas uma fantasia, algo criado pelo seu cérebro. A raiva fervia-lhe o sangue e quase derretia-o as veias ao correr agressivamente pelo corpo, fazendo-o apertar as mãos em punhos enquanto continuava a seguir Kim Lilith. Isso o enraivecia. Ter que seguir Lilith o enraivecia. Aquela realidade o enraivecia. O fato de não poderem, simplesmente, pularem imediatamente para a parte em que Han Jisung queimava diante toda a maldade que um dia fizera, o enraivecia.

Naquele momento onde o medo se espalhava até apossar-se de maneira rápida os amigos ao menos conseguiam se olhar talvez por receio de seus medos e fraquezas serem mostrados no raso de seus olhos da mesma forma que eram mostrados na ponta dos dedos trêmulos. Além disso, podiam ser egoístas ou qualquer outra característica semelhante espalhada por aí, mas recusavam-se a encarar a culpa em suas frentes. Entretanto, não a culpa deles, mas a de Hwang Hyunjin. Ele não tinha de ter o coração rasgado por culpa. Não tinha de partir-se em mil para dar pequenos e grandes pedaços de si para os amigos, e, caso isso acontecesse, esses amigos teriam seus corações partidos em arrependimento e pena. No fundo, eles estavam sendo egoístas ao deixar Hwang carregar consigo toda a dor. Mesmo que discutissem com o jovem por ter elaborado ideias idiotas ou por ter sido o influenciador de todos eles estarem ali, o quinteto sabia que cada um estava ali por conta própria. Cada um deles desejou estar ali. Cada um deles caminhou até ali. Hyunjin não era o único ou o maior responsável por aquilo, apenas o único que os encorajou a dar o primeiro ou o último passo.

— Ele irá nos matar, não é? – perguntou Felix à Lilith ao chegarem na enorme sala de estar, mas ela não o devolveu uma resposta. Ela ao menos o encarou. De qualquer forma, o Lee já sabia a resposta.

Aquele cômodo não havia mudado tanto. Pelo chão amadeirado cacos de vidro dispersavam-se e perdiam-se, sendo perigosos o suficiente para machucarem qualquer um que não fosse cuidadoso o suficiente por onde pisava. Essa bagunça era por quê, em 2019, alguns profissionais da área criminal resolveram, depois de um longo tempo, tirar Yang Jeongin e Lee MinHo daquela casa assombrada. E, com toda a confusão que espalhava-se na mente, aquela única janela de vidro da moradia foi destruída com um tiro disparado. No chão, até mesmo o vaso que Hyunjin esbarrou ao entrar na casa pela primeira vez ainda estava estilhaçado. A brisa matinal adentrava a casa pela janela juntamente com a pouca luz matinal, deixando o lugar um pouco mais aconchegante. Além disso, seria mentira se Changbin dissesse que não estava planejando usar aquela janela para fugir de toda aquela situação.

Play The Game Again • skzWhere stories live. Discover now