UM

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↬ Borboleta 

O vento batendo em meu cabelo. A música no último volume, as janelas abaixadas, sozinha em uma BMW. Com a companhia da lua.

 Sozinha.

 Como sempre.

 Sempre me disseram que eu era perigosa. E eu sempre perguntava o por quê. A resposta era sempre a mesma: "Porque você não precisa de ninguém". Eu sempre sorri ao ouvir a resposta. Pessoas deixam memórias, e as memórias te matam, lentamente. Vão tirando pedaço por pedaço da sua alma e da sua sanidade mental. 

 Deixo o carro na garagem de meus pais, mamãe viajou, mas papai está aí, e não existe alguém mais odioso que ele.

— Stella? — Ele pergunta os olhos azuis me encarando por cima de seu jornal — Por que chegou tão tarde? — Sinto nojo na sua voz — E, oh céus o que está vestindo? Pelo amor de Deus, vai fazer dezessete anos não pode se vestir desse jeito! James e Marianne estão vindo da França para lhe ver, chegam amanhã. Se arrume adequadamente, uma roupa mais apropriada — Já estou cansada de sua voz mas apenas respondo num tom tedioso:

— Sim papai, vou fazer o melhor que posso. 

— Estudou para a prova do mês que vem? — Ele pergunta.

— Não, se a prova é mês que vem vou estudar mês que vem.

— E como pretende entrar em Harvard desse jeito? — Ele pergunta dobrando o jornal.

— Não pretendo ir a Harvard, pretendo ir a Oxford, assim como a mamãe.

— Sua mãe é uma péssima influência. — Ele diz em tom de desgosto — Suba já, e só desça quando tiver decorado toda matéria para as provas.

 Disparo em direção a escada. E escuto sua voz ao longe:

— Abitha! — Abitha é nossa empregada, minha favorita devo lhe informar. — Rápido. Arrume uma roupa decente para Stella. Precisa estar apresentável para amanhã.

 Queria poder me jogar de uma ponte. 

  Meu tio James faz parte do conselho constitucional da França, é a mais alta autoridade constitucional da França e tem como função fiscalizar a aplicação da Constituição.

 Sua filha, Madisson é detestável, fica se exibindo pelo fato de namorar um modelo em L.A, fala sério, eles nunca se viram pessoalmente.

 Entro no meu quarto e sento na escrivaninha, observo a pilha de livros e cadernos. Mas apenas duas coisas me chamam atenção: tinta e pincel. 

 Quem liga para Harvard? Rapidamente pego meus fone e coloco Lana Del Rey. Coloco um avental, pego um quadro e desenho, não sei o que, saberei no final, coloco toda minha mágoa e sentimentos em um quadro e logo o olho, uma borboleta... Saberei mais tarde o que significa.

 Abitha logo entra no quarto carregando um vestido que parece ter duas toneladas.

— Não — Digo quando entra em meu quarto —, não vou usar isso nem que me paguem.

— Vamos Stella, vai realçar a cor dos seus olhos — Ela diz colocando o vestido azul em cima de minha cama —, além de que lembra muito o vestido da Cinderela, era sua princesa favorita.

— E depois? — Começo — Vou cair em um sonho profundo e esperar um príncipe encantado me acordar com um beijo? Passo, muito obrigada. 

— Faça isso pela sua mãe, ela iria adorar te ver usando um vestido tão lindo como esse. — Ela diz colocando as mãos em meus ombros — Ficaria surpresa em te ver de vestido, você quase nunca os usa.

 Abitha vai em direção a porta mas logo para.

— Uma borboleta, é um belo sentimento. Deveria aprimorá-lo. — Ela diz saindo do quarto.

  Me lembro da música da Lana Del Rey:

 "A felicidade é uma borboleta.
 Tento pegá-la, tipo, todas as noites.
Ela escapa das minhas mãos direto para o luar
Todo dia é uma canção de ninar
Cantarolando no celular, tipo, todas as noites
Canto para os meus amores na vida de turnê, ah"

 Com certeza uma de minhas favoritas.

 Me olho no espelho. Estou manchada de tinta, tiro o avental e solto os cabelos dourados, os forçando a cair sobre meus olhos azuis. 

A felicidade é uma borboleta. Espero pegá-la um dia.

 Durmo pensando nisso.








































































































































































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