CAPÍTULO CATORZE

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  Acordamos tarde no domingo. Afinal, quando nos permitimos dormir, os primeiros raios de sol já surgiam e invadiam o quarto pela janela. Apesar da vontade incansável que eu tinha de explorar aquela cidade, eu também queria me permitir um dia em casa, sendo vítima e cúmplice da preguiça.

E assim foi. Eu, Nico e Noah ficamos jogados no sofá assistindo as primeiras temporadas de Friends. Elena até assistiu um episódio conosco e a cena foi tão surreal que quase não parecia verdade. Quando ela se levantou do sofá, resmungou que precisava trabalhar e então se foi. Dá para acreditar que ela é mãe de dois marmanjos extremamente gatos? Já eram quase quatro da tarde quando eu fui obrigada a levantar meu belíssimo traseiro XG do sofá para tomar banho e trocar de roupa. Eu estava meio rabugenta, confesso, mas o motivo de ter que sair de casa rapidamente me animou. Minha melhor amiga estava chegando e eu já estava contando os segundos para quebrar todas as suas costelas!

Noah disse que precisava fazer sabe-se lá o quê. Eu estava tão ansiosa que nem dei muita importância, de forma que apenas Nico e eu seguimos em direção ao aeroporto internacional. Eu fiquei olhando aquele maldito quadro de voos a cada fração de segundo e Nico apenas segurou minhas mãos e pediu para que eu ficasse calma. Eu estava morrendo de saudades da minha melhor amiga... E é claro que Nico compreendia isso apenas parcialmente. Devo ressaltar que "apenas parcialmente" é ótimo, já que Marcela tinha tendência a achar que eu estava fazendo tempestade em copo d'água. Já mencionei que ela é a rainha do pouco caso? O oposto de mim. E quando eu finalmente a avistei, não pude conter o ímpeto de correr até ela e abraçá-la como se não houvesse amanhã. Ela achou tudo muito exagerado e me repreendeu pela cena, mas estava sorrindo daquele seu jeito maroto e extremamente fofo. Ela me adorava, só não tinha o hábito de expressar tal sentimento com muita frequência.

Fiz as devidas apresentações entre Marcela e Nico e percebi o quanto minha melhor amiga simpatizou com ele. Ela costumava dizer que o seu sexto sentido nunca falhava e apesar de eu achar tudo isso pouco racional e improvável, Marcela costumava estar certa sobre diversas coisas. Como por exemplo, Marco. Ela sempre me disse o quanto ele era um babaca... E eu arrumava desculpas para tentar prová-la o contrário, mas no fundo eu sabia que ela estava redondamente certa. Mesmo que a redonda da história seja eu!

Nico nos deixou em meu hotel e se despediu de nós, pois sabia que tínhamos que colocar nossos assuntos em dia. Ele subiu ainda mais no meu conceito por tamanha percepção e sensibilidade. Marcela e eu seguimos para o meu quarto − que por alguns dias seria nosso − e assim que chegamos, ligamos para a recepção e pedimos um jantar. Tomamos banho e quando a comida chegou, já estávamos aquecidas em nossos pijamas enquanto finalmente tínhamos algum tempo só para nós.

− O Nico parece maravilhoso − ela disse mastigando algumas batatas. − Mas você ainda não me contou como vocês se conheceram − observou muito bem. Ah sim, mil perdões. Costumo ser relapsa e afobada, mas imagino que esse seja um ponto importante da história.

Eu havia passado toda a tarde entre lágrimas, doce de leite, oreo, sorvete e skittles. Eu não sabia o motivo de tanta tristeza, afinal, fazendo uma retrospectiva de todo o meu relacionamento com o Marco, o saldo era basicamente negativo. Mas ainda assim eu me sentia compelida a chorar e comer porcarias como se aquilo pudesse me proporcionar algum conforto emocional. Não adiantou.

Em algum ponto o cansaço falou mais alto e eu me rendi a boas quatro horas de sono. Acordei sem dor de barriga − apesar da comilança desenfreada − e resolvi que me jogaria na noite argentina e encontraria um cara sexy que me chamasse de bella ou guapa. Fui para um clube de tango onde era possível aprender alguns passos básicos e depois de duas horas eu já havia rodado quase todo o salão pondo em prática o que havia aprendido: caminhada, gancho, cruzada, corte e "media vueta". Não é que eu levava jeito? Eu estava arfando e morta de fome. O local não possuía um bar ou restaurante, era muito simples, na verdade. Ao lado direito havia algumas barracas servindo as mais diversas bebidas e pouca variedade de comida.

PODER EXTRA G (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora