Pode me ouvir?

4

Os anos passaram e Kageyama e Yamaguchi seguiram sendo melhores amigos, haviam estado juntos desde que se conhecerão na primária e na secundária, estando na mesma sala. E Tobio havia levado muito a sério seu papel como melhor amigo, e ajudou muito quando Tadashi parecia estar atordoado com o barulho.

Mas finalmente havia chegado o momento de se separar... Bom, não tão dramático. Ambos ainda iriam a mesma preparatória, mais pela primeira vez iriam em salas diferentes.

Se fossem honestos, ambos estavam muito nervosos, porque haviam estado tanto tempo juntos que era estranho estar separados. Se encontravam a caminho da escola, no seu primeiro dia de aula na preparatória e Yamaguchi sempre nos primeiros dias ficava muito nervoso, mais agora que andava junto com seu amigo não podia nem se preocupar com seus próprios nervos ao escutar os de Kageyama.

~ Pela primeira vez eu vou estar em uma sala diferente da de Yamaguchi... Ele ficara bem? Como eu sei da sua condição podia ajuda-lo mentindo que estava doente, mais agora estaremos em salas diferentes. E se acontece algo? Se ele desmaia? Se tem um ataque de pânico?~

— Kageyama? — Yamaguchi tentou chama-lo, sentiu que deveria interrompe-lo.

~ Devia estudar mais, para estar na mesma sala de Tadashi... Não, Yamaguchi não devia estudar tanto para ficar na mesma sala que eu. ~

— Tobio! —

O de cabelos escuros o olhou após escutar seu nome.
~  Tadashi! Temos que pensar em algo! E se dizermos que você tem uma doença terminal e eu sou seu cuidador, e temos que estar juntos?~

— Não vou dizer que tenho uma doença terminal! — Respondeu incrédulo.

~ Bem... E uma doença rara? Como narcolepsia, e eu como seu amigo de infância sei o que fazer quando isso acontece... Só finge dormir quando o barulho começar a te incomodar. ~

— Não.

~ E se voltamos a dizer que você tem enoclofobia? Até sua mãe acredita nisso ainda e me colocou como contato de emergência. ~

— Tobio! — Disse em tom de repreensão.

~ Mas então...~

Fez um bico como uma criança que acabava de ser repreendida. Sem querer, se tornou um costume falar assim, para as pessoas de fora, podia ser estranho que só Yamaguchi falasse, mais não sabiam que Kageyama também o fazia.

~ Você vai ficar mesmo bem? ~  Apesar de Kageyama não falar, o via com uma cara de preocupação.

— Só vamos estar em salas diferentes, não é pra tanto — Disse dando um sorriso tranquilizante para seu amigo.

Tobio por sua vez, ainda seguia franzindo a boca, essa resposta não o convenceu. Por ser o único que sabia da condição de seu amigo, sentia uma grande responsabilidade, além de que, tinha muito carinho por Yamaguchi e não queria que ele passasse mal na escola.

~ Ao menos trouxe os tampões de ouvido caso você se sentir mal? ~

— Sim, sabe que eu sempre ando com um. — Yamaguchi sentia que estava falando com a sua mãe, sabia que Kageyama estava preocupado, bastava só vê-lo. E desde que Tobio lhe deu a ideia de colocar tampões de ouvido quando o barulho o incomodava, sentia que havia tido um pouco de salvação. Pois mesmo que as demais vozes não desaparecessem, era como se o volume baixasse e só escutasse murmúrios lejanos,  e não vozes que perfuravam sua cabeça.

Finalmente chegaram na escola, caminharam juntos mais um tempo, até que finalmente haviam chegado o momento de cada um ir para sua sala. Antes de se despedir, Kageyama tomou seu amigo pelos hombros.

~ Tadashi, se você se sentir mal, vai na enfermaria ou me manda uma mensagem e eu invento uma desculpa pra te tirar da sala... Qualquer coisa diz que eu sou mudo e você é meu interprete. ~

Yamaguchi primeiro o olhou incrédulo, mas logo suspirou. — Tobio... Estarei bem, não se preocupe muito. Se algo acontecer eu vou te avisar. — Com delicadeza tirou a mão de seu amigo de seu ombro, já que esperava que ele se acalmasse um pouco.

O de cabelos pretos asintió mais não se moveu nem um centímetro, o sardento suspirou de novo e começou a dar leves empurrões no seu amigo, para que ele fosse pra sua sala. Mais o único que Kageyama fez foi ir a passos lentos a sua sala enquanto o voltava a olhar para o sardento a cada passo que dá. Yamaguchi decidio entrar na sua sala, porque se ficasse mais tempo fora sentia que Kageyama não iria logo.

Entrou na sala, já tinha alguns estudantes mas já escutava algumas vozes.

~ Estou tão nervosa...! Não conheço ninguém... Como serão os professores?... Espero que não dêem tantas tarefas... Como é possível que eu tenha ficado na sala 4 sendo que não estudei nada no exame de adimisão? ~

Eram alguns dos pensamentos que escutava, não eram muitos já que não tinha muitas pessoas. A sala pouco a pouco começou a encher e com as pessoas que entravam tinha mais vozes na sua cabeça, tinha acostumado um pouco a escutar os pensamentos, pois era como se estivesse em uma sala cheia se gente, onde todos falassem sem que ninguém abrisse a boca e tudo se escutasse na sua cabeça.

Mais quando o professor entrou, todas as vozes pararam e rapidamente o olhar de todos se dirigiram ao professor.

~ No primeiro dia todos ficam calados e me temem, mais quando tiveram confiança e fazerem amigos não vou conseguir fazer que eles se calem.  ~

Escutou o professor, enquanto deixava as coisas na mesa e logo se aprensetava ante a todos, para logo pedir que todos se aprensentassem, e finalmente resigno cada um para seus lugares, ficando atrás de um menino loiro.

Narcolepsia: disturbio crónico do sono que causa sonolência diurna em excesso. [ Doença rara; menos de 150 mil casos por ano no Brasil.]

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