Conto - O Bombeiro - Final

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1

Mamãe trouxe Peter na hora do almoço, ele está feliz por ter tido esse tempo com a vó.

- Por que me olha assim? – Ela não para de me encarar.

- Como foi a sua noite?

- Boa. – Lá vem!

- Só boa? Eu duvido! – Olhei no corredor, para ver se Peter está longe.

- Foi ótima, mas não vou entrar em detalhes com a senhora. – Sem chance dar mais informações para minha mãe. – Todas as vezes, muito maravilhosas.

- Está na sua cara, filha. – Ela riu. – Se protegeu?

- Claro, não sou adolescente. – Sem chance de arriscar. Amo meu filho, mas por enquanto a fábrica está fechada.

- Eu sou um adolescente? – Peter veio do quarto, trazendo um brinquedo nas mãos.

- Não, você é o meu bebê! – O abracei, enchendo seu rosto de beijos. – Quer comer bolo de carne?

- Sim! O papai também gosta, guarda um pedaço para ele? – Seu olhar apreensivo.

- Eu guardo, mas você precisa ir fazer o dever de casa. – Ele fez uma careta. – Amor, precisa estudar para ser um homem muito inteligente.

- Só porque eu quero ser um astronauta. – Resmungou resignado e foi a apanhar a mochila que deixou no sofá da sala.

- Quer ajuda com o almoço? – Mamãe ofereceu.

- Sim, saí da cama tarde hoje.

- Com um atrativo daqueles eu estaria lá até agora. – Ela falou, partindo para cozinha.

Eu não contive a risada, afinal, gostaria de estar na cama com ele.

2

A audiência sobre o divórcio será amanhã, hoje Barry levou Peter para a um jogo de baseball. Ele não quis subir e pegou o garoto na portaria. Está agindo assim desde de que o mandei sair naquela noite. Sem tempo para o drama dele, continuo empenhada em conseguir algo importante.

- Onde está o Peter? – Ele entrou sozinho.

- Com a minha mãe, temos que conversar. – Seu tom sério.

- Eu não dei permissão para isso, vá buscá-lo. – Meus nervos afloraram.

- Quando quer sair com seu bombeiro, o larga com aquela velha. – Começou, o festival de palhaçadas. – Pensa que não sei! Está deixando seu filho de lado para cair na noite.

- Pare com isso, não tem o direito de falar assim comigo. – Endureci o tom.

- Você ainda é uma mulher casada. – Me olha de cima a baixo. – A minha esposa! Não pode sair por aí com um qualquer, se exibindo.

Eu sabia, até que ele demorou para criar caso.

- Barry, eu não sou sua! – Explodi. – Estamos separados e com o divórcio pronto. Não tem o direito de dizer como devo viver.

- Eu tenho, quando coloca homens em sua cama com o meu filho por perto. Se tornou uma mulherzinha inútil e fácil!

- Não fale assim comigo! – Senti o gosto da raiva na boca. – Quando foi que perdeu o respeito por mim? O que eu fiz para merecer ser tratada dessa maneira?

Ele levou as mãos a cabeça.

- Nada! Você não fez nenhum esforço para resgatar nosso casamento. Simplesmente desistiu de mim. – Barry confessou sua mágoa.

- Você desistiu de tudo quando me traiu e humilhou diante de tantas pessoas. Barry, está usando o nosso filho para me punir pelo seu erro!

- Eu não quero perder você, sinto a sua falta e de nossa família. Vamos tentar mais uma vez, eu posso perdoar essa bobagem com o bombeiro. – Por Deus, até para tentar a última chance continua sendo um cretino.

Controlei a raiva.

- Ouça com bastante atenção, pois eu não vou repetir. Acabou, não tem mais volta. Siga o seu caminho e deixe-me seguir o meu. – Lágrimas escorreram pelo rosto dele. – Se algum dia eu realmente signifiquei algo para você, tenha a decência de respeitar a minha decisão.

Ele enxugou o rosto, me olhou por mais alguns instantes e caminhou para porta.

- Vou buscar o Peter. – Falou e saiu.

Conheço aquele olhar. Ele finalmente enxergou o fim.

3

Barry assinou os papéis do divórcio e não contestou nenhum dos pedidos da minha advogada. A casa será vendida e o dinheiro investido em um fundo para os estudos de Peter. Além do suporte mensal com a educação e necessidades do garoto. Para mim, eu abri mão da pensão, não quero e não vou precisar. A soma que ganhei na partilha dos bens é o suficiente para o meu objetivo e irá sobrar.

Agora atendo pelo meu nome de solteira, Viola Johnson. Chega de carregar por aí o sobrenome de um passado. Além da mudança de nome, também mudei de profissão. Sou a nova proprietária de um café. Que era a antiga confeitaria, das tortas preferidas do meu filho. O café se chama Peter Pie's. No cardápio incluí meus cupcakes e outras receitas de família. Pelo menos o dinheiro do divórcio serviu para algo bom, a minha liberdade e estabilidade.

Meu namorado, sim, ele finalmente ganhou seu lugar de titular, tem sido um anjo. Sempre que tem um tempo livre vem ajudar no café. Peter e ele estão criando um bom relacionamento, sem grande pressão.

- Linda, terminei de fechar lá na frente e todos já foram. – Ryan alertou.

- Obrigada, eu vou só pegar a minha bolsa. – Fui até o escritório, sempre saímos pelos fundos. – Quer ir beber algo?

Peter está com o pai, ficou acertada a guarda compartilhada. 15 dias comigo e outros 15 com Barry, sem que nem um de nós assuma mais responsabilidade que o outro.

- Hoje não, podemos ir para casa e namorar um pouco? – Ele me abraçou.

- Sempre!

- Que bom, porque eu adoro ficar com você. – Passei os braços em volta do pescoço dele. – Eu te amo, Viola.

E assim como tudo entre nós, o eu amo veio sutil.

- Eu amo você, Ryan. – Falei com muita alegria.

Ele sorriu e depois beijou minha testa.

- É uma honra estar ao lado da grande estrela do time. – Eu ri. – Fecha a porta.

Estamos no meu pequeno escritório, nos fundos do café.

- Sério? – Ele assentiu, eu empurrei a porta com o pé. – E agora, Ryan Cody?

- Vou beijar sua boca, abrir sua blusa e...

O calei com um beijo urgente.

Quem disse que bombeiro só apaga incêndio, o meu sabe causar!

FIM

Coletânea Fardados - ContosWhere stories live. Discover now