XIII

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Haviam várias coisas que Miguel já tinha aprendido sobre si mesmo em relação a como se sentia amorosamente, mas a maior surpresa do momento era perceber como era carinhoso quando gostava de alguém. Não foi algo planejado. Não foi algo no qual tivesse pensado, conscientemente, que precisava fazer para agradar Lucas. Não. Só aconteceu.

Primeiro foi quando decidiu dormir no sofá para ele ficar com a cama. E depois, quando buscou um casaco seu para ele, um copo de água antes de dormir, ou, em algum momento, quando Lucas sentou com as pernas para cima do colo dele e se pegou fazendo uma massagem nos pés do garoto sem nem perceber o gesto.

Queria que ele gostasse de estar ali, e que quisesse voltar depois. Queria que Lucas gostasse de estar com ele e inconscientemente estava fazendo pequenas coisas para deixá-lo feliz. Gostava de vê-lo feliz. Ele tinha um sorriso muito bonito, e ficava ainda mais bonito com aquela expressão leve no rosto. E mais bonito ainda na segunda-feira seguinte, quando Miguel chegou na escola e encontrou Lucas sentado em sua carteira, com o rosto coberto com uma camada leve de iluminador e um brilho suave nos lábios.

Não soube o que lhe acometeu ao vê-lo ali daquele jeito. Lucas levantou o rosto do livro que estava lendo para vê-lo chegar, e abriu aquele sorriso lindo, maravilhoso. Miguel sorriu de volta, sentindo o coração dar um salto, e avançou até a mesa de Lucas.

— Bom dia — Lucas cumprimentou, fechando o livro. — Como dormiu de ontem pra hoje?

— Como uma pedra — Miguel respondeu, se sentando na mesa de Lucas. Então se inclinou e deixou um selinho rápido nos lábios dele.

Não foi algo que pensou antes de fazer. Apenas fez, Lucas estava muito bonito e radiante naquela manhã para não beijá-lo. Ou talvez fosse Miguel, mesmo, se comportando como um apaixonado tolo.

Quando se separou dele, viu um olhar muito surpreso no rosto de Lucas, e sentiu um rubor subir às suas bochechas no mesmo instante. E se Lucas não quisesse aquilo? Tinha assumido tanto que não se beijavam em público por sua culpa que sequer tinha parado para pensar se essa seria a vontade dele também.

— Desculpe... — murmurou.

— Nem pensar. Não peça desculpas. Adorei, pode fazer quando quiser.

Miguel sorriu, aliviado. Isso era mesmo muito reconfortante. Ele chegou para trás, se acomodando na mesa dele e segurando uma das mãos de Lucas na sua, entrelaçando os dedos com os dele. Reparou que alguns dos alunos da sala olharam para eles por um instante, mas nenhum pareceu interessado em olhar por tempo demais.

Tudo bem. Não tinha medo deles.

Queria verdadeiramente dizer que não se importava, mas parte de seu coração ainda balançava um pouco de forma receosa. A surpresa foi perceber que não era medo de Arthur fazer algo contra ele, mas sim de perder a amizade que vinha construindo com o garoto.

Pedro chegou primeiro, com Clara. A mochila dela já estava na sala, e se Lucas precisava pegar maquiagem com ela quando passava, era de se imaginar que ela já estava na escola, mas devia ter esperado Pedro chegar do lado de fora.

Tudo bem, não era ele quem estava esperando. Clara e Pedro se aproximaram e os cumprimentaram, e logo eles e Lucas estavam conversando, mas Miguel não deu muita atenção. Seus dedos brincavam com os de Lucas, distraído, e seus olhos estavam fixos na porta da sala, esperando, ansioso.

Arthur e Zé Dois apareceram pouco antes do sino inicial. Estavam conversando sobre alguma coisa e não parecia algum tipo de assunto muito amistoso. Os dois deixaram as mochilas em suas mesas e caminharam até eles, e Miguel viu o exato momento no qual o olhar de Arthur desviou dos rostos deles, para as mãos entrelaçadas sobre a mesa, e de volta para os rostos.

Tempos ModernosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora