PRÓLOGO

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"Quando as cortinas se fecharem
Vai ser pela última vez
Quando as luzes se apagarem
Todos os pecadores rastejarão
Então eles cavam as suas sepulturas
E os mascarados
Virão apontar
O estrago que você fez"

— Demons – Imagine Dragons

O que te dá prazer na vida?

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O que te dá prazer na vida?

Se essa pergunta for feita para algumas pessoas "comuns", irão responder: Dinheiro, amor, saúde... Essas coisas básicas. Para mim é o controle! Nada me agrada mais do que ter o controle de tudo, bem na palma da mão.

Eu só funciono se for a base dele, meu mundo gira em torno dele e eu vivo muito bem com isso. Mesmo meu psicólogo dizendo o contrário!

Eu não posso abrir mão disso. Não se eu quiser continuar sobrevivendo e mantendo o resto de saúde mental que eu ainda tenho. Os demônios dos traumas... Os malditos traumas! Me cercam desde muito novo e eu fui obrigado a aprender lidar com eles sozinho.

Aos 3 anos tive que engolir o medo, a solidão, o sentimento de rejeição e culpa, para conseguir sobreviver nesse maldito mundo em que eu fui posto. Depois que uma criança passa por toda a merda que eu passei, é impossível ela sair intacta disso tudo. Isso deixa cicatrizes, invisíveis aos olhos, mas eu sinto cada uma delas a cada segundo.  Olhar no espelho é como ver meu reflexo despedaçado, que fica escondido por baixo da carcaça de homem dos negócios.

Muitos dizem que eu tive sorte, por ser adotado por uma família "boa", por ter me tornado um rapaz integro, inteligente e CEO de uma das maiores empresas de publicidade do Brasil, tudo isso antes dos 30 anos. Eu apenas concordo e agradeço, em partes por não ter morrido dentro daquela casa, depois de ter ficado dias sem comer e completamente sozinho. Mas entrar para a família Jones não é uma benção como muitos acham.

Bebo o último gole de Whisky do copo e volto a encher o mesmo com a garrafa que tenho em meu escritório. Sento na cadeira e olho o relógio de pulso, marcando 7h50, os papéis em cima da mesa me lembram da entrevista que tenho marcada daqui alguns minutos.

Pego a pasta novamente entre os dedos e olho pela milionésima vez para as informações que tem na primeira folha do currículo dela.

— Maria Eduarda... — Repito seu nome em voz alta, pela milionésima vez naquele dia.

Ela se formou com êxito e notas altas, estagiou numa empresa de renome, que na lista de melhores empresas se encontra a algumas posições abaixo da Jones.

Seu currículo foi indicação de uma funcionária que já estava na Jones a mais de 6 meses. Margareth, ou Maggie como gosta de ser chamada. Começou como estagiária e mostrou um ótimo desempenho dentro da equipe, o que fez sua efetivação vir mais rápido do que o habitual. De tanta insistência dela, resolvi chamar sua amiga para uma entrevista comigo. Geralmente quem faz as entrevistas são as meninas do RH, mas como o cargo seria para trabalhar diretamente comigo, eu faria a entrevista.

Terminei de tomar minha bebida e coloquei o copo no lugar, olho novamente no relógio que bate o ponteiro marcando 8:00 horas.

— Ela está atrasa... — Antes de continuar a frase, ouço meu telefone tocando, olho no visor e vejo o ramal da recepção. Aperto o botão do auto falante sem precisar tirar o telefone do gancho para atender. — Bom dia Valentina!

— Bom dia chefe! — a voz dela sobe um tom de animação, me fazendo revirar os olhos. Não era segredo para mim que ela tinha atração por mim, mas eu não misturo o pessoal com o profissional e o que eu procuro ela não está disposta a me dar. — A moça para entrevista chegou, mando entrar?

— Sim! — ela se despediu e eu desliguei a ligação.

Amor nunca esteve em meus planos e muito menos relacionamento sério, não me agrada e não tenho paciência para dividir minha vida com mais ninguém. Só faço isso com o meu terapeuta por insistência da minha mãe e porque ele é pago para me ouvir também. Não preciso tê-lo em minha vida 24 horas por dia e eu gosto disso. Aprendi a conviver com os meus demônios sozinho e vou permanecer assim!

Me levantei e fiquei de frente para a enorme janela de vidro que eu tinha, coloquei as mãos no bolso e aguardei a moça aparecer.

Aguardar...

Está aí uma coisa que eu não gosto. Não gosto de esperar, pois gera brecha para surpresas e isso faz eu perder o controle que eu tanto lutei para ter. Esses pequenos segundos entre o curto espaço de tempo entre ela chegar, fez eu me arrepender de decidir entrevista-la. O que ela teria de diferente de todas as funcionárias que eu tenho na empresa?

Não valia o meu tempo.

Tirei as mãos do bolso e coloquei para trás, impaciente. Já estava pensando em ligar para Valentina, quando ouvi alguns toques em minha porta.

— Pode entrar! — Permaneci na mesma posição que eu estava e pude ouvir o barulho do salto dela contra o piso da sala. — Bom dia Maria Eduarda, pode se sentar!

— Bom dia Senhor Caleb. Tudo bem? Muito obrigada por me receber. — Sua voz era doce e despertou em mim algo que eu desconhecia. Seria curiosidade? Tesão? Decidi me virar para acabar com a curiosidade que meu subconsciente estava martelando dentro de mim.

Nossos olhares se encontraram, seus olhos castanhos quase mel me deixaram desconcertados, não sei se seria bem essa palavra. Mas havia me causado sensações desconhecidas até o momento. Desci os olhos rapidamente pelo seu corpo, suas pernas estavam cruzadas e suas mãos sob elas, aparentando nervosismo e tensão. Já estava acostumado com isso, até me divertia vendo o nervosismo das pessoas com a minha presença. Era uma das poucas coisas que fazia eu me divertir por aqui. Eu sabia que era errado, mas... Nas histórias de conto de fada eu sou o lobo mal e na vida real consigo ser um pouco pior do que ele!  

Ela engoliu em seco assim que meu olhar encontrou o seu e ali, naquele breve momento, algo me dizia que ela iria virar minha vida do avesso e terminar de desgraçar minha cabeça.

Era uma pena...

Já que eu gostava tanto de desafios e de me foder também!  

Meu terapeuta que me aguarde depois. 

Cicatrizes e Demônios  |  Livro 2 [SEM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora