CAPÍTULO VINTE E OITO

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 − Nós bebemos algumas cervejas... O papo começou a fluir de maneira agradável e a Marcela me encarava daquele jeito, sabe? − assenti, pois eu mais do que ninguém conhecia esse olhar nada discreto da minha melhor amiga. − E bem... Não é como se eu fosse um santo ou coisa parecida. Em algum momento acabei beijando-a e foi bom. Muito bom, inclusive − pausa para a nota: ele dizia isso de bochechas coradas. Eita menino fofo! − E aí você sabe... Uma coisa leva a outra e acabamos dormindo juntos.

Sério? Aquilo era tudo o que ele podia me oferecer quando eu pedia por detalhes sórdidos? Preciso confessar que eu estava decepcionada. Talvez Marcela pudesse me oferecer mais detalhes a respeito de como conseguiu, finalmente, fisgar o meu cunhado.

− Ela não sabia sobre mim − ele comentou baixinho, os olhos focados bem longe dos meus. Era óbvio que estava com vergonha e eu continuava a achá-lo uma fofura sem fim.

− E...? − quis saber.

Agora, só agora, eu me dava conta desse pequeno detalhe. Marcela não sabia que Noah era transexual. Nunca me ocorreu conversar sobre isso com ela, afinal, não dizia respeito a mim, certo? Se Noah quisesse que Marcela soubesse sobre ele, era ele quem devia contar. Eu confiava nas decisões da minha melhor amiga, pois assim como eu, ela costumava ser uma pessoa bastante sensata e de mente aberta, mas de todo modo, eu estava curiosa para saber mais sobre a sua reação.

− E eu fui surpreendido... Porque ela simplesmente não deu importância para a minha revelação. Depois que eu lhe contei sobre mim, ela continuava me sorrindo daquele jeito... Com desejo e admiração.

− Não podia ser diferente − concluí, imensamente satisfeita e agradecida por estar cercada de pessoas tão incríveis.

− Foi estranho − ele confessou com um sorriso bobo enquanto bagunçava o próprio cabelo. − Mas de um jeito bom − concluiu e eu podia apertá-lo para sempre entre os meus braços.

Marcela reclamou por estarmos andando tão lentamente. Oras, não é como se os meus noventa e dois quilos deslizassem por aí! Ainda assim apertamos o passo e Nico começou a rir quando eu comecei a resmungar dos passos desnecessariamente acelerados. Não íamos tirar o pai da forca. Ou será que íamos?

Adentramos o melhor café de Buenos Aires − palavras dos irmãos Viegas, só agora eu descobrira o sobrenome lindo deles − e já estávamos prontos para adicionar mais um acontecimento bizarro à listinha do dia. Marco estava lá. E não era só isso. Marco estava lá com outra garota. Calma, ainda tem mais. Marco estava lá com outra garota MUITO parecida comigo. Eu não sabia se devia cair na gargalhada ou chorar de desespero.

Marco, que tanto relutara em me assumir para a família e amigos − e também para si − estava ali exibindo uma garota gorda, de cabelos castanhos e olhos suaves. Ela era dona de um estilo mais alternativo, mas com exceção disso, era muito parecida comigo. Eu achava que havia um limite de acontecimentos bizarros num único dia, mas o cosmo estava me provando que eu estava errada.

Eu respirei fundo e ignorei a presença daquele ser inacreditável. O que ele ainda estava fazendo em Buenos Aires? Aquilo parecia uma perseguição doentia, ou talvez eu estivesse demasiado afetada pelas minhas emoções. A mão carinhosa de Nico me guiou pelas costas até o balcão, onde pedimos comida para os próximos cem anos... Sem exagero! E se havia nesse mundo algo capaz de me deixar muito feliz, era comida. Céus! Nico e Noah não estavam exagerando... Tudo naquele lugar era divino. Fui agraciada com uma trança doce recheada com doce de leite e mel, e não é que a combinação era realmente magnífica?

Comemos, bebemos, rimos, conversamos... E em nenhum momento eu me lembrei da incômoda presença do meu ex-namorado. Marcela e Noah às vezes pareciam grandes amigos e às vezes pareciam algo mais. Eu não sabia por qual das opções estava torcendo. Eu só queria que eles fossem felizes, do jeito que fosse. Já era quase meio dia − sim, o nosso café-da-manhã havia se estendido até o almoço − quando Marco se aproximou da nossa mesa para se despedir. Era inacreditável que ele ainda se desse ao trabalho.

− Estou voltando para o Brasil hoje − ele disse olhando diretamente para mim. − Lola − ele apontou com pouco caso para a garota que o acompanhava e o esperava na porta do café − é só um passatempo... Algo típico de uma viagem de férias. Mas você e eu, Nina, somos típicos da vida real. Você sabe que eu estarei esperando-a, não sabe?

− Pois espere deitado − Marcela respondeu em meio a uma gargalhada. − E se quiser, pode se esquecer de respirar também. Não é como se nos importássemos.

Eu sabia que a minha melhor amiga era doida para dizer umas verdades na cara do meu ex, e não é que ela e as suas piadinhas haviam aparecido em momento oportuno? Eu caí na gargalhada junto com ela, e Nico e Noah também não se esforçaram muito para controlar o riso. Aquele cara não cansava de fazer papel de otário e nós não nos cansávamos de rir da cara dele. Ao menos ele havia se tornado a grande piada da minha vida... E não dizem que rir é o melhor remédio?

Ele saiu da cafeteria acompanhado do seu passatempo − tadinha, essa tal de Lola não sabia onde estava se metendo − e nós voltamos para as nossas conversas. Marcela estava entusiasmada com a mudança e eu estava incrivelmente feliz por ela. Como se invadida por uma invisível dose de coragem, eu tomei uma decisão: mandaria o meu currículo para algumas editoras de Buenos Aires. Assim... Sem grandes pretensões. Caso recebesse alguma reposta positiva, bom... Aí sim eu teria com o que me preocupar, não é mesmo? 

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Oi gente linda <3 Como vocês estão? Eu planejava passar aqui um pouco mais cedo, mas alguns imprevistos acabaram me impedindo. De todo modo, ainda estou dentro do horário, não briguem comigo, haha. Tenho algumas coisinhas para falar, tentarei ser breve.

1) Hoje disponibilizei um conto de minha autoria aqui no wattpad. Ele é bem curtinho e foi postado na íntegra. O nome dele é "Você nunca está sozinho" e vocês podem conferi-lo na minha conta! Estão todos convidados (ou intimados!!!!) a ler e opinar ;)

2) Sábado tem evento literário? Tem sim, senhor. É o décimo terceiro (número da sorte) evento da Menina que compra livros (vulgo Raffa Fustagno, haha) lá na Travessa do Shopping do Leblon. Tem eu, Janaina Rico, Maurício Gomyde, Jô Lima, Lycia Barros e Sidney Santborg. Encontro marcado, viu?

3) Hmmmmm, acho que é só isso? Espero que sim? Hoje estou fazendo a louca dos pontos de interrogação? Nem ligo? Beijos e durmam bem? <3

4) Ah, óbvio que ia me esquecendo de algo: para quem não é do RJ, já está liberada a pré-venda do meu segundo livro físico: "Com outros olhos". Ele custa R$19,90 com brindes e frete grátis. Basta acessar o meu blog e fazer o pedido o/ (deixo o link nos comentários) ;D







PODER EXTRA G (degustação)Where stories live. Discover now