A Teoria da Origem

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Papel, café, mais papel e dor de cabeça. Muito mais papel? Ah, mas que surpresa!

Colírio nas vistas exaustas de tanto ler letras miúdas. Apertos recorrentes na esfera de silicone como exercício para evitar a estafa do pulso, seu maior instrumento de trabalho, depois de uma série de assinaturas, correções de trabalhos escolares e algumas declarações escritas à mão para comprovar a autenticidade dos quadros vendidos durante a semana.

Entre um mar de artistas que lutava para sobreviver, Krystiellen representava um número irrisório de pintores com sucesso crítico, público e financeiro. Boa parte desse hype em terras brasileiras se devia à sua nova imagem filantrópica, tá aí a importância de se manter longe de problemas públicos como que entrou por sua porta e lhe surpreendeu com uma massagem bem vinda.

— Marola... – chamou entorpecida pelo chamego acertado no cangote. – Marola, para de malícia e me fala logo o quê tu veio fazer aqui?

— Tá arredia hoje, hein? Desde domingo passado que eu não te vejo, po, tava com saudade. Passei não sei quantos dia longe, uma hora eu ia querer extravasar essa vontade acumulada. Ainda mais tu aí com essa marquinha que me deixa louco...

— Tira essa mão do meu do meu decote e nem vem pra perto do meu pescoço com essa voz que eu não tô pra tu hoje não. Ainda mais aqui dentro...

— Quem não arrisca não petisca, né? Mas eu também não vim só atrás disso não, já é? Primeiro, toma teu pote.

— Porra, tu só lembrou de trazer o pote quase uma semana depois?

— Até parece que tu tava fácil de achar esses dias. Eu ia fazer o que? Bater na porta da tua vó e mandar um "aqui, dona Dita, o pote de lasanha que tua neta afanou pra mim, tava uma delícia."? Onde tu se enfiou que eu tô desde segunda te procurando.

— É gostoso quando a gente some e não dá satisfação de nada, né? Desconta dos 55 dia.

— Eu vou é acrescentar nos 3.650 que tu ficou longe já que é pra jogar na cara. Porém, eu também não vim pra isso não, quero saber se tem alguma novidade.

— Não, eu tava fora a semana toda. Fui gravar um curso de pintura pra uma plataforma online em São Paulo, por isso que eu sumi e acumulei trabalho interno pra caralho. Cheguei hoje cedinho, quase perdi a hora da minha aula porque hoje acabou mais cedo. Por que? Fiz tanta falta assim?

— Fez, charmosa, mas né só pra essas coisa não. A mina lá deu uma sumida?

— A Malta? Parece que ela veio aqui segunda, toda assustada, mas eu já tinha ido embora. Não me pergunte o que ela falou porque entrou por um ouvido de Mimi e saiu pelo outro, que ela nem tem saco pro chilique dela.

— Sou obrigado a concordar com Michelle. Krystiellen, se tu for mandar qualquer caô referente a eu ter pegado essa menina, me avisa que eu já vou logo embora.

— A verdade dói, né? Mas vou te dar um desconto. Ainda sobre ela, parece que ela foi pra Argentina resolver uns problemas do pai e nem veio hoje dar aula. 

— Ela nem te procurou pra falar do jornalista que tanto tava te procurando? Ligação, mensagem?

— Não, nem notícia depois que ele ligou preocupado pra saber dela, aquilo que eu te falei que ele ficou cabreiro de do nada ela desligar, que teve medo de machucarem ela por tá falando com ele.

— Sabe nem mentir. Se tivesse preocupado de verdade, nem tinha metido ela nessa. Foi só isso?

— Ah, ele mandou um abraço pra minha mãe. 

— Eu digo que ele apela. Puxar sardinha pra tua vó meter pressão. Pior que tua vó deve se amarrar na dele, né? 

— Mãe Dita já sabe que quem tem que escolher com quem eu saio sou eu. – nem o abrir e fechar do arquivo barulhento abafou o estalo labial de Marcílio. – O que houve? Ela te procurou de novo e tu num me contou? Poxa, Marola, achei que tu me contasse as coisa. Da outra vez tu veio cheio de marra pra cima de mim...

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