A Teoria do Corre

A Teoria da Tensão

Gotas de suor com a mesma frieza da brisa do fim de noite.

Garganta seca pra combinar com o tom de voz que em momento algum abria margens para brincadeira apesar do riso curto, sinal de seu desprezo à vida alheia. Conhecido pelas dezenas de assassinatos à sangue frio, Marola contava corpos com o mesmo desinteresse com que ajudava a mãe a catar feijão durante a infância. Qualquer dúvida da seriedade dele em disparar seu AK-47 se foi quando Malta o olhou por sobre o ombro e tragou saliva diante da face da morte.

— E aí, mina. Eu te mato ou não mato?

— Marola? Yo no te quero mal algum. Por favor, baje isto.

— Eu baixo o meu fuzil quando eu bem entender. Agora vira na maciota, com bastante cuidado, e olha pra mim. Se tentar correr, no primeiro passo cai tu e teus pouco miolo no chão.

— Precisas disto todo? O que queres comigo?

— Manda tu o teu papo. Por que tu tá falando de morador da minha favela pra jornalista? Perdeu a noção?

— Yo?

— Num te faz de besta não. Eu ouvi que tu tava falando com aquele tal de Phelipe e ouvi tu citar a Krystal. Que porra é essa de falar com imprensa no meu morro?

— Yo no falo como imprensa. Antes de ser profissional, Phelipe es mi amigo e no procura Krystal por su trabajo y si como su amante.

— E pra isso precisa ligar pra tu e tu precisa se esconder?

— Yo entendo que no lo queres por aqui. Me pergunto se por conta del trabajo de Phelipe o por conta de tu ciúmes por Krystal.

— Mina, quem fode com quem nessa porra não é da minha conta. X-9 já é outra história. Pra que falar na encolha se é só besteira?

— Yá te estaba a contar. Phelipe y Krystal son amantes y ele a queria ver hoy para comemorar con ela, pero no consegue contato y me pediu ayuda.

— Tão boazinha tu, né? Quero saber de nada não, cupido. Passa o celular!

— Achei que no roubasse por tu área.

— Falou bem, minha área. Aqui eu mandou em tudo, em todos e agora eu tô mandando tu me dar a merda do teu celular antes que eu atire nele e em você. Isso, desbloqueia. Se eu achar uma mensagem, uma foto...

— O que? Sabes que si me apartar del Cabo, yo llevo conmigo el major patrocínio de Krystal.

— Tu se acha muito esperta, né? Todo mundo é valente até ter uma arma geladinha na testa, né?

— No terias coragem. Sabes por acaso quem soy?

— Meu gatilho não tem preconceito. Pode ser homem, mulher, nascer com um e depois descobrir que é outro, os dois, não ser nenhum dos dois, pode ser pobre, pode ser rico. Não faz diferença. Quero ver se tu tem dinheiro o bastante que te resgate do inferno. Vai continuar achando que a tua herança compra tudo ou vai entender que pra mim o teu sobrenome e nada valem a mesma merda?

— No compreendo porque me tratas así ahora. Yá foste tan más gentil comigo...

 — E se tu soubesse o quanto que eu me arrependo... Mas passado a gente não muda. Não importa mais se tu me deu ou como deu, assim como não importa a tua bela ficha na Argentina. 3 passagem por furto, já posso te chamar de cleptomaniaca ou só de ladra burra que deixa te pegarem? Que é? Eu pesquisei muito sobre tu, sabia? Patricinha papo goodvibe "aí como eu odeio gente rica" enquanto teu papai te banca. E teu pai é coisa grande, né? Um monte de negócio, político importante...