Capítulo Seis

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Alicia Hargroove

No dia da minha apresentação como princesa, fui enviada ao templo de Cenan com uma cesta de flores e frutas para agradar a deusa. A Alta Sacerdotisa do Povo da Água de Nyark, também conhecida pelo nome de batismo, Dione, se aproximou de mim antes mesmo que eu passasse pelo umbral da porta:

― Princesa, é bom vê-la finalmente vindo buscar a benção da deusa.

Dione nunca tinha falado comigo antes, mas o tom de reprovação em sua voz era claro e era difícil não temer uma mulher tão poderosa. Ela era alta, eu também era, mas ela se elevava sobre mim, sua pele era de um negro escuro, seu cabelo enrolado em dois montes acima de suas orelhas e seu rosto repleto de pintura pontilhada branca cerimonial.

― Antes tarde do que nunca, eu diria ― disse eu em evasiva. ― Para onde eu devo seguir, sacerdotisa? ― perguntei gesticulando para a cesta em minhas mãos.

― Por aqui ― indicou antes de começar a me guiar. ― O quanto você sabe sobre nossa deusa, princesa Illana?

― O básico ― dei de ombros. ― Mas sinto sua presença em cada grão de areia desta ilha.

Ela me deu um olhar investigador, mas pareceu não encontrar nada, pois prosseguiu:

― Sei no que o povo que você foi criada acredita e sei que não é inteiramente verdade. Eles se focaram demais nos filhos caçulas e esqueceram de todo o resto ― ela andava devagar, quase um arrastar e tive que me forçar a acompanhá-la.

― Eu nunca ouvi sobre nenhum outro até chegar aqui ― admiti dando de ombros.

― Um povo que ignora aquilo que não lhe interessa está condenado à destruição ― suspirou. ― Crowned e Irrideccent eram filhos caçulas dos deuses originais, mas o conto repetido é só uma parcela da verdade. Eles tinham muitos irmãos mais velhos e todos eles deixaram descendentes terrenos, Trovian deixou os miméticos, Solime deixou poderes de fogo, Lunara deixou os lobos, Varion deixou os alados e Cenan, o nosso povo. Creio que Draco, irmão gêmeo dela, tenha até vivido com os humanos um certo período de tempo, mas sei apenas que os filhos dele são os mais raros.

Aquilo tinha a ver com a história dos Draacon que Josephine adorava contar como verdade?

― Então não são todos filhos de Crowned? ― indaguei com a boca aberta em choque.

Ela me destinou um sorriso afiado:

― É isso que te disseram? Tenho certeza de que a ideia de que dois irmãos se matarem mutuamente e o sangue escorrido do horror dar origem a diferentes linhagens soa poético, mas bastante fantasioso. Irrideccent realmente tramou contra o irmão, mas ao ser descoberto foi trancado, aprisionado pelo pai que o favorecia em um véu, nem vivo, nem morto. É por isso que seus filhos não têm o mesmo acesso a ele que temos com Cenan ou seu Crown.

― Como você sabe tanto sobre a cultura do continente? Como Sacerdotisa, sei que você não pode deixar Nyark.

― Tenho meus meios, isso é certo ― ela parou. ― Veja, chegamos ao local de oferendas.

Parei a meio passo, notando que diante de mim havia uma fonte estrelada, repleta de pétalas de flores.

― Onde devo deixar a comida? ― perguntei confusa após recolher as flores de minha cesta.

― Ah, isso não é uma oferenda direta para Cenan e sim para os necessitados em seu nome. A tradição é tirar pétala por pétala e atirá-las na Água agradecendo a deusa por todas suas bênçãos ― ela deu mais um daqueles sorrisos de dona do mundo. ― Agora é meu dever distribuir toda essa boa comida para aqueles que mais precisam, pois como você já deve ter começado a notar, nós cuidamos dos nossos, Alicia.

When The Light Guide UsWhere stories live. Discover now