Capítulo 13

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Capítulo 13

Paixão correspondida

Os dias vão passando tranquilos em Wolf Valley...

Madalena continua com a sensação de estar sendo observada, mas o que ela não desconfia, é que Leon a segue na ida e na volta da escola da comunidade, e onde quer que ela vá. É quase uma necessidade para ele, apesar de afirmar veementemente para si mesmo que não faz por ela.

Heitor permanece tentando manter a maior distância possível de Isabely. E graças a isso, ela sofre em silêncio por ser rejeitada por ele. Ainda assim,  sempre dá um jeito de vê-lo no único momento onde ele não pode fugir dela; na missa celebrada por ele.

Isabely se senta no fundo da igreja para não chamar atenção e participa do sermão até o fim.

Para Heitor, é como se ela fosse o próprio diabo disfarçado de anjo de luz, pronto para esfregar na cara dele os desejos mais íntimos que ele tem tentado sufocar a todo custo.

Ela é o  próprio pecado disfarçado na pele da mais bela e delicada criatura. A tentação perfeita. Minha perdição.

Já Andreon, está empenhado em descobrir todas as coisas favoritas de Misty.

Eles criaram uma rotina de encontros embaixo da janela e à luz do luar, cafés da manhã e piqueniques na clareira da floresta, próximo ao riacho que nasce entre as pedras e segue seu curso através das árvores.

É domingo, falta pouco mais de uma hora e meia pra o sol começar a se afastar no horizonte. Misty e Andreon estão deitados na clareira, após terem se deliciado com um lanche maravilhoso feito por Andreon. Ele fez questão servi-la diretamente na boca, pedacinho por pedacinho. Como se ela fosse um passarinho que precisa ser alimentado.  Misty adorou cada segundo de carinho e atenção.

As copas das árvores formam uma especie de teia no alto, que se desfaz com o vento. Misty observa as folhas se afastarem e se juntarem, em uma dança  que parece acompanhar os dedos de Andreon em seu colar.

— Essa pedra sempre está entre minha boca e seu pescoço. É como uma pedra em meu caminho. — Ele reclama de modo brincalhão, fazendo ela rir.

— Isabely ficou fascinada com esse cristal.

— Eu percebi, pois ela me encheu de perguntas.

— Minha irmã tem uma personalidade atrevida e curiosa.

— O Heitor que o diga. — Misty dá risada.

— Tem razão, ela não é nada discreta quando se trata dele.

— Não mesmo.

— Como é ser criada por uma freira, Misty?

— Não sei explicar. Na verdade, nunca me fizeram tal pergunta.

— Me desculpe. Não quis ser bisbilhoteiro.

— Tudo bem, não foi. Respondendo a sua pergunta: me sinto sortuda por ter sido deixada com uma pessoa que, mesmo diante das resistências ao redor, me criou com todo o amor do mundo. Madre Lúcia é minha mãe em meu coração. — os olhos de Misty brilham de emoção e saudade da mulher bondosa que passou por cima de muitos julgamentos para criá-la. Mesmo falando com a Madre quase todos os dias, a saudade permanece imensa.

— A imagem que tenho de freiras e padres não é muito boa. — Andreon diz,  lembrando da história de seu povo. Ele está deitado, olhando para cima e usando os braços como apoio para a cabeça. Está usando uma camisa na cor chumbo, uma bermuda verde militar e chinelos.

— Por que? —   Misty arruma seu vestido branco de estampa de girassois, enquanto se senta para olhar Andreon nos olhos.

— Meus pais e avós, me contavam histórias terríveis sobre como os pais deles eram torturados por padres jesuítas e freiras, sempre com a conversa de que eles precisavam ser evangelizados e educados para serem inseridos na sociedade. O fato, é que não queriam ser inseridos em nada, apenas desejavam paz em suas tribos. Os chamavam de selvagens.  As mudanças que foram ocorrendo, obrigaram nosso povo a aprender conviver com o diferente, do contrário, não teríamos sobrevivido até os dias atuais.

LUA DE SANGUEOnde histórias criam vida. Descubra agora