Ressentimentos

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MARIA GONÇALVES

Me despertei ao sentir o calor do sol sobre meu rosto, meus olhos se abriram com dificuldade, provavelmente estão inchados de tantas lágrimas que derramei na noite passada. Forcei meu corpo a se levantar mas consegui apenas me sentar sobre a cama e me enrolar mais as cobertas que mantinham meu corpo aquecido e confortável. Meus olhos se fixaram na parede branca a minha frente e me perdi por completo em meus pensamentos.

Havia tantos sentimentos em meu coração que eu nem sabia organiza-los, não sabia qual sentir primeiro, e nem sabia como impedi-los de me dominar por completo. Nunca em toda minha vida eu me senti tão mal como me sinto agora, nunca fui tão ferida a ponto de perder o rumo. Eu encontrei em Pietro o amor que eu nunca havia sentido, acho que nunca me entreguei tanto a alguém, nunca me permiti ser tão vulnerável, ele me conhecia, me entendia, me protegia, me amava de uma forma profunda e verdadeira e eu não consigo e não quero acreditar que tudo acabou por causa de uma mentira, por causa de uma mal entendido.

De todos os sentimentos que tenho dentro de mim posso afirmar com toda certeza que raiva não é um deles, eu não tenho raiva de Pietro muito pelo contrário eu o compreendo, a pessoa que produziu aquelas fotos fez um ótimo trabalho e realmente parecem ser verdadeiras, até minha mãe poderia acreditar que sou eu caso ela as visse mas tenho certeza que ela me daria o benefício da dúvida. Se a situação fosse ao contrário eu acreditaria nas palavras de Pietro, acreditaria que ele não seria capaz de me magoar dessa forma, eu lhe daria um voto de confiança e escolheria acreditar no amor que ele sente por mim mas como somos pessoas totalmente diferentes, como pensamentos e sentimentos diferentes não foi isso que aconteceu comigo, eu sei que muitas coisas que ele me disse não foram de propósito foram apenas um mecanismo de defesa, ele estava tão machucado que queria me machucar também e infelizmente ele conseguiu, mas eu o perdoo. Mesmo que Pietro nunca me peça perdão, mesmo que ele nunca reconheça seu erro ao me julgar, eu já o perdoei pelo que me fez, não quero e nem poderia odiá-lo, nós vivemos momentos lindos juntos e eu não quero me esquecer deles, não quero que sejam corrompidos pela forma que tudo acabou.

Encolhi minhas pernas trazendo-as para perto do peito e as abracei. Eu queria tanto voltar no tempo e nunca ter saído de casa na companhia de Cristina, sei que não havia como saber que ela me faria tão mal mas eu devia ter desconfiado mais, devia ter sido mais esperta, mas mesmo sabendo o que ela fez pra mim eu não a condeno, eu não tenho raiva dela, não gosto de guardar rancor e se eu a odiasse pelo que me fez eu estaria indo contra os meus princípios. Certa vez li uma frase que diz "guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que o outro morra." Sendo assim independente do que me fizeram eu os perdoo e escolho ser livre de toda mágoa e ressentimento.

Enquanto eu estava sentada sobre a cama apenas pensando ouvi alguém batendo na porta do quarto e ela foi aberta por minha vó, ela olhou para mim com ternura.

-Oi meu amor vim ver se você ainda estava dormindo.- disse entrando no quarto, minha vó estava com algumas roupas nos braços, ela caminhou até a cama e se sentou ao meu lado e tocou meu rosto.- Como está se sentindo?

-Eu estou bem...-Forcei um sorriso que não a convenceu.

-Conseguiu descansar?

-Sim.- Respondi brevemente.

Eu não queria muito conversar a respeito do que havia acontecido, eu queria apenas ficar sozinha com meus pensamentos e tentar encontrar a melhor forma de lidar com essa situação.

-Eu trouxe algumas roupas da sua mãe caso queira tomar um banho e se trocar, em seguida você desce pra tomarmos café juntas ok? Também tem uma escova de dente novinha.- Ela sorriu passando sobre meus cabelos.

-Tá, obrigada vó.- agradeci com um abraço que ela retribuiu com todo amor me apertando forte.

Ao nos separarmos ela sorriu e então se levantou da cama e saiu do quarto, respirei mais aliviada quando ela me deixou sozinha, eu não queria que minha vó me visse nessa situação mas para onde mais eu poderia ir depois de ser expulsa daquele jeito? Aqui é o único lugar seguro onde poderia buscar refúgio depois de tudo o que aconteceu.

Me levantei da cama deixando as cobertas para trás e peguei as roupas, a toalha e a escova de dentes que ela me trouxe e segui para o banheiro, por mais que eu estivesse extremamente triste com uma dor terrível no peito eu não iria me entregar, eu não iria me entregar a essa depressão que queria me consumir.

Algum tempo depois eu estava descendo as escadas da casa sentindo um cheiro gostoso de café no ar, eu amo o café que minha vó faz, não sei parece ter algo tão especial. Ao terminar de descer as escadas eu passava pela sala seguindo até a cozinha quando ouvi meu celular tocar, o som ecoava vindo de algum lugar desconhecido. Caminhei até o sofá e comecei a mexer nas almofadas   tentando achá-lo e enfim o encontrei. Quando olhei para a tela entrei em pânico ao ler o nome da pessoa que me ligava.

"E é por isso que eu te agradeço amiga, por fazer parte da minha vida e do meu pai, eu posso ver o quanto você  ama ele e esse brilho lindo que ele carrega nos olhos foi você quem colocou."

Sabrina estava me ligando...

Deus! Hoje é aniversário de Pietro e faríamos uma festa surpresa para ele, mas eu não avisei a Sabrina sobre o que aconteceu ontem a noite.

Ai meu Deus e se ela me culpar também? E se ela me odiar por tudo o que aconteceu? E se ela escolher ficar ao lado de Pietro? Cancelei a ligação.

Não, eu não posso perder ela! Já basta a dor de ter perdido seu pai. Eles são tão importantes pra mim...

Comecei a sentir um grande aperto no peito e falta de ar, parecia que tudo ao meu redor me sufocava. Me sentei no sofá com a mão sobre o peito. Meus olhos já estavam começando a se encher de lágrimas mas eu me esforcei ao máximo para contê-las.

Antes mesmo que eu pudesse me acalmar o celular começou a tocar novamente, eu queria ignorar as ligações de Sabrina mas eu sabia que quanto mais eu tentasse fugir mais essa situação iria me perturbar. Respirei fundo e com as mãos trêmulas deslizei o botão verde na tela atendendo a ligação.

| LIGAÇÃO ON

-Alô?!

-Oi amiga acabei de desembarcar, estou tão ansiosa pra te ver! Quero saber se sua mãe já saiu pra vir me buscar aqui no aeroporto?

-E-eu...eu...

-Maria? O que foi? Por que está com a voz trêmula desse jeito.

-S-Sabrina, não vai dar é melhor você ir para algum hotel!

-Hotel? Como assim amiga? Nos planejamos de eu ficar na casa da sua mãe até a hora da festa surpresa esqueceu?

-Aconteceram umas coisas não vai mais ter festa.

-Oi? Como assim não vai ter mais festa? Aconteceu alguma coisa com meu pai?

(Nesse momento eu desabei a chorar, não sabia nem o que dizer)

-me desculpa, me desculpa...

-Amiga por que tá pedindo desculpas? Você tá me deixando preocupada!

-Acabou tudo entre seu pai e eu, não estamos mais juntos....

-O QUE?! Como assim?

-Eu preciso desligar!

|LIGAÇÃO ENCERRADA

Joguei o celular em cima do sofá e cobri meu rosto com as mãos, eu me sentia tão aflita com aquela situação, me sentia tão sozinha.

-Maria? O que aconteceu minha neta?

Tirei as mãos do meu rosto e olhei para minha vó, corri até ela e a abracei buscando algum conforto, ela não disse mais nada apenas me abraçou a afagou minhas costas por um longo tempo.

-Cadê minha mãe? Eu preciso falar com ela.- falei me afastando do abraço.

-Ela saiu já faz algum tempo, disse que ia buscar Sabrina no aeroporto. - Quando ouvi aquelas palavras neu coração gelou.

E agora? Como vou olhar para Sabrina? Como explicar a ela tudo o que aconteceu?

Quem poderia ImaginarWhere stories live. Discover now