Abrindo os olhos, Sigmund se viu às margens de um rio.
Estava trêmulo e dolorido. A enegrecida e amarga água do rio o enjoou e ele só virou de lado, pondo toda a água ingerida para fora.
Ofegante, deitou com a barriga para cima. A dor amenizou. Ele tentou levantar, mas não tinha forças. Não insistiu, se arrastando até o monge que dormia, mas já não parecia profundamente dormente.
— É hora de acordar, monge! — chamou, concentrando-se e usando sua sinfonia para estimular seu despertar.
O monge acordou, expelindo a água do rio.
— Seu desgraçado preguiçoso! — comemorou, ainda irado.
— Desgraçado preguiçoso? — perguntou o monge, tonto, fazendo careta pela amargura que impregnava seu paladar.
— Eu te odeio, já disse isso, monge? — indagou, tentando se levantar, sem sucesso. — Ótimo! Agora o inútil sou eu! — ironizou.
— Seus olhos estão vermelhos, isto é normal?
— Claro! Pelo que entendi, estou louco... temos que atravessar, se entendi a mensagem direito.
— Atravessar o q- — O monge se interrompeu, olhando ao redor. — Tinha um rio aqui!? Uau! — pasmou.
— Creio que não estamos no lugar que está pensando...
— Onde estamos!? Por que nós... se o corpo é um? O que houve?
— Emancipação... compreendi perfeitamente! — Sigmund riu.
— O que compreendeu? Onde estamos? Está mesmo louco?
— Não sei onde estamos. Segundo o canto, Lete... ou Estige... não sei o que são. Posso afirmar não estarmos fisicamente. Althea e Aldous estão lidando com as coisas que estavam em nós.
— Morremos? Estamos morrendo?
— Sim e não — riu, suspirando e recorrendo à energia para levantar, com extrema dificuldade. — Poderia usar sua ajuda, monge!
Agilmente, ele se aproximou, passando o braço em seus ombros. Sigmund encostou a fronte na fronte dele, olhando-o nos olhos.
— Temos duas escolhas, ir ou morrer. O que quer?
— Assim é apavorante — respondeu, intimidado —, não sei se devo optar ou se estou sendo ameaçado!
— Tsc. Medroso! Última oportunidade, senão escolho eu!
— Não quero morrer! — pediu, rapidamente.
— Não se esqueça que escolheu isto!
— Você quer morrer!? — pasmou o monge.
— Não, mas lembre de suas escolhas. Não posso morrer, ela fez muito e não sou ingrato. Vamos! — falou, envolvendo a cintura do monge com seu cabelo e dando um nó. — Assim não se afogará... do jeito que é estúpido, o risco é bem alto!
— Aonde estamos indo?
— Vê-La — respondeu, olhando na direção de onde sentia um doce perfume empurrado pelo vento.
O monge olhou na direção, confuso, mas não questionou.
Ambos adentraram ao rio. Haviam rostos agonizantes na água. Algumas mãos tentavam puxá-los para o interior do rio. Isto somado ao contato com as faces doía levemente, dificultando o caminhar.
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Algos - Livro α - 3ª Edição
SpiritualSe há dor em tudo, é realmente necessário curar? O que dói em ti? Presente, passado, futuro O tempo. No fim do dia, O anseio de tudo que vive é apenas ser livre! Mesmo que doa. O existir. Loucos podem chorar? Loucos podem lutar? Amar? Doentes podem...