Capítulo Dezesseis

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Alicia Hargroove

Kie,

sinto que vou sucumbir à exaustão, não tenho mais tempo nem para ir à praia! Abigail decidiu que não haveria Search esse ano por ele ser uma gincana e não um evento Highter real, pode acreditar? Então criei minha própria prova, afinal os novatos não tem culpa que absolutamente tudo deu errado para nós nesse ano. Pedi ajuda de Flor e Henry e criamos uma charada boba para um prêmio igualmente estupido apenas para que os novatos não achassem a vida tão chata.

E aí veio o Guide.

Para ser honesta, eu tinha esquecido o quanto essa maldita prova era desgastante e para ser sincera, nós pensamos em simplesmente nos recusar a participar já que recebemos nosso novato ano passado ― a Luna ― e não teríamos nada a perder, mas Henry nos lembrou que foi graças a Luna que vencemos pela primeira vez e subimos da eterna posição 100 para a 99 e sentimos que devíamos a ela pelo menos tentar.

Foi assim que partimos para Kiarev, uma vila bem no centro do Grande Continente em busca de um amuleto perdido de uma família Highter.

Tombei a cabeça no encosto da poltrona e pensei no que eu deveria omitir para não aterrorizá-la.

Parecia uma missão simples. Buscar o amuleto perdido dos Harmed e voltar para casa, mas sendo o final da lista de grupos, nós deveríamos saber que não seria fácil.

Nós chegamos em Kiarev junto com o sol nascente, a luz refletida na areia do deserto e nos muros em volta da cidade. Nosso foco não era o povoado, no entanto, e sim uma pequena cabana a meio caminho do santuário de Tuar.

A cabana havia pertencido à matriarca de uma família Highter, Cansu Orguz, que por ter muitos filhos preferiu esconder um amuleto, uma relíquia de família a vê-los brigar sobre quem iria herdá-la.

Segundo a família, eles haviam procurando o amuleto quando a matriarca morreu, mas não encontraram nada e agora, tão perto da Grande Guerra, Abigail achou que seria um bom presente para os Orguz, uma família bastante confiável e fiel a Seita.

Nós pensamos que Cansu teria escolhido um lugar ridículo, como debaixo do colchão ou dentro de um pote de biscoitos, locais que seus descendentes não pensariam em procurar, mas ao chegarmos lá descobrimos que não era bem assim que a mente dela funcionava.

― Tem um lenço preso na árvore ― apontou Florence.

Havia uma única árvore ao lado da casa, seus galhos secos e retorcidos, pouquíssimas folhas restantes no seu tipo, mas ainda forte, ainda viva e com um lenço preso, nada menos.

― Há algo estranho aqui também ― anunciou Meg. ― Não um espírito propriamente dito, mas bem, morte.

Ela estava diferente desde a viagem com a irmã, mais tranquila, menos assustada, mas ainda era... Meg.

― Que animador! ― exclamou Henry com ironia. ― Vamos lá.

Ao darmos a volta na casa entendemos a sensação de morte que Meg tinha sentido na cabana. Ela estava lotada de ossos e em seu centro, deitado sobre sua cama de morte, estava um tigre. No pescoço dele, o amuleto.

― Subam ― murmurei apontando para o telhado. Não havia nenhuma segurança que o teto da velha choupana fosse segurar nós quatro, mas era um plano melhor do que esperar que o felino nos notasse antes que pudéssemos decidir um plano de ação.

― O que faremos? ― pediu Flor em um sussurro quando estávamos em relativa segurança.

― Henry vai se transformar para atraí-lo ― anunciei.

― O que! ― Ele rangeu e Meg tampou sua boca com urgência. ― Você enlouqueceu? ― reiterou em um tom muito mais ameno. ― Tigres são muito mais rápidos que lobos.

― Eu não disse que você tem que ser mais rápido, ― instiguei ― apenas atraí-lo.

― E depois? Meus ossos viram palitos de dente pra ele?

Olhei para Florence que me estendia o mesmo olhar em um conhecimento tácito que compartilhavamos desde quando nos conhecemos.

― Depois o enredamos ― prometi.

― É bom vocês não me deixarem morrer ― exigiu Henry arrancando a camisa. ― Senão eu vou grudar em Meg e a farei transmitir minhas mensagens raivosas por toda a eternidade ― completou pausadamente chutando a calça pelas pernas.

― Crown não permitiria tanta maldade ― sorriu a morena, algo que ela também não tinha o costume de fazer antes.

Henry sorriu, mas ao invés de responder ele se transformou e saltou. Assim que o viu, o tigre saiu em seu encalço.

― Agora ― gritei.

Florence, atenta ao meu chamado, esticou os braços, prendendo o tigre feroz nos galhos da árvore anciã e eu chamei a água subterrânea próxima para nutri-la e fazê-la aguentar.

― Henry, se vista ― eu joguei as roupas emboladas em sua direção. ― Alguém precisa pegar o amuleto do pescoço dele ― apontei com o queixo para o animal.

Henry se transformou novamente em homem e começou a se vestir, mas antes que pudesse fazer o que indiquei, Meg se aprumou:

― Eu posso fazer isso ― declarou ela. Se era para nós ou para si mesma, eu não sabia.

― Você não precisa, Meg ― ofereceu Flor.

― Mas eu posso ― respondeu ela antes de se aproximar do tigre ridiculamente amarrado e tirar o amuleto de seu pescoço, colocando-o em seu próprio.

― O que fazemos agora? ― indagou Henry.

― Nós corremos ― gritei ― o efeito vai passar quando estivermos longe.

Então corremos.

No presente, voltei a tocar o papel com a caneta:

Nós conseguimos recuperar o amuleto a tempo e tivemos que enfrentar apenas uma tempestade de areia para nos tornamos o respeitável grupo 97, no que pode ser o último Guide da história!

Seguindo esse clima de baixa moral, e tendo esgotado todas as suas outras possibilidades e opções, Abigail recorreu a Verhallow na busca por Luna. Ezra fez uma descoberta estarrecedora e o retorno de Luna pode em breve se tornar verdade. Por favor, reze para Cenan por nós.

When The Light Guide UsWhere stories live. Discover now