06 | Todos temos uma história não contada.

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— Continua tendo o mesmo cheiro... — Felix sussurrou ao perceber que já estavam no antigo porão. — Isso me arrepia.

O quinteto nada enxergava além de suas silhuetas, e isso os incomodava. Na verdade não apenas incomodava como também os amedrontava, porquê é na escuridão que seus medos se manifestam. Mesmo que sejamos ensinados a lidar com os monstros que no mundo se escondem atrás de um sorriso ao amanhecer, não somos ensinados a lidar com aqueles que se escondem no mais profundo breu. E é isso que tanto os fazia tremer a ponta dos dedos: a incapacidade, a falta de segurança.
E, ao dar um passo a frente, Felix escutou o leve ranger do assoalho antigo, e então seus olhos fecharam-se ao sentir o coração bater-lhe freneticamente o peito. Ao que menos esperavam, a voz de Changbin se fez presente, e foi ali que o Lee sentiu que poderia morrer.

— Vamos ligar alguma lanterna! — o Seo sugeriu com o objeto já em mãos. E quando estava pronto para iluminar aquele espaço, Chaeyoung o impediu ao tirá-lo da mão.

— Está maluco? Pense, Changbin, pense! Podemos ser vistos por Han, ou sermos pegos por qualquer pessoa de fora que veja uma luz aqui dentro! — a única menina sussurrava enraivecida, encarando-lhe minimamente já que o breu o escondia. — Da próxima vez que você não pensar no que faz, irei deixar de testar o aparelho de choque em Jisung para testar em você!

Mais uma vez, a quietude trouxe consigo o intenso bater de coração, tão forte que cada um pensava que era capaz desse ser escutado ao longe. Mas não era verdade, eles apenas conseguiam sentí-lo individualmente. O único ser que conseguia escutar e sentir tais batimentos era Kim Lilith, mas nem Felix tampouco Hyunjin lembravam-se desse fato.
Após experimentarem um tanto de ansiedade e medo, Hyunjin os assegurou dizendo que conhecia o porão de cor, e rapidamente seguraram nos pulsos uns dos outros a fim de formar uma corrente e ninguém se perder na tão perigosa escuridão. Então o de cabelos longos iniciou passos mínimos, temendo qualquer ruído. Com os pés ainda desnudos e uma das mãos ocupadas ao agarrar os sapatos firmemente, o chão amadeirado congelava-lhes o corpo controlado pela ansiedade que passeava pelas veias e borbulhava-lhes o sangue. E ao sentir a parede em contato com o seu braço, Hwang concluiu que havia encontrado uma das pontas escondidas daquele cômodo.

— Eu só espero que não tenhamos passado pelo pentagrama. — Felix sussurrou esperançoso.

— Aqui tem um pentagrama?!

— Chris hyung, quando eu te digo que essa casa é fodidamente estranha é porquê ela realmente é fodidamente estranha. Aqui há coisas que ultrapassam a imaginação de qualquer um.

O silêncio prevaleceu mais uma vez, e então todos já sabiam o que fazer já que tinham conversado sobre aquilo antes. Lentamente, sentaram-se sobre o chão empoeirado, e, entregues ao perigo, cobriram os pés desnudos com as meias que deveriam ser usadas na casa. Foi naquele momento que Hyunjin deixou-se levar pelos próprios devaneios. Foi naquele momento que permitiu-se entregar à escuridão, porquê a sensação familiar que aquele lugar o passava correu-lhe a memória mais uma vez depois de quase dois anos. Dessa forma, ele visitou o passado onde entrava com seu melhor amigo e seu namorado naquele porão amedrontador, e então encontrava Lee MinHo, o desaparecido tão comentado naquele ano. Pouco a pouco, lembranças de quartos escuros e o odor de sangue fresco voltavam à sua mente. O cheiro daquele local atual não era um dos melhores, e piorava quando juntava-se com a poeira que dançava no ar até encostar o assoalho.
A missão de cobrir os pés foi um tanto quanto árdua para todos devido ao nervosismo que, de pouco a pouco, roubava lugar na mente e no corpo, e com os dedos trêmulos e a respiração descompassada, o quinteto deixou de sentir a guerra entre o frio impiedoso com a quentura dos pés antes escondidos pelos sapatos.

— Aquele corredor que viemos me dá arrepios... — Chaeyoung sussurrou ao apontar o corredor minúsculo que no porão havia. Por culpa das tarefas anteriores, seus sussurros eram entrecortados, mas os meninos conseguiam entendê-la mesmo assim. — Só de me imaginar sozinha e presa lá, me bate a falta de ar.

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