10 - O homem espalhafatoso

9 2 0
                                    

Não demorou muito para que um empregado batesse na porta com o almoço, interrompendo a conversa que estávamos tendo, Meish se afastou para abrir a porta e receber a refeição educadamente, colocando-a na mesa em seguida.

A comida fumegante exalava um cheiro apetitoso, atiçando a fome que me perseguia desde a manhã.
Meish abriu espaço na mesa para que eu me sentasse e sentou ao meu lado.

Comi desesperadamente, enchendo rapidamente o meu estômago faminto. Eu nunca tinha tido uma refeição tão boa quanto aquela, tinha custado caro, eu sabia disso, mas não contestei Meish sobre como ela havia conseguido dinheiro para pagar aquela pousada e a boa comida.

Ela me assistiu comer pacientemente, aguardando que eu terminasse, me fazendo estranhar sua atitude.

Desde que a conheci, nunca a vi comendo nada, nem mesmo bebendo água, era apenas eu quem parecia precisar daquilo. Terminei de comer e me encostei na cadeira, saciada, estava feliz. Fazia bastante tempo que eu não tinha uma refeição tão boa, a carne estava macia e no ponto perfeito, a sobremesa era adocicada e suave ao paladar.

Olhei para o prato vazio e encarei Meish. "Por que você não come quando está comigo?" Arrisquei a pergunta que rondava a minha mente.

Ela ficou pensativa por um tempo, parecendo cogitar a possibilidade de me responder ou desviar de assunto, fitei-a expectantemente, estava curiosa como nunca, como não estaria?

Até a forma como eu a conheci tinha sido estranha, uma mulher aprisionada sob as águas de um lugar distante e misterioso, ela usava roupas elegantes que não pareciam comuns, sua aparência era certamente notável, como se ela fosse um ponto colorido em uma imensidão escura.

E o principal de tudo: ela, por si só, era estranha.

Parecia distante, sua forma de caminhar era única, a forma como movimentava as mãos e como me encarava, seus olhos pareciam conter segredos imensuráveis, a aura que ela emitia era misteriosa e transcendental, era como se ela pudesse descobrir todos os meus segredos e a minha vida apenas olhando-me nos olhos.

Ela mordeu o lábio, decidindo-se. "Eu não sei." Foi o que falou.

Não consegui evitar transparecer minha decepção. “Não sabe o porquê de não comer perto de mim?”

“Não é isso." Ela disse rapidamente. "Eu não preciso comer, descobri isso há bastante tempo. E não sei o porquê, mas a comida humana não é necessária para mim.”

Olhei-a, desconfiada. “E o que você come?”

“Segredo.” Ela piscou.

Tudo bem, eu entendia que estava sendo invasiva demais, mas estava curiosa, queria conhecê-la cada vez mais, de uma forma que nunca quis com ninguém antes.
Respirei fundo e caminhei para a cama.

“Você está com raiva?” Meish pareceu ter entendido mal a minha reação.

“Não.” Aquele ‘não’ saiu curto e grosso. Eu estava um pouco frustrada.

“Algum dia eu conto para você.” Ela prometeu, caminhando até mim e estendendo a mão para acariciar uma mecha do meu cabelo, fechei os olhos para sentir seu toque cálido.

E o assunto foi encerrado, nenhuma de nós falou sobre isso novamente. Em vez disso, voltamos ao tópico sobre a aparência de Meish, ela chamou um empregado, oferecendo mais moedas para que fosse comprar o pó para o rosto e as roupas que eu havia sugerido.

Ela não quis dizer por quê tínhamos que ser discretas, pediu para que eu ficasse no quarto com ela até o anoitecer, quando poderíamos sair sem chamar muita atenção. O que eu tinha dito sobre se destacar havia a afetado de alguma forma, o que a fez ser mais cautelosa.

Misty (Girl's Love)Where stories live. Discover now