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08 | Os dias de vida são contados.

[06.07.2021      04:56am]

Sentados naquele assoalho sujo, o quinteto que visitava a rua Francis Hills se encontrava em olhares. A ponta de seus dedos doía vez ou outra por conta do longo período em contato com o ponteiro, e, mesmo com muito desejo, era impossível dar um fim à conexão com o espírito já que ele, na verdade, estava próximo o suficiente deles. Dahyun era quem ocupava o lugar perto de Chaeyoung, segurando a sua mão livre enquanto encarava o tabuleiro cada vez que era necessário se comunicar com eles por aquele objeto. De fato, era fácil cair nos encantos de Kim Dahyun embora uma aflição pairasse sobre todos eles e isso dava-se ao fato do físico diferente da criança.

Antes, quando a porta foi aberta fazendo-os escutar aquele ranger ecoar no sujo porão, a única coisa que passeava para lá e para cá nos pensamentos do grupo era algum lugar qualquer que fosse seguro o suficiente para protegê-los. Seus corpos, entretanto, não estavam em sincronia com sua mente e por conta disso, rapidamente, cada um dali se separou ao que foram em direções diferentes. Felix e Christopher partiram em direção ao corredor estreito daquele lugar enquanto Chaeyoung e Changbin levantaram em uma velocidade tão rápida quanto a do bater de seus corações amedrontados, correndo para o canto mais escuro próximo a eles. E, ofegantes devido à ansiedade e o medo de um futuro trauma – ou pior, a morte de qualquer um deles ali –, os dois entrelaçaram seus dedos em um apertar de mãos singelo. Hyunjin estava do lado oposto do porão em um canto, abraçado pela escuridão enquanto seus joelhos tocavam o chão. Suas pernas não aguentavam o mesclado de sentimentos que tanto o bagunçavam, fazendo-o sucumbir. Seus olhos estavam fechados e, diferente de Chaeyoung e Changbin, não era possível escutar um ruído sequer de sua respiração. Ali, completamente exposto e desprotegido para qualquer ser maligno, ele se culpou ao fantasiar a morte de cada um de seus amigos enquanto passos que vinham da escada se aproximavam.

— Não me solte, hyung. – Felix sussurrou ao suplicar enquanto escondia seu corpo atrás de Chris, e, mesmo tremendo, o mais velho não o soltou.

Os passos se apressavam e se aproximavam cada vez mais, mas subitamente foram cessados. O silêncio preencheu o pouco espaço restante que o medo não foi capaz de preencher, e os jovens juraram por Deus que preferiam qualquer barulho amedrontante àquele silêncio angustiante que os fazia escutar até mesmo o pulsar de seus próprios corações. Naquele momento, Changbin apertou ainda mais sua mão na de Chaeyoung, encarando-a. Felix estava prestes a quebrar Chris ao meio ao apertá-lo agressivamente contra seu corpo, sentindo algumas lágrimas desejando escapar de seus olhos. Hyunjin ainda não havia mudado, continuava na mesma posição. Mas, após tanto agoniar-se durante extensos dois minutos de silêncio, o Hwang resolveu ter outra ação, e foi naquele momento que sentiu que poderia desmaiar.
Ao abrir seus olhos, enxergou uma menina ao longe, no final das escadas, encarando cada parte daquele porão sem nada dizer com seus olhos vazios. Por alguns míseros segundos, Hyunjin pensou que a ela não houvesse o enxergado, e ele estava certo até aquele momento. Por não encontrar ninguém, ela pensou que o quinteto havia ido embora, deixando-se entristecer, mas logo, lentamente, alegrou-se ao fixar o seu olhar no de Hwang. Hyunjin pôde ver a felicidade dançando nas orbes mortas da garota. Aquilo, entretanto, apenas o espantou, fazendo-o arregalar os olhos e esconder-se mais no breu, prensando-se na gélida parede. Isso porquê a criança tinha, de alguma forma que Hwang não conseguia explicar, a boca costurada. E ali, com grossas linhas pretas e bagunçadas em torno de sua boca, criando variados formatos da letra X, um som abafado saiu da garganta dela. Era como se ela desejasse colocar toda a alegria espalhada no seu interior para fora de forma verbal, mas era impossível. E a cada vez que ela tentava, o som arranhava a sua garganta e assustava o quinteto que não podia soltar um mísero grito.