Colo de mãe

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MARIA GONÇALVES

Eu corri, corri o máximo que pude até perder o fôlego. Não pensei em nada, me deixei ser guiada pelo desespero e sai o mais rápido que pude daquele lugar, só parei quando cheguei a um posto de gasolina 24 horas, os frentistas que trabalhavam ali me olharam de modo estranho provavelmente se questionando o que  eu estava fazendo na rua a uma hora dessas. Diminui meus passos e entrei na loja de conveniências, a noite estava muito fria e já estava muito tarde para se estar na rua sozinha. Parei em um corredor qualquer e tentei me recompor, passei as mãos pelo rosto secando as lágrimas e respirei fundo tentando me acalmar.

Tirei o celular de dentro do bolso da calça e liguei pra minha mãe, eu fugi tão depressa que deixei minha bolsa para trás estou sem dinheiro e sem documentos. Duas vezes seguidas a ligação caiu em caixa postal e somente na terceira minha mãe atendeu.

-Filha? Meu Deus aconteceu alguma coisa? Você tá bem?

-Mãe você pode vir me buscar? Eu estou em um posto de gasolina vou te mandar a localização.

-Sim, sim eu vou mas você se machucou? Foi assaltada? Onde está Pietro?

-Depois eu explico só vem me buscar por favor!

-Estou indo meu amor.

Encerrei a ligação sentindo o nó em minha garganta voltar, eu não queria derramar mais nenhuma lágrima mas tudo o que estava acontecendo estava me machucando tanto, eu sentia uma dor profunda em meu coração.

Falei com a moça do caixa que estava esperando minha mãe vir me buscar e se eu poderia esperar ali dentro, ela compreendeu a situação e foi muito gentil dizendo que eu podia ficar. Fiquei olhava pelas portas de vidro na expectativa de ver o carro da minha mãe e quando finalmente um gol preto entrou no posto de gasolina eu sai da loja de conveniências rapidamente, minha mãe desceu do carro e veio ao meu encontro e eu a abracei.

-Oh meu amor calma, está tudo bem!- ela dizia de modo calmo e amoroso enquanto alisava meus cabelos.

-Me leva pra casa mãe por favor, pra sua casa!- pedi com a voz embargada.

-Vem meu amor, vamos embora.- Ela me abraçou de lado e caminhou comigo em direção ao carro.

Entrei no banco do passageiro e ela deu a volta se acomodando no banco do motorista, coloquei o cinto e ela deu partida no carro e manobrou saindo do posto de gasolina.

-Vai ficar tudo bem filha, vai ficar tudo bem mamãe tá aqui.- Ela segurou minha mão e foi então que eu desabei.

Comecei a chorar e o único som que ecoava pelo carro eram dos soluços que escapavam de meus lábios. Meu coração estava quebrado, e as palavras de Pietro ecoavam por minha mente me acusando, me julgando me fazendo sentir cada vez pior.

"Não mente pra mim vagabunda"

"Cala boca vadia"

"Eu queria nunca ter te conhecido"

"Assim eu posso te odiar pra sempre"

Todo o caminho para casa eu passei chorando, não conseguia parar, não dava pra controlar, eu sou uma fraca mesmo. Minha mãe estacionou o carro na garagem e eu desci tentando secar as lágrimas que rolavam pelo meu rosto, de repente fui surpreendida por uma bolinha de pelos pulando em minhas pernas, era Luke o cachorrinho que eu resgatei da rua. Me abaixei e o peguei no colo e ele lambeu meu rosto, ele parecia tão feliz em me ver que me fez sorrir, o coloquei no chão novamente e ele correu pelo quintal.

-Vem filha vamos entrar.- disse minha mãe se aproximando de mim e apoiando a mão em minhas costas enquanto me guiava pra dentro de casa.

Assim que a porta foi aberta para mim minha vó Berenice veio ao meu encontro me receber com um abraço.

-Oh minha neta! O que se passa com você? Ficamos assustadas com sua ligação!- retribui seu abraço me sentindo tão bem no calor de seus braços.

-Eu vou contar tudo o que aconteceu não se preocupem.- Disse me afastando de seu abraço, minha vó olhou pra mim com ternura e passou a mão em meu rosto com carinho.

Caminhei até o sofá da sala e me sentei, logo em seguida minha mãe veio e se sentou ao meu lado, me inclinei em sua direção e deitei a cabeça sobre suas pernas, eu só procurava um lugar para cair e ser acolhida e nada melhor que o colo de mãe. Minha vó saiu da sala e voltou rapidamente com uma coberta e a colocou sobre meu corpo me deixando aquecida.

-Conta minha filha, coloca todas essas angústias pra fora!- disse minha vó se sentando na poltrona ao lado do sofá.

Algumas lágrimas solitárias caíram de meus olhos e eu rapidamente as sequei e comecei a narrar tudo o que aconteceu em meu dia, desde o momento em que Cristina apareceu no apartamento até o momento em que Pietro me expulsou de casa.

-Como ele teve coragem de fazer isso? Eu vou lá falar com ele!- minha mãe fez menção de se levantar do sofá mas eu a abracei impedindo que ela se levantasse.

-Não mãe, por favor não vai...-Pedi como uma súplica desesperada.

-Mas não foi justo o que ele fez com você minha filha! Ele te xingou e te acusou de uma coisa que você não fez, onde está o amor que ele tanto dizia sentir por você?

-Eu não quero mais falar sobre isso mãe por favor vamos deixar as coisas como estão eu já estou muito machucada.

-Ele precisa ouv...-Minha mãe foi interrompida por minha vó.

-Simone já chega! A menina já disse que está muito machucada por que você insiste em cutucar a ferida? Vamos deixá-la descansar amanhã é outro dia e ela decide o que irá fazer afinal o relacionamento é dela e não nosso!- minha vó disse de modo severo fazendo minha mãe se calar.- Tem um quarto vazio no andar de cima minha neta pode subir lá e ir descansar se quiser.

-Eu quero...- Falei me levantando do sofá e enrolando a coberta sobre mim.

-É a terceira porta no fundo do corredor.- Assenti.

-Obrigada mãe, obrigada vó eu amo vocês boa noite!

-Boa noite!- elas disseram juntas.

Subi as escadas devagar sentindo minha cabeça doer de tanto que eu chorei, ao chegar no corredor andei até a porta que minha vó me indicou e a abri, era um quarto bem simples mas ainda assim aconchegante, me aproximei da cama e me lancei sobre ela. Me encolhi em posição fetal e fechei os olhos tentando dormir porém a única coisa que vinha em minha mente era o olhar de ódio de Pietro sobre mim. Me revirei na cama de um lado para o outro tentando me livrar das lembranças horríveis de nossa discussão e longas horas se passaram até que eu finalmente caísse no sono.


Quem poderia ImaginarWhere stories live. Discover now