O primeiro ultrassom

166 27 6
                                    

Olá, querida leitora, como vai?

Mais uma parte dessa história que vai revelando um pai babão 😍

Enjoy...

***




Em outra madrugada, acordei da mesma maneira e me aninhei a barriga de Claire, entregue a necessidade de privacidade para uma nova sessão de confidências:

— Sei que você está dormindo, eu também deveria, mas preciso te contar que mamãe marcou o ultrassom. Estou doido para te ver. ‒ Trilhei com meu indicador a circunferência do umbigo de Claire. — Vamos ver você, ouvir o seu coração batendo. Eu só desejo que você esteja segura... ou eu deveria dizer seguro? Não importa... só continue fazendo o que os bebês fazem. Dormindo... nadando... O que os bebês fazem no útero, afinal? Preciso perguntar para sua mãe, ela sabe tudo. ‒ Olhei para a mulher inocente adormecida.

— Tão calma, tão inofensiva, nem parece a mesma que quase arrancou o couro do papai hoje mais cedo. ‒ Sorri besta pensando em como Claire reagiria ouvindo a conversa secreta. — Eu sei que não deveria ter dito isso a você, então prometa que ficará só entre nós, sim? ‒ Sussurrei, depois pressionei meu rosto contra a pele morna que começava a se arrepiar. Claire se moveu rapidamente, se virando na cama, e eu voltei a minha posição correta, com a cabeça no travesseiro, e minha mão segura no ventre fecundo da minha mulher.

A consulta finalmente chegou, foram dias intermináveis até a data do ultrassom. Conversamos com a obstetra por algum tempo, relatamos a nossa preocupação com o desenvolvimento do feto e a saúde do bebê, considerando a infecção de Claire pela Covid, antes da gravidez. Devo confessar que estava aéreo, me sentindo disperso demais para prestar atenção na chuva de informações difíceis que ambas disparavam, e a única coisa que me confortava, era o fato de Claire ser médica, mesmo que de outra especialidade. Ela parecia segura diante das perguntas e da série de orientações.

De toda a longa conversa, eu só me fixei nas vitaminas prescritas como um reforço por conta da perda de peso de Claire, e a instrução de que ela deveria tomar sol pela manhã, todos os dias, assim como fazer caminhadas leves.

Por fim, fomos levados até a sala ao lado, onde uma maca nos esperava para o ultrassom. Eu vibrava por inteiro, minha mão gelada e trêmula segurando a de Claire, e um único pensamento ecoando na minha cabeça: Sem más notícias, por favor, sem más notícias! ‒ Repetia incapaz de desejar ou pensar em qualquer outra coisa no mundo.

E não houve más notícias. Quando a bolinha branca apareceu na tela preta do computador, Claire se iluminou por inteira, eu a observava e seus olhos se arregalaram até se tornarem duas poças brilhantes de lágrimas. Foi um momento mágico, e tive de me sentar na cadeira sem acreditar no que via. Dava para identificar a silhueta de um bebezinho tão pequeno e tão perfeito, que meu choro escorreu em resposta, me cegando de continuar assistindo o meu bebê. A médica ligou o som, e um tamborilar ritmado chegou até nós como uma música inédita, e o meu choro virou um pranto de alegria que nem me cabia. Não consegui mais tirar os olhos da tela. Claire apertava a minha mão, e eu provavelmente apertava a dela, mas estava incapacitado de sentir qualquer coisa além da imensurável felicidade.

Houve beijos e abraços, e várias coisas foram ditas, mas não me lembro dos pormenores, exceto que não parei de dizer eu te amo e obrigado, Claire. Eu estava em transe, preso no coraçãozinho batendo como um tambor, um coração que era metade meu e metade de Claire.

Em casa, nós continuamos sob os efeitos do primeiro ultrassom. Eu escutando a gravação do coração batendo e Claire o tempo todo com a mão na barriga, mais conectada a gravidez que antes, como se só agora tudo fosse real.

O diário de BreeWhere stories live. Discover now