Capítulo Vinte

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Luna Canberight

Rebati o golpe de Abraham e desviei para a esquerda antes que ele pudesse atacar novamente, com o cabo da espada atingi seu joelho direito e chutei o esquerdo, ele se curvou em reflexo e deu um sorriso apertado por causa das cicatrizes:

― Você está melhorando, Luna, mas deixou a barriga exposta quando se afastou, um erro assim no campo de batalha é fatal, lembre-se disso ― ele assobiou para chamar um dos outros treinadores: ― Andri vai te ajudar a treinar movimentos que te ajudem quanto a isso enquanto eu falo com os outros ― anunciou quando o homem atarracado se aproximou.

O homem moreno acenou para o comando de Abraham e antes mesmo que o rapaz de rosto cicatrizado se afastasse, Andri já tinha atacado.

Eu estava exausta, meu corpo inteiro doía e eu ainda não tinha me livrado das mudanças do corpo causadas pela gravidez de Hope, eu estava mais pesada, mais lenta e apesar de não ter leite para ela, meus seios estavam permanentemente doloridos como se sentissem cada um dos seus choros de fome. A última coisa que eu queria naquele momento, era continuar lutando, mas estava fazendo aquilo por ela e não podia simplesmente desistir.

Após o treino, suada, grudenta e nojenta, ignorei o quarto onde Nicholas e Hope estavam, e segui para o porão de Sophia. Em vez de pesquisar algum dos livros de feitiçaria que enchiam as estantes, como era de se esperar, me arrastei para debaixo da escrivaninha, coloquei a cabeça entre os joelhos e tentei me concentrar somente em respirar.

A porta se abriu e fiquei bem calada, tentando passar despercebida, sem saber quem mais poderia estar interessado naquele lugar mofado e mórbido, quando Ezra me encontrou.

― Luna ― chamou como se soubesse exatamente onde eu estava. Teoria que ele provou ao se abaixar diante de mim e se arrastar para o meu lado no espaço que automaticamente se tornou apertado, esquentando o que antes era frio sepulcral. ― Você está atrasada para nosso treino ― declarou com finalidade, como se não tivesse me encontrado escondida, hiperventilando como uma descontrolada.

― Você colocou um rastreador em mim por acaso? ― retruquei o olhando brevemente. ― Eu preciso recuperar meu fôlego, parece que para todo lugar que eu olho tem alguém esperando algo de mim. Eu só preciso... respirar.

― Então, respire.

Ele tocou meu pulso e seu poder, muito mais caloroso que parecia de longe, flutuou até minha pele, se espalhando pelos meus membros, como se tornasse mais fácil puxar o ar para dentro dos pulmões.

― Só respire, junto comigo ― ele puxou o ar devagar e eu imitei seu ato, fechando os olhos. ― Nesse momento nada mais importa além do oxigênio que te mantém viva, não existe guerra e treinos, Nicholas e Hope, só existe você, respirando junto comigo.

Não sei se ele usou de magia ou apenas uma técnica de respiração real, mas funcionou. Quando abri os olhos novamente, minha visão não estava mais embaçada, nem meus membros pesados, eu me sentia como eu novamente, mesmo que não soubesse se ainda era a pessoa de antes.

― Eu ouvi sobre o que você fez por mim, sobre o quanto você se sacrificou para me trazer de volta, nunca consegui te agradecer.

Ezra soltou meu pulso e direcionou seu olhar para frente:

― Eu achava que já tinha conhecido o pior do nosso tipo ― sua voz estava vazia, sem inflexão. ― Não posso nem imaginar o que você passou em um lugar como aquele. Eu fiz o que deveria fazer para tentar te salvar, mas ― ele pausou e engoliu, o pomo de adão proeminente subindo e descendo antes das próximas palavras: ― acho que demorei demais, você voltou muito diferente do que era.

When The Light Guide UsOù les histoires vivent. Découvrez maintenant