A Teoria da Satisfação

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Marola não soube nem porque contrariou seu toque de recolher e seu orgulho pra ir atrás de Krystiellen no ateliê.

Rancoroso demais pra aceitar sorrisos, beijos e abraços como se nada pesasse entre eles, a pegou de surpresa ao rejeitar seus carinhos e ir direto ao ponto:

— Diz aí, se divertiu?

— Fala baixo que minha vó tá dormindo. Que tom de voz é esse?

— Tom de voz? Tem tom de voz nenhum não, Krystiellen, tô só fazendo uma pergunta. Se divertiu na viagem com o teu amante?

— Tá difícil me escutar? Eu não viajei com amante nenhum, tá bom? Nem esse tipo de intimidade eu tenho com o Phelipe.

— Então eu tô doido? Tô maluco? Eu ouvi, Krystiellen, foi ninguém que me contou não. O tom que esse cara chegou em tu numa altura que deu até pra imaginar o quão perto ele chegou do teu ouvido, eu escutei até tu chiando com a voz dele no teu pescoço. Se isso não é intimidade é o quê? Hein? Me diz, Ellinha. Toma coragem pra assumir tuas merda, porra.

— Eu entendo que tu tá com raiva, mas eu não vou assumir um caô que não é meu só porque tu tá puto comigo não, Marola. Eu tô querendo me explicar, tu quer ouvir? Porra, Marola! Na real, eu já tô uns três dia com isso entalado contigo me ignorando, po. Tu sabe que eu odeio quando tu me ignora de propósito.

— No dos outro é bom, né? Eu já entendi que tu se divertiu tanto que num teve tempo pra dar um Google e ficar sabendo do que tava rolando na favela, se morreu, se tava vivo mas teve pra ficar em festa se amassando com o cara. Podia nem dar uma pausa pra falar comigo sem ele por perto, foda-se se ele ia descobrir quem era. Custava avisar pra ligar outra hora que tava ocupada? Caía a mão dizer pro trouxa aqui que ia viajar com ele? 

— Falando assim, parece até que eu fiz de sacanagem. Eu não saí daqui planejando nada com o Phelipe não, Marola. Aconteceu dele ter uns compromissos em São Paulo e a gente pegar o mesmo avião...

— Aí evoluiu pra pegar o mesmo hotel, mesmo quarto, mesma cama...

— Marcílio, se tu num quer me escutar, tu me avisa que eu meto o pé pra minha cama. Credo, homem. Tô aqui numa boa te dando uma satisfação que eu nem te devia. Eu falei, corto o Phelipe? E tu disse "não...".

— Porque tu falou que num tinha nada demais com ele, aí tu vai e me viaja com o cara, Krystiellen. Que porra é essa? Tá de onda com a minha cara?

— Eu tô tentando te explicar que eu não viajei com ele, mas se tá tão difícil me ouvir, melhor tu ir embora. Morre aí engasgado no teu orgulho!

— Morrer eu já morri quando eu passei uma semana tentando falar com a minha mulher e quando eu consegui ela tava quase na cama com outro. Num vem pra cima de mim não, maldita. Te trato no maior carinho, mó amor, mas respeito é pra quem dá respeito. Tá mais calminha? Agora vai, responde a minha pergunta: se divertiu na tua viagem com o teu amante? Eu não quero nem satisfação, Ellinha, eu só quero que tu olhe na minha cara e diga a verdade que tu não me contou antes.

— Eu já tô falando a verdade, tá bom? O que aconteceu foi só uma série de coincidência. Aconteceu da gente se encontrar algumas vezes em São Paulo, sim, mas tu acha que eu ia levar a minha vó na viagem se eu tivesse de má intenção?

— E aquilo na ligação foi o que então?

— Eu não sei o que deu nele, já é? Do nada ele chegou daquele jeito e acabou com o nosso momento, eu soltei os cachorro em cima dele depois. Eu tava esperando tu me ligar, eu já tinha tentado o dia todo sem conseguir, até levei o outro celular pra festa do contratante. Me afastei de todo mundo pra conversar contigo, queria saber se tu tava bem, eu não tava sabendo de quase nada sobre tu, só soube que a Gracinha levou um tiro...

A Teoria do CorreWhere stories live. Discover now