Vulnerável

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Meus dia tem sido bem menos trabalhosos do que imaginei que seriam, pensei que Jungkook ficaria quietinho para descansar e se recuperar bem, não foi exatamente isso o que aconteceu, ele está sempre em movimento, sempre encontra algo para fazer, nem que esse algo seja única e exclusivamente para se manter longe de mim.

Entro na cabana após pegar algumas lenhas para aquecer seu interior e encontro Jungkook com a carta em mãos me encarando.

- Por que motivos você tem uma carta que vem de minha corte guardada ? - ele me encarava com um olhar analítico, fui até perto da lareira para deixar as lenhas ali, então respiro fundo.

- Eu a recebi assim que a batalha de findou - encarei seus olhos verdes, que me encaravam de volta.

Algo que Jungkook não tem feito muito ao longo desses três dias que estamos aqui é me encarar, ele se mantém o mais quieto possível, quando estou no interior da cabana ele está lá fora, quando estou lá fora ele vem para dentro, me evita de todas as formas possíveis, o único contato que temos é na hora de dormir, temos apenas uma cama aqui e por mais que tentemos manter distância ao dormir, sempre acordamos entrelaçados um no outro.

Ontem quando acordei o encontrei me encarando enquanto dormia, eu estava deitado sobre seu peito e pude sentir seu coração acelerar quando o encarei, não consegui evitar o sorriso que se formou em meus lábios e ele não conseguiu evitar seu rosto avermelhado instantaneamente, mas assim que levantamos ele fingiu que nada aconteceu.

Então estamos assim esse tempo todo, Jungkook evitando ter qualquer contato comigo, ou até mesmo me olhar nos olhos.

Mas eu sei, sei que meus olhos são o motivo desse distanciamento, sei que são eles que causam dor nele, assim como os dele já me causaram essa mesma dor, eu só não compreendo o motivo deles estarem assim, se o que sinto por ele foi mantido por conta da marca em minha mão.

- Sobre o que esta carta fala ? - ele a colocou na mesa e se sentou na cadeira.

- Não sei, até hoje não a li. - Ele me olhou confuso.

- Por que não ? - sua pergunta é totalmente válida, mas como a responderia ?

Como vou explicar para ele que não quis ler por que não queria mais nenhuma ligação com seu reino ou até mesmo com ele, como vou explicar que enquanto ele havia se entregado por mim a algo desconhecido eu apenas o ignorei mesmo não sendo ele quem enviou a carta, mas poderia ser algo sobre ele, o conteúdo da carta que poderia ser algo muito importante e é, como vou explicar isso tudo, mas o pior é imaginar como será a sua reação ao descobrir tudo isso.

- Eu não sei - foi apenas o que consegui responder.

- Você não sabe ? - ele encarou a carta.- Eu posso a ler ?

- Não - ele continuou me encarando e isso me incomoda, para quem não me olha direito há dias, hoje está encarando até demais.

- Por que não ? - seu olhar era quase acusatório em minha direção, como se eu estivesse mentindo sobre ter lido a tal carta.

- Jimin não teve uma reação muito boa quando leu, não sei se seu psicológico está bom o suficiente para o que tem aí - ele assentiu.

- Então leia para mim - pegou a carta e a estendeu em minha direção.

- Eu não sei se quero a ler - minha voz estava mais baixa que o normal.

- Você está sem saber muitas coisas Taehyung, o que há com você ? - realmente, talvez eu apenas não saiba de nada, talvez eu esteja perdido, abaixei meu olhar e respirei fundo.

Vulnerável.

Nunca me senti tão vulnerável quanto agora, nem sei o motivo mas meu coração parece doer a cada palavra que Jungkook fala e a cada reação dele em me evitar me tira um pedacinho da razão que ainda tenho, talvez eu esteja carente, talvez precise alguém que me ame junto a mim, nunca fiquei tanto tempo longe da minha família, faz semanas que não falo com nenhum deles, há semanas não tenho nenhum contato com as pessoas que me amam, deve ser exatamente isso, falta de afeto, falta de amor, cuidado e amparo, a falta dessas coisas podem nos deixar vulneráveis e perdidos, completamente perdido.

- Taehyung, olhe para mim - ouvi Jungkook pedir, o que chega a ser uma ironia, logo ele que evita me olhar a todo custo, respirei fundo e olhei em seus olhos por um breve momento. - O que há com você mimadinho ? - Apenas neguei com a cabeça.

- Certo, você não sabe, tudo bem Mimadinho, ninguém é obrigado a ser forte o tempo todo, você tem sido muito forte, muito mesmo mimadinho, olhe em meus olhos. - Ele ergueu meu queixo com a ponta dos dedos.

- Se você não quer ler a carta tudo bem, mas eu quero a ler tudo bem para você ? - neguei novamente.

- Eu vou ler - ele afirmou e sorriu pequeno ainda segurando meu rosto.

"- Docinho, estou precisando de você comigo agora. - clamei para que o docinho aparecesse mais uma vez.

- Estou aqui mimadinho, sempre estou aqui para você, seja forte - ele me respondeu como se já esperasse o meu clamor por ele.

- Obrigado docinho."

Sentei na beirada da cama e peguei a carta em minhas mãos, meu coração dispara cada vez mais, medo de ler o que há nessa carta, medo de ter sido tão teimoso a ponto de perder partes importantes dos acontecimentos apenas por minha teimosia, medo de ler o conteúdo e descobrir que muita coisa poderia ser evitada caso eu a tivesse lido mais cedo, Jungkook me olha apreensivo mas calmo, o que me deixa ainda mais em pânico, então a abro.

Mal terminei o segundo parágrafo e meu coração já está despedaçado, então outro parágrafo que contém a explicação do por que o rei de Figther age daquela forma, o motivo da adaga ser usada, o fato de que se fez monstro para proteger quem ama, então toda a demonstração de amor, toda a explicação de ter se tornando quem era e ter feito seus filhos fingirem ser quem não são, tudo para que fossem protegidos, tudo para que em algum momento conseguissem ser feliz todo seu ato de altruísmo e amor por seus filhotes, e o altruísmo de Jungkook ali estampado, como um tapa em minha face, a descrição perfeita de um pai orgulhoso de seu filho alfa dar tudo de si para salvar quem ama,  para salvar seu omega, inclusive abdicar de sua própria felicidade para que ele fosse feliz.

Meu coração está em pedaços, não quebrados, mas totalmente estilhaços, sem ter como se recuperar dessa vez.

Como uma flor, que morreu em seu tempo findo.

Sinto, apenas sinto que nada é capaz de fazê-la reviver, nem a mais florida primavera.

A Última Carta SeladaOnde histórias criam vida. Descubra agora