A Teoria Daquelas Que Falam Demais

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Flashes a cegaram por todo o caminho do IML à delegacia.

Cercada por jornalistas, Malta usou as mãos para esconder o rosto das câmeras ávidas em expor o rosto por trás do “crime que chocou o país”.

¡Soy una víctima! – repetiu cansativa, à toa.

De quê servia sua palavra ante a série de provas e testemunhas condenatórias? Contra seu discurso, o coro de repórteres reforçavam a opinião pública: Phelipe Braga Araújo logo seria dado por morto graças às ordens e comparsas da maquiavélica, fria e calculista Malta Petra Santamarina, sua noiva. Aquele que morreu nas mãos de um grande, porém perverso, amor. Qual jornal não renderia horrores com uma chamada dessas?

— Assassina, assassina! – revidou o coral de curiosos em apoio à mãe da vítima, isso alto o bastante para abafar suas clemência.

Humilhada, exaurida e tonta, Malta engoliu o choro pra preservar a dignidade durante os protocolos. A tinta nojenta com que gravaram suas digitais. A placa imunda que segurou na maldita sala onde registraram sua derradeira inserção no sistema prisional. Apenas mais um flagrante desesperado entre tantas outras detentas ali fichadas.

A humilhação requintada de se preocuparem em isolá-la das afiliadas à TdC ou mesmo à FeJ temendo o que não fariam com uma parente de Romana Braga, aquela contida por uma dezena de policiais para não seguir a nora até arrancar dela o que mais queria ouvir:

— Confessa! Fala o que você mandou fazer com o meu filho, Malta. – exigências imersas em angústia.

Coração de mãe dilacerado ainda batia ritmo forte, veloz. A razão perturbada pelo misterioso sumiço de Phelipe impedia a distinção entre o instinto materno e o delírio de viver um pesadelo, apenas. Se ouviu um incompreensível lamento quando ela se forçou aceitar o óbvio. Borrou a maquiagem ao enxugar os olhos onde se acenderam as chamas da Justiça e quis, se não o filho, a certeza de vida ou morte que amenizaria a queimação do íntimo.

— Fala pra mim onde ele tá! – diante da quietude, a sacudiu pelos cabelos. – Agora, vamos, me fala onde o Phelipe tá!

¡Yo no sé! Por favor, sueltame! – debateu-se como pôde.

— Mentirosa. – Romana rechaçou dividindo seus tapas entre ela e os braços do investigador que ousou lhe conter.

Arranhou o pobre coitado ousado o bastante para lhe afastar da dissimulada dos sonhos de seu menino, isso no surto protetor semelhante ao teatro que ela usava chamar de programa jornalístico. Dedo em riste sincronizado com o afastamento.

— A culpa é sua. Você fez isso. Você tirou o meu menino de mim, Malta, me devolva ele agora. – ordenou desacostumada em não ser de pronto atendida.

Em choque, Malta balbuciou choramingos revivendo todas as brigas suas com Lipe. Fechou os olhos e se encolheu no próprio colo para não ver o reflexo do noivo na face da sogra.

Eres como él... – murmurou imprudente. – Eres terrible como él...

— O que você disse? Vou acabar como ele? – distorceu mais por transtorno que por maldade. – Escutaram? Ela disse algo sobre acabar com ele ou sobre acabar comigo como fez com ele. É ela. Ela fez isso, ela confessou!

No, no... – chiou inútil.

Quanto mais Romana forçava sua culpa, menos ouviam a versão dos fatos. Mesmo os policiais adotavam a visão da jornalista, demonstrando no tratado partilhar repulsa com o público. Violentos lhe jogaram na Jaula, a abandonaram feito um bicho. Tonta sentou-se à nova cama pra amargurar essa sentença precoce.

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