Sigmund ignorou, foi ao pagode, onde a lenha, cortada pelos aprendizes mais velhos, era guardada. Alguns dos meninos, dispensados mais cedo do treinamento, brincavam no interior.
O menino carregou lenha suficiente para metade da noite, deixando-as na porta de casa. Voltando, ouviu ao longe, a voz de Ava:
— Maung Sigmund, está trabalhando duro! Louvados sejam os Nats que lhe deram saúde. — Ela felicitou.
Ava era adulta. Os longos fios negros foram substituídos pelos brancos há tempos. Tinha a pele bem cuidada, com o mais belo tom, de toda a vila. Seus olhos eram castanhos, vívidos, sempre felizes.
O conhecimento botânico a tornava responsável pela saúde de todos. Era como uma mãe e sua personalidade, distinta dos monges, fazia todos esquecerem o fato de também ser uma ascética theravada.
— Oi — cumprimentou o menino. — Como a senhora está?
— Estou bem, minha criança. — Ela sorriu. — Feliz em vê-lo trabalhando, mas não é cedo para este exercício?
— Não é exercício. Minha mãe descansa porque mandei, estou ajudando com a lenha. Pode ajudar? Não consigo cozinhar ainda.
— Ajudo. Usarei dos sabores suaves para agradar seu paladar.
— Obrigado, Sayama Ava. Deixarei a lenha em casa e te ajudo.
— Não precisa, maung. Deixe a lenha e vá banhar-se.
— Obrigado! — Ele a cumprimentou, voltando para casa.
Sigmund entrou, furtivo. Olhou e Ranna parecia dormir. Ele deixou a porta aberta, carregou a lenha para dentro e foi ao banho.
Ranna, desperta pelo barulho, foi ao banheiro, o chamando.
— Sim, mãe. Estou ao banho!
— Precisa de ajuda com algo?
— Não, mãe. Não esquentei a água, mas não está tão gelada. Se quiser, preparo seu banho. Trouxe a lenha.
— Agradeço, mas preciso de um banho cerimonial. Com a interrupção e sua intervenção, é ideal receber ajuda no monastério.
— Se quiser, posso ajudar. Observo sua saúde e trato...
— Considerar isso não é sábio! Dada sua idade e inexperiência.
— Até quando minha idade será um problema!? — reclamou, deixando o banho e vestindo-se ainda molhado.
— Não deve se vestir molhado, adoecerá — repreendeu.
— Não adoecerei.
Sigmund concentrou-se, aquecendo ao seu redor para secar-se.
— Trinta anos de vida e estou surpresa! — Observou, rindo de si.
— A senhora não comerá a comida que U Ava trará? — Sigmund entristeceu-se, afinal sabia a resposta.
— Se eu retornar, comerei. Se não, terei a refeição no monastério. Pedirei que o comuniquem. Não se preocupe! — respondeu, relevando o erro com o pronome de tratamento.
Sigmund foi para a frente da casa, onde se sentou à porta, mantendo-a aberta. Dali, observou a vila e suas dez casas, levantadas com tijolos vermelhos e estuque, orbitando o grande pagode.
Alguns meninos ainda brincavam no interior do pagode.
Muitas estrelas manchavam o céu. Mesmo o mais alto e forte ser sentiria inferioridade frente a tamanha expressão de vastidão. Haviam doze estupas — mausoléus hindus — construídas sobre os ancestrais das famílias ao redor da vila. Dali, Sigmund podia ver algumas recebendo o brilho da lua, emanando mais tranquilidade.
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Algos - Livro α - 3ª Edição
SpiritualSe há dor em tudo, é realmente necessário curar? O que dói em ti? Presente, passado, futuro O tempo. No fim do dia, O anseio de tudo que vive é apenas ser livre! Mesmo que doa. O existir. Loucos podem chorar? Loucos podem lutar? Amar? Doentes podem...