Capítulo 17

37 5 26
                                    

Capítulo 17

Conflitos internos

Um frio não sai da barriga de Heitor, desde o instante em que Misty disse que Isabely chegaria. Ele estava terminando de fazer o café, mas decidiu colocar mais pó.

Um café forte vai me distrair daquela pequena atrevi...

Isabely chama do lado de fora, cortando os pensamentos do quase padre.

Ele se apressa, secando as mãos na calça social que está usando. Sua garganta está seca, e ainda assim, se sente engasgado, mas é a ansiedade que o está matando.

Faz semanas que não se encontram casualmente, pois Heitor tem tentado com afinco evitar qualquer aproximação com a moça. No entanto, ela tem dado um jeito de invadir seu espaço pessoal, não perdendo nenhuma missa celebrada por ele.

A tentação tem várias formas, mas a que me persegue é a mais linda de todas. É o que ele pensa, todas as vezes que ela entra na igreja, fodendo com seu juízo.

- Heitor, que surpresa! - Isabely sorri genuinamente ao vê-lo.

- Oi. É... entre, Misty está esperando você no quarto. - diz de uma só vez, na esperança que ela passe direto por ele e não o torture desta vez. Apesar que, a simples presença dela já é mais que suficiente para deixá-lo sem chão.

- Que bom ver você aqui. Senti sua falta. - Ela caminha para dentro da casa e fica observando enquanto ele fecha a porta. A camisa social está com os primeiros botões abertos, - algo raro de se ver, pois ele está sempre com o clérgima - dando um pequeno vislumbre do que há ali dentro. Isabely sente uma vontade imensa de tocá-lo e sua loba se agita querendo marcá-lo.

Existe em seu espírito uma ânsia desmedida de um dia ter a felicidade de se perder nos braços de seu Destino.
Heitor apoia as costas na porta, esperando que Isabely vá encontrar Misty, mas ela não sai do lugar.

- A missa passada foi cheia de ensinamentos fortes - ela elogia, querendo prolongar ao máximo seu tempo com ele.

- Obrigado. - Ele procura ser direto, sem dar margem para que ela prossiga.

- Acha mesmo possível resistir ao pecado? - Ela continua.

- Na bíblia está escrito, no livro de Tiago: resisti ao diabo e ele fugirá de vós. - Ele encerra.

- E quando o pecado em questão, é o que mais se deseja, pelo qual esperou durante toda a vida? E quando resistir é doloroso demais? - se declara, de forma não tão velada, sentindo o coração ficar apertado no peito, como se o espaço fosse pequeno demais para suportar as batidas fortes.

- Deseja o pecado com tanto fervor? - Ele se espanta.

- E se esse pecado pelo qual tanto anseio, for um amor tão forte e tão sólido quanto um diamante?

- Deus é amor. Não há pecado no amor.

- Mas ele também é justiça, você disse isso na igreja. Então, com esse pensamento, se o meu pecado for um amor proibido, o que será de mim?

Heitor pisca, engolindo a saliva com dificuldade, como se nela ouvesse espinhos.

- Então você estará fadada a sofrer. Desejar o que não é seu, não pode te trazer nada de bom.

- Mas é meu, mesmo que não aceite. - Ela diz, os olhos presos no cinza tempestuoso que há nos dele.

- Essa conversa não nos levará a nada. - Ele a corta, já perdendo a paciência com as indiretas.

- Então vamos conversar de outro jeito, - ela perde a compostura de vez, chegando mais perto e tocando-lhe o rosto - um que nos leve ao que desejamos.

Heitor fecha os olhos e trava o maxilar, puxando o ar com força.

LUA DE SANGUEOnde histórias criam vida. Descubra agora