MINHA CULPA?

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Stella

 O chão do quarto é frio, passei a noite inteira aqui, abraçando meus joelhos, como uma criança que foi privada de sua infância

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 O chão do quarto é frio, passei a noite inteira aqui, abraçando meus joelhos, como uma criança que foi privada de sua infância. Minha mãe continua morta na cama acima de mim, não tive coragem de olhar seu rosto, desde que o homem de preto saiu de minha casa.

— Stella! — Escuto uma voz ao longe, não sei quem me chama, por mais que reconheço a voz — Stella, Onde está? 

 Vejo o rosto de Lany na porta, seguido pelo de Helena.

— Oh, meu Deus — Helena solta, como num sussurro.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Pergunto ainda abraçando os joelhos.

 Lany olha em volta antes de responder:

— Nessa situação você não pode fazer essa pergunta. — Lany diz sentando-se ao meu lado.

— Vocês viram isso? — Helena começa apontando para o cadáver em cima da cama — Ou estão com medo de ver?

— Helena, senta aí, claro que vimos, tem sangue para todo lado. — Lany responde.

— Como você está? — Helena pergunta se sentando do meu lado.

— Eu não sei, quebrada? Talvez. — Eu respondo, meus olhos estão inchados, não tenho mais lágrimas para por para fora.

— Como está seu coração? — Lany pergunta.

— Acho que quebrou, junto com a minha alma. 

— Eu sinto muito. 

— Quer dizer, é. Eu não precisava de um coração, quem liga se está quebrado?

— Venha não podemos deixá-la aqui. — Helena diz se levantando.

— Eu não posso deixá-los aqui, são minha família. — Eu falo finalmente soltando meus joelhos.

— Você precisa, vou ligar para alguém limpar essa bagunça — Lany começa — Helena, a leve para sua casa, chego lá em  15 minutos. 

 Helena estende a mão para mim, com os olhos cheios de compaixão.

— Você vem?

— Olhe em volta, não tenho para onde ir no momento. — Digo aceitando a ajuda para levantar do chão.

 Sigo Helena até o quintal da minha casa, esperava ver Azure, mas ao invés dela vejo um leão. Me assusto, óbvio, você também se assustaria se tivesse um leão no seu quintal. O leão apenas me encara e se estica, ele tem... Asas. Seu pelo é quase dourado com a juba e as asas brancas peroladas. Sua postura é intimidadora. 

— Stella, conheça Kion. É o penúltimo leão alado, com sorte encontraremos Adelaine e a espécie estará livre de extinção.

— Ele é... Maravilhoso. — Eu digo. E por um momento apenas observo a beleza do animal, me esquecendo completamente que fiquei órfã.

— Suba, antes que a lua suba ao céu. — Uma voz ecoa na minha cabeça.

— Não se preocupe, Kion sabe falar com outras espécies. Agora, obedeça. — Ela fala e eu subo em Kion, tremendo com medo de ser devorada.

 Enquanto voamos, me pergunto se tudo isso é apenas um sonho. Se pela manhã acordarei e voltarei a rotina chata e costumeira. Poderia abraçar a ideia, se não soubesse a verdade. Agora preciso aprender, a ser forte sozinha. Enterrar a Stella fraca e deixar ressurgir dos mortos a que a muito tempo afoguei com as lágrimas de minha consciência. 

 Se estou com medo? Obviamente. Mas isso é bom, não é? Ninguém cresce na zona de conforto.

 Estou pronta para secar as lágrimas e seguir em frente. Preciso encontrar o garoto que matou minha família, e matá-lo. Talvez isso não me deixe forte, mas talvez me sinta bem comigo mesmo, espero estar certa. 

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

 Chegamos a casa de Helena, Kion foi para casa, seja lá onde fica. Lany mandou uma mensagem — foi bastante estranho, a carta chegou por um pássaro preto falante — dizendo que virá amanhã. Estou enjoada, talvez vomite. Não ligo muito para isso agora. Estou tentando dormir a quinze minutos, é impossível dormir quando a tanto em sua mente.

— Stella? — Helena começa — Está bem?

— Eu sou tão ruim assim? 

— O que? Não, claro que não. Você não é uma má pessoa como pensa.

 Helena tem razão, eu sou muito pior, talvez melhore. Espero não ser aquelas pessoas sem conserto. Desde que cheguei, digo para mim mesma de que tudo é um sonho, que eu não precisarei acordar a verdadeira Stella, que meus pais não morreram. Que Spiritlife não existe ou que qualquer coisa que aconteceu nos últimos dois dias, foram apenas peças pregadas pela minha consciência.

 Sei que estou mentindo para mim mesma. Sei que tudo isso é real, terei que lidar com isso. Todos nós comemos mentiras quando nossos corações estão com fome. Mentimos para nós mesmos, o tempo todo. Dizemos que estamos bem quando na verdade, estamos quebrados a muito tempo. Durmo cruzando os dedos. Torcendo para que tudo isso seja um pesadelo, torcendo para que eu acorde de tudo isso. Caso eu não durma, espero que eu morra.




























Taxista fantasmaWhere stories live. Discover now