8 - O brilho cintilante das estrelas

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Algum tempo se passou até que as batidas soassem do lado de fora do quarto.

Tentei me levantar, mas Meish abriu os olhos subitamente e parou meus movimentos, gesticulando para que eu continuasse deitada, e caminhou até a porta e a abriu, recebendo o prato de comida de um funcionário da estalagem, agradeceu e veio até mim com o prato em mãos.

Era sopa de legumes com um pouco de carne, muito comum nas estalagens das periferias, afinal, legumes eram sempre mais baratos.

Não era o prato que eu mais apreciava, mas fazia um bom tempo que eu não comia, e eu não pude evitar devorar rapidamente o que me foi entregue.

Meish me observou comer com um olhar calmo, esperando pacientemente que eu terminasse, e então tomou o prato que eu segurava e o colocou em cima da mesa. Veio até mim em seguida e sentou-se ao meu lado. "Como se sente?"

"Um pouco melhor." Olhei para ela com gratidão, não importava suas intenções, eu deveria estar morta se não fosse por ela, eu sentia que deveria ter morrido naquela noite escura, mas por algum motivo eu a conheci.

Ela assentiu, parecendo aliviada. "Então, precisamos conversar, acho que podemos fazer isso agora. Primeiro, gostaria de avisá-la de que sairemos daqui ainda hoje, ao entardecer." Assenti em concordância, esperando que ela terminasse. "No entanto, antes de sairmos, preciso que você entenda algumas coisas."

Sua expressão estava séria, não havia o mero sinal daquele belo sorriso que sempre estava pendurado em seu rosto.

Ela segurou minha mão. "Existe uma raça de seres inumanos, eles são chamados oxers. Antigamente eles eram numerosos, mas ocorreram alguns desastres e a grande maioria está morta, restando apenas alguns vivos atualmente. São as chamadas criaturas das montanhas sobre as quais falei anteriormente..."

Escutei atentamente as suas palavras, eu não duvidava completamente do que ela dizia, de fato, não era impossível que uma raça antiga ainda estivesse viva em algum lugar do mundo, com as poucas experiências que tive em minha vida curta, não pude evitar a crença de que quase tudo poderia ser possível.
Certa vez, conheci de vista uma necromante, ela não parecia ser uma das mais poderosas, mas era assustadora, estava sempre portando um objeto estranho com o qual parecia conversar, não era algo corriqueiro, mas ocorria.

Realmente, não era impossível. Eu frequentemente trazia à tona em minha mente a lembrança vaga das últimas palavras de minha mãe.

Naquela época, ela estava deitada na cama, o corpo mórbido e apático, e de repente sua mão se estendeu para segurar a minha. 'A maldição.... você precisa acabar...'.

Foram as últimas palavras a saírem de sua boca, eu sentia que ela gostaria de me dizer mais, que escondia muitos segredos de mim, mas não conseguia pensar em nada que ela pudesse estar escondendo.

A única pista que eu tinha era a maldição, eu sabia que o que me atormentava era, de fato, uma maldição, sentia a morte se aproximando de mim, atraída por aquela praga.

"Lyna?" A voz doce me tirou de meu devaneio. Olhei atordoada para Meish. "Você ouviu o que eu disse?"

"Desculpe." Suspirei. "O que você estava dizendo?" Agora foi a vez de ela suspirar, e segurar minhas duas mãos nas suas.

"Você precisa prestar atenção no que eu vou dizer, esta jornada será perigosa. Oxers são perigosos, eles não te causarão danos físicos, mas podem fazer pior, podem destruir a sua mente completamente. O que você viu naquela noite, nas montanhas?"

Olhei para os olhos negros que me fitavam, tentando recuperar as memórias daquele dia. "Eram... olhos, envoltos pelas órbitas de um crânio, eram azuis. Eu não conseguia me mover, e então, de alguma forma, consegui me libertar e, por algum motivo, cheguei até você naquelas águas... Afinal, o que eram aquelas águas?"

Misty (Girl's Love)Where stories live. Discover now