5 - As criaturas da montanha

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"Você vem? Garanto que vai gostar. É refrescante." Assisti-a sair do rio, e se aproximar de mim a passos curtos, o vestido vermelho agarrando-se às suas curvas, destacando cada traço de seu corpo esbelto.

Ela segurou minha mão, atraindo-me para a água. Hesitei, resistindo à sua liderança. Não havia esquecido a dor queimando em meus pulmões, nem o choque da colisão com o meu corpo frágil, tampouco minha luta à procura de ar, lutando para resistir às dores da colisão e das marcas abrasantes. Soltei a mão de Meish, meus pés plantados no chão, recusando-se a segui-la.

Vaguei meu olhar para o horizonte, o sol fúlgido destacava-se em meio às nuvens cinzentas, impressos na superfície azul cristalina que tremulava à brisa suave. Senti meus cabelos balançando-se ao vento tênue e frio. E por um momento, senti uma paz serena, absorta em meus pensamentos enquanto ouvia o agradável som das águas chocando-se contra o solo pedregoso.

Meish me chamou, mas eu não tinha disposição para encará-la, continuei a apreciar a bela vista que que me chamava calorosamente, seduzindo-me para si. Dei um passo em direção ao rio, prendendo a respiração, senti uma leve tontura apoderar-se de mim.

"Fale comigo!" Sua voz tirou-me do transe, e me virei na direção da mulher que me olhava com seriedade. Ela agarrou minha mão novamente. "Você não pode entrar na água sozinha, nem soltar a minha mão. Confie em mim, você não vai gostar do que acontecerá se o fizer. "

Olhei em seus olhos escuros, captando a magnitude da situação, eu havia sido pega desprevenida, os padrões hipnóticos atraíram-me para si, levando-me rapidamente à alheação, o que teria ocorrido quando chegasse ao fundo do rio?

"A propósito, qual o seu nome?" Meish apertou a minha mão firmemente, para que eu não a soltasse tão facilmente.

"Lyna." Por fim, respondi, meus olhos já vidrados na mão pálida e molhada segurando a minha. Mas a palavra que ressoou de meus lábios não me era mais tão familiar, essa foi a primeira vez que eu falei meu verdadeiro nome em sete anos, minha menção a esse nome me fez lembrar da última pessoa que o pronunciou enquanto carinhosamente acariciava minhas bochechas infantis. Meish franziu o cenho, e por um momento pareceu pensativa.

"Lyna". Ela repetiu, como se para si mesma. "É um belo nome, eu gosto." Então, ela me puxou novamente na direção do rio. "Venha comigo, o calor aqui é sufocante, ao menos a água é fria, a sensação de tomar um banho nela é agradável."

Desta vez, segui-a, e a permitir me guiar até que a água encobrisse nossos corpos. Não soltei sua mão no processo, não conseguia imaginar o que poderia acontecer se o fizesse. Lavei meu rosto e deixei a água fria relaxar meus músculos tensos, e acalmar minha mente caótica. Não quis tirar as minhas roupas, não era usual para mim me despir perto de outras pessoas.

Após alguns minutos, Meish me guiou para fora do rio, até que estivéssemos a uma distância segura dele. "Acho que podemos nos despedir aqui." Disse ela, soltando a minha mão. "Você pode seguir para o que quer que esteja procurando. Tenho assuntos inacabados a resolver. Mas, antes que eu vá, devo alertá-la, nunca mais se aproxime deste rio, como já deve ter percebido, estar imersa nele por algum tempo trará efeitos curativos, mas haverá um preço a se pagar. Na próxima vez, eu não estarei aqui para anular os efeitos das águas sobre você. E, esconda-se durante a noite. As criaturas da montanha costumam vagar nesse horário."

Com tal longo discurso, ela me deixou, mostrando-me um último sorriso, não poupando-me um segundo olhar. Não tive o que falar à ela, não havia palavras a serem ditas. Sua presença por si só era intrigante para mim. Seu aparecimento repentino, sua gentileza duvidosa. Eu a vi se afastar lentamente de mim, caminhar em direção ao rio, e sumir em meio às águas. Não ousei olhar por tempo demais, desviando rapidamente os olhos após vê-la mergulhar completamente.

Misty (Girl's Love)Where stories live. Discover now