4 - Os padrões espiralados

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Eu não sabia ao certo o que falar, se deveria respondê-la ou perguntar o motivo de ela estar aqui. Eu a senti se aproximar de mim a passos calmos e curtos, mas mantive-me inerte, ainda tentando decidir o que deveria fazer em seguida. Busquei todas as memórias antigas de minha mente, da vida pacata que tive na infância e da mulher que me agraciou com a vida, e isso trouxe novamente à tona o motivo de eu estar aqui.

Sim, eu queria viver, não tive coragem de dar fim à vida que me foi dada com tanto esmero, não importava o quão enfadonha pudesse parecer aos meus olhos. Um pouco mais determinada, fitei a mulher enquanto traçava as marcas em meus braços, expondo-as a ela, e a vi analisá-las calmamente.

"Você sabe me dizer o que são essas coisas?" Perguntei com uma voz expectante, ignorando sua pergunta anterior, talvez ela soubesse, havia uma pequena possibilidade.

"Não." Sua voz suave adentrou meus ouvidos, trazendo-me um pouco de regozijo ao escutá-la, mas ao mesmo tempo, senti a frustração me corroendo internamente. "Mas, não consigo evitar querer tocá-las." Seus olhos cravaram-se em meus braços. "Posso?"

Ainda hesitante, assenti, um pouco confusa, observando-a se abaixar para apoiar-se nos joelhos ao meu lado, estender a mão e percorrer as marcas com os dedos, e onde quer que tocassem, eu sentiria uma onda de arrepios difundindo-se pelo meu corpo, fechei os olhos, apreciando os toques prazerosos em minha pele, sinuosa e delicadamente traçando cada centímetro da maldição que me condenava. Então parou, seus dedos se afastaram de mim, e eu abri os olhos para olhá-la novamente.

"Quem é você?" Minha voz saiu trêmula, e repleta de confusão e estranheza. Lembrei-me do sabor de seus lábios e me perguntei como seria a sensação de tocá-los novamente, seria inebriante como na primeira vez?

"Meish, esse é o meu nome. E você é a primeira pessoa que vejo há anos. Estou curiosa, por que você? Não me pareces ambiciosa." O sorriso permanecia pendurado em seu rosto, mas não era suficiente para me acalmar, não enquanto eu ainda sentia o calor de seus toques em meus braços e lábios.

"Acho que não tive escolha." Suspirei em resignação, dando de ombros. "Mas, então, o que você faz aqui? Esse também não parece ser o tipo de lugar ideal para se morar." Eu gostaria de perguntar muitas outras coisas, queria enchê-la de questionamentos e descobrir onde exatamente eu estava, o que eram as órbitas azuis, a sensação aterradora da noite. Mas me contive, senti que havia algo em seu olhar me dizendo que ela era igual a mim, e não me daria todas as informações que eu precisava, não importava quantas perguntas fizesse.

Aprendi muitas coisas durante as minhas viagens, e uma delas era limitar o que falaria para as outras pessoas, cada conversa e interação que tive foram comedidas, e eu sabia que esse pequeno detalhe havia me livrado de muitos inconvenientes.

"Aprisionada." Ela disse simplesmente, poupando-se de fornecer mais detalhes. Se eu a atacasse, poderia forçá-la a falar mais? Não pude deixar de cogitar a possibilidade. "Quando pretende sair daqui?" Meish me encarou diretamente ao questionar-me.

"Preciso encontrar uma coisa antes."

"E o que seria?"

"Eu não sei." Deitei-me sobre as folhas no chão, optando por baixar um pouco a guarda em sua frente, se ela quisesse me machucar, teria o feito enquanto eu estava desmaiada, e de alguma forma, eu não sentia mais dores, isso era um alívio, mesmo que eu tivesse me acostumado à agonia trazida pela maldição. "Ouvi falar que saberia quando chegasse aqui e, bem, acho que ainda não sei."

"Você vai descobrir." Ela disse. Continuei a fitar o teto da caverna, sentindo seu olhar em mim.

"Eu espero." Por fim, me levantei. "Foi você quem me tirou da água?" Perguntei, embora já soubesse a resposta.

Misty (Girl's Love)Where stories live. Discover now