Capítulo Vinte e Um

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Alicia Hargroove

Dione me entregou a adaga de cabo vermelho que trouxe escondida dentro do vestido:

— Você vai usar sua maior arma contra ele, seu sangue Lykaios de herdeira direta.

Ela não precisava dizer mais nada.

— Onde ele está?

— No centro do Mercado, Lucien pretende fazer disso um evento para trazer mais do que apenas escravocratas para o seu lado, ele espalhou um boato sobre Phoenix ter juntado um grupo de escravos rebeldes com o intuito de incendiar casas de inocentes como vingança e sei que você vê tanto quanto eu o absurdo disso.

Phoenix queria a liberdade de todos eles, assim como eu, mas não machucaria pessoas mais do que eu faria com o mesmo intuito.

— O que Lucien pode ganhar com isso? — indaguei, os olhos na lâmina.

Os olhos de Dione se suavizaram:

— Edrael — ela apontou para o guarda a sua esquerda — ouviu alguns guardas dizendo que enquanto a execução acontece lá, outra acontecerá aqui, cortesia dos escravos rebeldes, é claro.

Eu não conseguia nem sentir mais raiva a esse ponto, só incredulidade e traição.

— Isso não vai acontecer — garanti.

— Desça pelas treliças da janela e inflame o povo contra essa injustiça, eu ficarei a porta — ela deu um sorriso ladino — realizando minhas preces e os impedirei pelo máximo de tempo que eu puder.

Era claro o que não havia sido dito. Nem a Alta Sacerdotisa poderia recusar os desígnios do rei por muito tempo.

— Farei como manda, Sacerdotisa.

Segurei a mão de minha mãe e meu pai, abracei Kiera e lancei um olhar para minha irmã que continuava sentada no canto antes de seguir para a janela. Era hora de encarnar minha melhor amiga.

Joguei a perna esquerda para fora da janela e com uma oração para Crown, terminei de me dependurar.

A faca escorregou por dentro do vestido e no desespero para assegurá-la, eu deslizei mais do que o pretendido e engoli um grito. Péssimo momento para chamar atenção para mim mesma.

Descendo mais um pouquinho, prendi a respiração ao ver um guarda na janela. Nossos olhos se grudaram e ele deu um aceno quase imperceptível antes de se afastar.

Mal pude acreditar quando meus pés finalmente tocaram o chão.

Respirando fundo, corri para as baias. O cavalariço, um rosto que eu não conhecia, quase desmaiou ao me ver.

— Princesa — ele gaguejou em uma meia reverencia.

Eu gostaria de acreditar que ele era fiel ao meu pai, mas não podia testar a sorte.

— Você deve me perdoar pelo que farei, mas não posso colocar minha missão em risco — então o soquei.

Ele caiu, desacordado, e agradeci mentalmente a Abigail por ser tão rigorosa com os treinamentos, enquanto cortava duas lascas do meu vestido para amarrar suas mãos nas costas e amordaçá-lo.

Sequestro terminado, caminhei até a baia de Flor, que relinchou feliz ao me ver.

— Eu também senti sua falta, menina, — acariciei sua crina —, mas não temos tempo para reencontros agora, temos um amigo para resgatar.

Eu não precisava de uma cela e me impulsionando para cima dela, como havia feito na tarde em que nos conhecemos e a guiei com galopadas que combinavam com o bater descontrolado do meu coração.

Logo estávamos no Mercado, não havia muito o que eu pudesse fazer para prende-la em minha pressa e evitar que ela se afastasse, então precisava confiar nela. Juntando nossos narizes, pedi para Crown guardá-la antes de seguir para a decapitação de Phoenix.

Uma multidão estava disposta lá para vê-lo ser executado e tive que engolir a raiva dizendo para mim mesma que eles estavam sendo manipulados por Lucien e suas palavras doces. O autoproclamado rei não estava presente, provavelmente usaria isso como uma forma teatral de dizer que era o único sobrevivente da família real.

Phoenix estava com a cabeça instalada, o algoz já posicionado a sua frente e quando ele levantou o machado, eu pigarreei:

— Boa tarde, senhor, teria um momento para me ouvir listar razoes pelas quais você não deveria fazer isso?

Ele se virou para mim e eu não reconheci seu rosto, mas isso não me importava, amigo ou inimigo, eu sabia exatamente o que precisava fazer para prender a atenção do público.

— Bom te ver, Princesa — Phoenix tinha o mesmo sorriso debochado de sempre, apesar do olho roxo que apresentava.

Eu o ignorei:

— A primeira delas é que se você encostar em Phoenix com essa lâmina, eu rasgo a minha garganta com essa — anunciei encostando a adaga que Dione havia me dado na veia mais gorda do pescoço.

O público expectante arfou como eu sabia que faria e o algoz deu um passo para trás, seu semblante cheio de desespero e percebi que ele sabia tanto sobre o que realmente estava acontecendo quanto o público que nos assistia.

— Por que eles? Eles são como vocês. Respiram, comem e dormem. Eles têm filhos, irmãos e irmãs, pais e mães. O que os diferencia? Vocês serem capazes de mudar e eles não? Eu passei a maior parte da minha vida achando que era como eles, só descobri o que eu era quando mudei pela primeira vez. Sabem o que teria acontecido comigo se eu tivesse chegado aqui antes dos 13 anos? Eu seria uma escrava assim como ele — apertei a adaga com mais força contra o pescoço e algo escorreu, mas não sabia se era suor ou sangue. — E enquanto vocês estão aqui assistindo a esse circo, no Palacio, um golpe de estado acontece perpetrado por um dos Lykaios que vocês tanto amam — um guarda tentou se aproximar para me calar e eu atirei a adaga direto no peito dele. Eu estava cansada de ser pacífica. Puxei as saias e recuperei o machado que o executor derrubou em sua pressa para fugir depois do que tinha acabado de acontecer e parti as correntes que prendiam Phoenix. — Fiquem aqui se quiserem, mas não haverá misericórdia para aqueles que escolherem o lado errado.

— Missão de resgate, Princesa? — Phoenix se levantou, pronto para me seguir.

— Já te salvei duas vezes, agora é sua vez — disse recuperando a adaga do peito do guarda morto.

Levantando o machado, bradei algumas palavras sem sentido que pareceram ter o efeito de inflamar o público, antes de voltar até Flor com Phoenix em meus calcanhares. Saltei em minha égua, estendendo a mão para que ele pudesse fazer o mesmo.

Eu podia ouvir o povo marchando atras de nós e enviei uma prece para Crown implorando para que chegássemos a tempo.

Quando o castelo entrou em vista, saltei de Flor e me direcionando a porta a acertei com o machado, economizando o tempo precioso que eu não tinha. Os corredores para a sala do trono pareciam mais longos do que realmente eram e os guerreiros pararam de nos atacar e passaram a desviar o olhar quando passávamos.

Ao chegarmos nas portas da sala do trono, atirei a adaga de Dione para Phoenix e sorri brevemente:

— Não os mate porque eles são meus, mas até eu voltar aproveite.

Ele acenou e com seu sorriso brilhante que contrastava com a pele bronzeada, ele arreganhou a porta:

— Ouvi dizer que estava havendo uma festa, pois fiquem tranquilos, que a alma dela chegou — ouvi ele exclamar quando virei o corredor e por um segundo, desejei ter ficado para trás só para ver a cara de choque no rosto do tio Lucien, mas salvar minha família era mais importante.

A primeira coisa que percebi quando cheguei ao corredor do quarto onde eles estavam sendo mantidos, foi que Dione não estava mais ao lado da porta onde me prometeu que estaria, fazendo com que eu pensasse o pior e respirando fundo, eu abri a porta numero 3. 


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O cabaré segue pegando FOGO

O que será que rola agora?

When The Light Guide UsOnde histórias criam vida. Descubra agora