CAPÍTULO VII (+18)

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"Eu tenho algumas más intenções

Eu tenho algumas más intenções 

Eu tenho alguns segredos que eu esqueci de mencionar

Não aprendi a lição"

— Bad Intentions -  Nivkee Heaton


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Os pesadelos já estavam diminuindo e junto, as altas doses de medicamentos, principalmente os que controlava a abstinência e a falta de sono. As sessões continuavam do mesmo modo, duas vezes por semana e confesso que conversar com alguém de fora de toda essa situação estava me ajudando. Ajudando a entender tudo o que aconteceu comigo na infância e a tudo que acontecia depois de adulto.

Estava atarefado com as provas, mal tinha tempo para pensar em outra coisa e com isso nem me toquei da data de hoje, só fui pensar nisso quando recebi a ligação da minha mãe, como fazia todos os anos. Na mesma data.

— Oi mãe! — Apoiei o celular no ombro, me contorcendo entre terminar o trabalho e falar com ela.

— Oi meu amor. — Sua voz era baixa e chorosa, me fazendo largar tudo que estava fazendo e dar atenção a ela. — Desculpa... — Ela fungou, tentando conter a voz chorosa. — Todo ano prometo a mim mesma que não vou te ligar, mas, não tenho mais ninguém para falar sobre ele. — Olhei no calendário do notebook e senti meu peito pesar, formando um imenso nó em minha garganta, impossível de digerir.

Hoje faziam 4 anos desde a morte do meu irmão. Há 4 anos minha vida passou de uma imensidão de cores, para o mais apagado e fosco, preto e branco.

Quando perdemos alguém todos dizem que com o tempo a dor ameniza, você acaba se acostumando com a ausência daquela pessoa. Mal eles sabiam o quão errados estavam... A dor só fazia aumentar a cada ano, era como sentir um imenso buraco dentro de mim se expandindo e me engolindo cada vez mais.

A solidão se fez minha melhor companhia, desde que meu melhor amigo se foi.

Coloquei o notebook de lado e recostei no sofá, fechei os olhos, ouvindo o que minha mãe falava.

Depois de quase 1 hora, minha mãe desligou o telefone, ambos devíamos estar com bolsas enormes sob os olhos, devido ao choro. Relembramos minha infância, as peripécias do meu irmão e o quanto ele sempre me protegeu, de absolutamente tudo.

Fez isso até seu último suspiro.

Senti o peito se apertando e a imensa vontade de chorar retornando com tudo, como uma avalanche.

Resolvi tomar um banho para tentar esfriar um pouco a cabeça e diminuir as emoções que me consumiam.

Saí do chuveiro e resolvi vestir apenas a samba canção, havia desmarcado o treino de hoje, estava indisposto demais para isso. Passei a toalha nos cabelos, retirando o excesso de água e a joguei em cima da minha mala, que estava fechada sob a poltrona. Dali alguns dias iria para o Brasil de vez, deixando todo o meu passado para trás, estava apenas aguardando as últimas provas acabarem. Por algum motivo olhar para as malas prontas e para a nova vida que viria, me deu uma certa esperança, como se tudo fosse valer a pena no fim.

Cicatrizes e Demônios  |  Livro 2 [SEM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora