Conversas veladas/E então eu senti você se mexer

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Olá, querida leitora, como vai? Demorei mas cheguei com capítulo fofinho...

Ótima leitura!!

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No sexto mês, Claire estava tão linda que se tornara impossível não adorá-la o tempo todo. Eu estava encantado, apaixonado, e me tornei repetitivo, a elogiando pelos cantos da casa, sussurrando palavras de amor e vazando a minha felicidade aos quatro ventos.

Sua barriga já tinha forma e peso considerável, o que a deixava mais preguiçosa a cada dia. Também estampava no rosto, o contentamento de uma gravidez tranquila e mais do que isso, os riscos do início haviam ficado para trás, e nossa filha era saudável. Nós todos estávamos bem, a família na Escócia prevalecia apesar de sustos com a covid. Não houve perdas, somente ganhos. Os Frasers cresciam em número e eu me regozijava com isso.

Parte do mundo tentava levar uma vida normal dentro da nova configuração, países abriam e fechavam suas fronteiras, numa medida falha de conter a contaminação invisível. Algumas pessoas se expunham ao risco do vírus por falta de opção, tendo de voltar aos seus trabalhos e atividades, sob ameaça de perder seus empregos; outros, por puro capricho e níveis de negacionismo, ao manter os hábitos e assim colaborar com o colapso mundial. Médicos e enfermeiros, uma classe inteira na corda bamba para salvar vidas, dentre elas, vidas dos profissionais de saúde, anjos da linha de frente, que morriam aos montes. Não havia limites para a desinformação, a ciência foi posta à prova de todos os lados, e repetidas vezes desacreditada por uma parcela acéfala da sociedade. A vacina ainda nem havia sido lançada e dividia opiniões, talvez dividisse países inteiros. Movimentos antivacina pipocavam, enquanto famílias perdiam seus entes queridos.

Quando o lockdown foi decretado, eu perdi meu emprego no bar, fiquei trancado, definhando e vendo o mundo ruir. Claire se entregou ao trabalho, se exaurindo em horas frenéticas de plantão. Muitos dias, quando chegava e cumpria seu último protocolo de desinfecção, e finalmente podíamos nos abraçar, ela chorava exausta e de luto por tantas vidas perdidas.

Então Claire caiu enferma, passou uma semana no hospital, na ala dos isolados, manifestando a princípio sintomas brandos, que evoluíram rapidamente para complicações respiratórias. Fiquei em pânico sem poder estar ao lado dela, sem segurar a sua mão enquanto seu corpo lutava para respirar. Eu não podia acessar a bolha do centro de internação improvisado. Todo o hospital foi remodelado, ampliando a capacidade da UTI, e as cirurgias foram suspensas quase em sua totalidade. Graças a dedicação de uma equipe que diminuía a cada nova infecção, ela se livrou de ser entubada, teve uma melhora extraordinária e pode continuar sua recuperação em casa. Uma semana depois, Claire retornou ao trabalho, e mais uma vez fiquei sozinho e apavorado com a ideia da exposição e uma reinfecção.

A gravidez a colocou na segurança da nossa casa, não vou negar que vibrei com isso, com o fato de não me preocupar se me ligariam do hospital porque Claire testou positivo novamente e teria de se isolar. Eu ia dormir com ela segura ao meu lado, e acordava com ela guardando minha filha que crescia noite e dia em sua casinha redonda. Egoísmo da minha parte ou não, eu só consegui pensar que quando o bebê nascesse, eu faria com que Claire permanecesse em licença maternidade até que a praga se dissipasse completamente. E sabia que quando esse momento chegasse, nós dois entraríamos em conflito.





Conversas veladas

Sua mãe só dorme, é incrível como seu organismo mudou nesse sentido. Antes de você aparecer, ela acordava muito cedo para ir trabalhar, depois dormia tarde, o que lhe dava somente algumas horas de sono. Mesmo nos dias de folga, ela pouco dormia, se enchia de funções que a mantinham dentro de uma rotina rigorosa de estudos. Com você crescendo dentro dela, Claire descansa o dia inteiro, desacelerou de uma maneira que não eu achava ser possível, conhecendo-a como conheço.

O diário de BreeOù les histoires vivent. Découvrez maintenant