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Althea tocou e, ao cessar, deu um lenço ao menino.

— Isto é estranho. Como faz? — perguntou, aturdido e letárgico, pegando o lenço e enxugando seu rosto.

— Para haver boas mortes, boas vidas são necessárias. Aqui, curamos e produzimos conhecimento. Sentimentos e pensamentos ruins podem ser nocivos. Essa canção, quando aplicada em pessoas comuns, nos permite remover parte das mazelas emocionais, mentais. Com bons hábitos, se pode impedir o retorno das mazelas.

— Entendo... por isto, o alívio estranho e a lentidão.

— Sim, ontem a toquei, mas não apliquei minha sinfonia, logo ela fez seu dever rasamente... O que aprendeu com os monges sobre sua sinfonia? — questionou Althea, estimulando-o a conversar.

— Com eles, aprendi sobre o lethwei... Quando eu treinava e Ranna morria, eu sempre atrapalhava todos. Precisava me esforçar demais para render pouco, mas aplicar o chi nunca foi um mistério. É como respirar, sabia e sei. Ranna dizia que a iluminação me torna precoce, mas creio que iluminados não matam a mãe e monges por aí.

— É incomum mesmo — afirmou Althea. — Pelo que entendi, você foi muito pressionado; infelizmente, uma hora explodiria.

— Para sobreviver, pela sanidade... Se deixasse, nada restaria. A sensação foi, talvez, a melhor que já tive. Isso me intriga... me pergunto se não foi tarde e estou louco... é estranho! Lembro do que senti e sinto sede, o que me dá certeza de que a sanidade morreu um pouco — disse, olhando para as mãos.

— Não está louco. É um rapaz saudável e preciso que creia nisto.

Althea sentou-se à beira do sofá, segurando suas mãos.

— Matar me fez pensar — sorriu, reflexivo — Pensar sobre maldade e bondade... sobre dor, perdão... vida, morte. Ranna me fez sofrer e sabia, mas optou por eles. Quem foi bom e quem foi mau?

— Bondade e maldade são pontos de vista. Diferentes povos observarão atos diferentes como bons e ruins. Dependendo de onde for, no mundo, até matar para se defender é um crime repugnante.

— É direito de tudo o que viver agir em sua defesa! Em nome de sua honra, de suas crenças... — Horrorizou-se Sigmund. — Como fica Talião? Não é essa uma lei natural, impossível de burlar?

— Não se usa Talião, salvo poucos povos. O medo suprimiu a força de muitos que, hoje, usam alternativas. Algumas levaram flacidez ao povo e os tornou escravos de si. Minha sociedade não difere tanto, com o adendo que é preciso ser forte para seguir e desafios velados, tidos como barbárie lá fora, são possíveis.

Althea serviu-se de mais vinho e tornou a sentar.

— Respeitamos a vida sendo um tabu matar um irmão. Desafios, até a morte ou não, são possíveis, mas há um processo onde a Grande Sacerdotisa dos Mortos pesa os corações e decide permitir ou não.

— Assim complica. Se duas pessoas têm problemas, resolvem entre si. Conversam e, se necessário, lutam! Envolver uma terceira parte é desnecessário. Lutar é a natureza de tudo que vive.

— Sabemos, mas não podemos normalizar o derramamento de sangue. Parece difícil escolher entre a natureza ou o controle em nome da ordem, mas, ao se liderar, é fácil — disse Althea, tranquilamente. — Você e Aldous têm o mesmo pensamento! — Sorriu. — A mesma firmeza e mesma opinião. Vão se entender rápido!

— Aldous está doente? Você disse que ele estava se cuidando.

— Aldous tem a natureza difícil. Para lidar com isto, suprime muito de si. Periodicamente, precisa cuidar das consequências disso.

Algos - Livro α - 3ª EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora