O monge imergiu no rubro mar da Loucura, banhado pela púrpura luz de Algos, brilhando como nunca. Embriagado, mero expectador, nada restou senão chorar amargas lágrimas de sangue.
— Resistir a dor de queimar na fogueira — disse a si, apático.
Como se tivesse pedras amarradas aos pés, afundou, fechou os olhos, cansado; cada nível mais baixo permeava-o com mais Loucura.
Era doloroso, prazeroso. Os sussurros e murmúrios do insano anseio de vingar a dor de tudo se misturaram ao ódio que iniciara o desafio numa caótica sinfonia. Beber da insanidade era viciante!
Quando sentiu os pés tocarem o chão, ele olhou ao redor e viu o deserto, enrubescido pela Loucura, sangue era cuspido do céu numa garoa rubra. Ele caiu sobre os joelhos, olhando as mãos, solene.
— Resistir a dor de queimar na fogueira — disse, sentindo a intensa agonia de Algos comburindo dentro de si.
Tremor espalhou-se por todo o chão visivelmente. A leve garoa transformou-se em tempestade. Os finos veios engrossaram começando a tomar toda sua pele.
Até ele avistar uma moça caminhando ao longe. O pobre monge ensandecido correu para atacá-la imediatamente ao notá-la. A areia por onde pisou cristalizou e acumulou-se em suas costas.
Aproximar-se não deu forma a silhueta.
Sigmund a atacou junto aos cristais. Uma aura rosada dissipou os que se aproximaram e ela se defendeu sem nenhuma dificuldade.
— Precisa se acalmar. Acabou! — A voz assemelhava-se a Latisha, porém madura. — O desafio passou, agora precisa voltar.
Ele continuou obedecendo aos gritos do instinto que lhe acusavam: "Invasora!". A moça manteve a defesa, chamando-o enquanto aplicava energia para, gradualmente, dissipar os veios.
A impaciência do menino intensificou o tremor no chão. Rubros raios caíam espalhando seu ensurdecedor estrondo e seu brilho.
— O que quer aqui!? — O aprendiz gritou, frustrado; quando finalmente lembrou-se como falar.
— Vim levá-lo de volta para casa — Ela disse, parando.
Gradualmente, assumiu a forma de Latisha. Tinha muitas cicatrizes até mesmo no rosto e os cabelos estavam bem curtos.
— Não pode ficar imerso em Loucura, não é saudável! Não é vida. Deixe-me cuidar de ti! — sorriu, apesar do olhar melancólico.
Sigmund caiu sobre os joelhos, cansado. A Loucura gritava em seu íntimo para ele seguir, selvagem, hostil.
— Não... consigo... — Ele abaixou a cabeça, ofegante.
— Consegue. — Ela se ajoelhou para abraçá-lo. — É forte... é bom... Não deixaremos que a toquem... agora, você precisa parar!
— Se continuarem crendo que devem fazer mal a tudo que amo... tudo dará errado! — desabafou, derramando vítreas lágrimas.
— Não podem tocar o que amamos... — Ela acariciou sua cabeça.
Sigmund chorou por muito tempo, incansavelmente. As lágrimas vertendo de seus olhos apaziguavam o cenário, escoavam o rubro e retornavam normalidade ao vasto deserto.
— Posso cuidar de ti? — pediu, deitando-o. — Feriu-se muito...
Ele apenas assentiu e fechou os olhos, aceitando o cuidado.
— Individualidade tentará me matar? — arguiu, ao terminar.
— Não.
— Precisa de cuidados. Posso ajudar.
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Algos - Livro α - 3ª Edição
SpiritualSe há dor em tudo, é realmente necessário curar? O que dói em ti? Presente, passado, futuro O tempo. No fim do dia, O anseio de tudo que vive é apenas ser livre! Mesmo que doa. O existir. Loucos podem chorar? Loucos podem lutar? Amar? Doentes podem...