Reescrever as estrelas

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— Você sabe que eu te quero. Não é um segredo que tento esconder.

Felix parou de desenrolar as cordas quando ouviu Hyunjin recitar a letra da música. Ele respirou fundo e fechou levemente os olhos, voltando a desenrolar a corda.

— Você sabe que me quer — Hyunjin caminhou até Lix, ficando ao seu lado — Então não continue dizendo que nossas mãos estão atadas.

Felix terminou de desenrolar as cordas e as puxou, de modo que pudesse tomar um impulso até lá em cima para chegar ao bambolê. Mas Hyunjin continuava o observando e agora segurava sua mão.

— Você diz que não está nas cartas de tarô e que o destino está te levando para muito longe e pra fora do meu alcance — ele recitava e agora segurava no rosto de Felix, o encarando nos olhos, intensamente — Mas você está aqui no meu coração. Então, quem pode me parar se eu decidir que você é meu destino?

Felix sentiu os olhos arderem, aquela ardência do choro. Ele desviou o olhar e andou para o meio do palco, ainda mexendo na corda, sem saber como reagir diante daquilo.

— E se nós reescrevermos as estrelas? Diga que você foi feito pra ser meu — Hyunjin tocou em sua cintura, o virando para si — Nada poderia nos manter separados, você será aquele que eu deveria encontrar. Você que decide, e eu que decido. Ninguém pode dizer o que nós podemos ser. — Hyunjin usou a outra mão para alisar a bochecha sardenta de Lix —Então, por que não reescrevemos as estrelas? E talvez o mundo possa ser nosso hoje à noite.

Felix sorriu levemente, sentindo o coração disparado e as lágrimas se acumularem nos olhos. Então, a corda que ele segurava o puxou para cima e Felix voou, como se tivesse asas. Hyunjin continuou no chão, olhando para cima e Felix se segurou no bambolê, lá no alto.

— Você acha que é fácil — Felix recitou sua parte na música — Você acha que eu não quero correr até você.

O bambolê descia, girando no ar, as pernas dele estavam penduradas e ele as balançava graciosamente, como se estivesse fazendo um passo de balé no ar.

— Mas existem montanhas — os pés de Felix pousaram graciosamente no chão e Hyunjin chegou mais perto, ficando a centímetros de distância. Os dois se olharam nos olhos quando Felix recitou novamente — E portas que não podemos atravessar.

Eles se deram as mãos brevemente e aquele toque deixou Felix com o coração ainda mais disparado.

— Eu sei que você está se perguntando por quê — Felix segurou o bambolê e o passou pelas costas de Hyunjin, o retornando para si, como um passo de dança — Porque podemos ser apenas você e eu dentro dessas paredes — ele se ergueu e sentou no centro do bambolê, girando nele, as mãos de Hyunjin o segurando pela cintura, os rostos bem próximos — Mas quando vamos lá fora — Felix se virou e ergueu as pernas para cima, pendurando o tronco e ficando de cabeça pra baixo, encarando Hyunjin enquanto o bambolê subia — Você vai acordar e ver que era impossível no fim das contas.

Hyunjin segurou na parte debaixo do bambolê e subiu junto com Felix, as pernas no ar. Então, ele se ergueu e sentou no centro do bambolê, quando Felix fez o mesmo, então ambos ficaram de frente um para o outro, sentados.

— Ninguém pode reescrever as estrelas. Como você pode dizer que será meu? — Felix recitou, encarando Hyunjin com as lágrimas já escorrendo pelas bochechas sardentas — Tudo nos mantém separados e eu não sou aquele que você deveria encontrar. — Felix pendurou o tronco novamente e manteve as pernas enroscadas no bambolê, ao passo que Hyunjin o segurava pela cintura e girava o bambolê — Não depende de você e não depende de mim quando todo mundo diz o que podemos ser. E como podemos reescrever as estrelas e dizer que o mundo pode ser nosso essa noite?

E o bambolê continuava a girar pelo ar enquanto Felix era segurado por Hyunjin, se mantendo de ponta cabeça. Era como uma dança nas alturas, onde os dois estavam sincronizados ao mesmo tempo que recitavam cada estrofe da música. Apenas naquele momento, Felix sentiu a verdadeira magia do Circo da Meia-noite. Foi como se estivesse, de fato, nas estrelas com Hyunjin.

Então, Hyunjin o ergueu e Felix ficou em seu colo, enquanto o bambolê ainda girava. Os dois se encararam como se apenas eles existissem no mundo.

— Tudo que eu quero é voar com você — os dois recitaram juntos, os olhares presos um no outro, sem jamais se desgrudarem — Tudo que eu quero é cair com você, então me dê tudo de você.

Naquele momento, os dois saltaram do bambolê e se agarraram às suas respectivas fitas, se enroscando nelas e se aproximando o suficiente para que pudessem segurar as mãos um do outro. Então, eles giraram de mãos dadas. Giraram como se fosse um só. Giraram como Sol e Lua em um eclipse completo, o único momento em que eles podiam ficar juntos.

— Parece impossível — Felix disse.

— Não é impossível — Hyunjin disse.

E os dois continuaram a girar, as mãos entrelaçadas. Os dedos finos e longos de Hyunjin segurando os dedos pequenos e sardentos de Felix. Era o encaixe perfeito.

Por fim, os dois pousaram no chão juntos, de forma graciosa. Eles estavam de mãos dadas ainda e se encaravam com expressões intensas de paixão, mas também de dor.

— Você sabe que eu te quero — Felix recitou, com a voz falha e rouca — Não é um segredo que tento esconder. Mas eu não posso ter você... — ele comprimiu os lábios — Não vamos dar certo, e minhas mãos estão atadas.

Felix soltou a mão de Hyunjin e se afastou. Mas Hyunjin segurou a pequena mão dele novamente e o puxou para si. Então, os lábios se juntaram nos dele.

Felix suspirou nos lábios de Hyunjin, permitindo que seus braços se envolvessem em seu pescoço e suas mãos agarrassem os fios compridos e vermelhos, os enroscando e puxando. As mãos de Hyunjin estavam na cintura e costas de Lix, o acariciando, o trazendo para mais perto, deixando os corpos grudados. O beijo de Hyunjin era intenso, quente, mas lento e apaixonado. A maneira que ele movia os lábios contra os de Felix, o deixava derretido, com as pernas bambas, como se estivesse querendo beija-lo há muito tempo. Ambos suspiravam, mas não se atreviam a desgrudar da boca um do outro, apenas faziam era intensificar o beijo, o contato das línguas que se moviam juntas e deslizavam uma sobre a outra. Felix estava na pontinha do pés para alcançar Hyunjin, mesmo que ele já estivesse todo inclinado para baixo.

 Eles se afastaram quando precisaram de ar e a pequena mão de Felix acariciou a bochecha de Hyunjin, que também o tocava no rosto, o polegar se movendo pelas sardas escuras. As próprias estrelas do rosto de Lix.

Midnight CIRCUS - Hyunlix Where stories live. Discover now