Conto - O Soldado - Parte 3

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LARA

Caminhamos durante parte do anoitecer. Até encontrar um local afastado da margem do Níger e montar um pequeno acampamento. O capitão fez a fogueira no lado oposto da corrente de vento, para evitar que a fumaça chegue ao norte onde estão os rebeldes.

Apesar da caminhada, a pressão da Amara baixou. Não está no nível ideal, mas considerando a situação que estamos, é um pequeno progresso. O dr. Roy, após tomar alguns analgésicos melhorou a disposição, porém é apenas um inibidor de sintomas.

- Adisa, você precisa comer. – Sentei-me ao lado do adolescente.

- Estou sem fome, dra. Miller. Pode dar minha parte para uma das crianças. – Disse, com o semblante cansado.

A tristeza em seus belos olhos escuros, é de deixar o coração apertado.

- Eu sei que a tristeza tira todo a nossa força, contudo é preciso lutar contra ela. – Abri o pacote de biscoitos. – Coma um pouco, para que amanhã tenha energia.

- Eu só quero encontrar os meus pais, eles estão na Costa do Marfim. Vim ficar com o meu tio, que estava muito doente, ele não teve chances doutora.

Com a claridade vinda das chamas, pude perceber que o jovem está chorando.

- Eu sinto muito, Adisa. – Toquei o ombro dele. – No entanto, você ainda tem. Estou certa de que seus pais estão a sua espera, se fortaleça para continuarmos.

Ele apanhou o pacotinho de biscoitos e pegou um pouco.

- O capitão me contou uma história, sobre um jovem no país dele que viveu dentro de um carro. – Comentou.

- Eu conheço, ele a contou para mim. – Olhei para o homem, está repassando estratégia com o Tyler. – Foi muito difícil para o jovem, sem o pai e vivendo com a mãe nas ruas. Mas ele não desistiu, continuou lutando até conseguir mudar de vida.

- Cap. Miller, disse que o jovem é um militar e ainda cuida da mãe. – Falou, e comeu mais um pouco.

Eu sabia que conversar com Sam, seria bom para ele.

- Sim, ele é um grande homem atualmente, muito honrado. – Voltei a olhar para o capitão, quem dá vida aquela história.

***

Algumas horas passaram, creio que são duas da manhã. Sam, quer partir logo ao nascer do sol. Serão alguns quilômetros até o ponto de resgate. Uma outra equipe virá a nosso encontro, eles estão vindo partindo da Costa do Marfim, onde a presença do nosso exército não sofre tantas represálias.

- Você não dormiu nada. – Falou o capitão, sentando ao meu lado no chão, sobre algumas folhas secas.

- Impossível dormir. Tenho que ficar de olho neles, inclusive no dr. Roy. – Vi ele tomando outro analgésico, passada apenas 1 hora da dose anterior. São a base de opioides.

- Ele está chapado. – Sam afirmou, acertando. – Devo me preocupar?

- Fica alerta, porém, eu vou tentar conversar com ele. – O fitei brevemente. – Você também não descansou, o Ty está de vigia, aproveita.

- Não, eu não consigo desligar. – O olhar dele na fogueira.

As chamas reluzem na viçosa barba dourada, um novo atributo que ele cultivou. Sem ela continua bonito, como aqueles modelos das revistas. Senti meus dedos formigarem de vontade de tocá-la, saber se é macia como o cabelo.

- A sua mãe deve estar furiosa com essa barba. – Comentei.

Catherine Miller, não é fã de nada que não aparente ter saído dos anos 50.

Coletânea Fardados - ContosWhere stories live. Discover now